quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O MUNDO




O MUNDO


Este dia que eu não queria
Nem uma letra escrever,
A poesia não saía,
E da escrita não queria saber.

Coloquei minhas mãos na cabeça
Pensei, para quê? se nada interessa
Parei no tempo, a vida que me esqueça,
No mundo, vivem todos com pressa.

O mundo tem pressa para acabar
Por isso se vive apressadamente,
Este mundo onde irá parar,
Que acabe, mas não sofregamente,

Cada um vive no seu mundo
Uns mais fechados, outros nem tanto
No seu íntimo bem profundo,
Existem lágrimas, de tantos, corações em pranto.

OH! mundo que choras as lágrimas da guerra
Que no teu pranto há muito jazias,
Dá vida e paz aos homens da terra,
E tu mundo, outro mundo novo construías.

Joana R. Rodrigues 

UMA CAMINHADA




UMA CAMINHADA


Caminho sem nenhum destino certo
Pelas belas ruas da cidade de Lisboa
No meu pensamento nada de concreto 
Apenas caminho completamente à toa

Oiço apenas os meus passos na calçada 
O silêncio é tal que parece um filme de terror
Apenas quero caminhar e não pensar em nada
Para esquecer a minha tristeza a minha dor

De repente ouvi um soluço muito profundo
O som vinha de uma ruela escura e estreita
Acendi o isqueiro e vislumbrei um vagabundo
Que chorava ali chão mesmo à minha direita

Perguntei com suavidade se podia ajudar
Seus olhos cheios de lágrimas fixaram os meus
Tentou com muita dificuldade se levantar
E disse-me sou um pobre abandonado por Deus

Senti no meu coração uma dor nunca sentida
Abracei o mendigo e levei-o na minha caminhada
Disse-lhe amigo nunca mais estarás só na vida
Sem amizade o viver não vale absolutamente nada

Paulo Gomes

ÁFRICA PARA SEMPRE




ÁFRICA PARA SEMPRE


África será sempre a de ontem, de hoje e de amanhã.
A terra virgem e abundante de todo o Mundo talismã,
De onde migraram os homens para outras paragens,
Terra dos meus encantos e muitas e belas paisagens.

Terra onde a minha semente germinou e deu frutos,
Em tempos de vida genuína, de Paz e convivência,
Desfrutando da sua natureza mesclada pelos verdes
Das florestas e azuis do mar e do céu, imponência.

África será para sempre a mesma, nunca abdicará 
Das suas tradições, resistirá a todas as tentativas 
Da globalização, acautelará suas muitas riquezas,
Que pertencem aos seus filhos, suas maravilhas.

Tenho o meu coração em África, fiquei com a alma
Que me dá vida para sobreviver, com a esperança 
De pode juntar-me ao coração que palpita por mim,
Reclamando a minha breve e tão desejada presença.

Ruy Serrano

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

UM CICLO DE VIDA



HOMENAGEM A ANTÓNIO ALEIXO


APOGEU POÉTICO CLÁSSICO - CAUSAS SOCIAIS


Homenagem ao Poeta ANTÓNIO ALEIXO



Não acho maior tortura,
Nem nada mais deprimente,
Que ter de chamar fartura
À fome que a gente sente

António Aleixo

GLOSA


Vivendo à míngua de pão
E olhando pr'ás mãos vazias,
Vejo o passar dos meus dias,
A mostrar satisfação
E a mastigar a razão…
Entre a fome e a amargura,
De levar vida tão dura,
Disfarço as minhas carências
E ao viver das aparências,
Não acho maior tortura!

Ter que fingir, escondendo
Dos outros, o que se passa,
Sorrindo à própria desgraça,
Na côdea que vou roendo
E a definhar me vou vendo,
Quase moribundo e ausente,
Imitando ser valente,
Na fraqueza que me assiste!
Mas não há nada mais triste,
Nem nada mais deprimente…

Do que encobrir a miséria,
Num choro silencioso,
Onde não há sol radioso,
Mas sombra da parca féria,
Que mais parece uma léria,
Gozando co’a desventura,
De ser ‘ma triste figura,
Pois chamar fome e pobreza,
Mais honesto é com certeza,
Que ter de chamar fartura…

Sentado à mesa lamento,
Com as mãos cobrindo o rosto,
A vida agreste, o desgosto,
Que já quase não aguento
Neste triste morrer lento,
Numa alegria aparente,
Ocultando a toda a gente,
Já que a vergonha consome,
Vou-lhe chamando outro nome,
À fome que a gente sente !...

José Manuel Cabrita Neves

TERTÚLIA DE SÃO MARTINHO



TERTÚLIA DE SÃO MARTINHO 


Foi uma tarde animada
A Tertúlia de S. Martinho
Houve castanhas sem nada
E ginjinha só um cheirinho.

Cinco poetas presentes,
De castanhas uma manada,
Todos ficaram contentes
Foi uma tarde animada.

No Teatro, citando Bocage
Naquele poético cantinho,
Prestou ao Santo homenage
A Tertúlia de S. Martinho.

Maria, Adriana, Gracinda 
Frassino e América prendada,
Surpresa que foi bem-vinda, 
Houve castanhas sem nada.

Récita à moda de jograis
Neste Verão bem quentinho
Maria do Canto, e algo mais, 
E ginjinha só um cheirinho.

Passou por ali uma estória,
P´ la lenda dos três irmãos,
Avivou-se assim a memória
Com estes costumes sãos.

Não há crise que se instale
Nem Outono que s´ amorteça
É assim que uma Tertúlia vale
Para que a Poesia aconteça.

Tudo aqui fica enquadrado,
Nesta Tertúlia a valer,
Torga, Pessoa, Saramago
E Bocage p´ ra engrandecer!

Frassino Machado

In AO CORRER DA PENA

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

S. MARTINHO – TROVAS A MARIA DO CANTO




S. MARTINHO – 

TROVAS A MARIA DO CANTO


Homenagem às gentes de

S. Martinho de Sande


Conta uma lenda afamada,
Para as bandas de S. Martinho,
Que uma mulher do povinho
Está na memória gravada.

Seu nome Maria do Canto,
De rosto e alegres feições,
Cantava nos seus serões
Com paciência de santo.

É uma estória pitoresca
A lenda dos quatro irmãos
Fortes e de corpos sãos,
Mas com matéria burlesca.

Maria, naquela aldeia
De largos e rústicos trilhos,
Pariu-se de quatro filhos
Com vida dura bem cheia.

Dizia-se que era castiça
E em todas as suas andanças
Nunca deixava as crianças
Faltar ao domingo à missa.

Eram rapazes ladinos
E difíceis de aturar
E por nada lhes faltar
Deram logo em valdevinos.

O nome Maria do Canto
Vinha do encargo da igreja
Que a todos fazia inveja
Com seus cantares d´ espanto.

Quatro filhos eram demais,
Em todas as obrigações 
Não lhe chegavam os tostões
Para as despesas normais.

Foi tão pesado o madeiro
Que o Deus-criador lhe deu
Ao fim d´ alguns anos morreu
Com pena do povo inteiro.

Pensou lá o senhor Prior:
- Não há aí pai que aguente,
Senhor Zé, mande-os p´ ra gente
Que este passal é maior.

Lado a lado ali cresceram
Com saúde a dar co´ um pau
Mas o destino foi tão mau
P´ la morte do pai que perderam.

O que aprenderam na escola 
Foi o velho jogo do pau
Passando ribeiras a vau
Conforme lhes dava na mola.

Por aquelas redondezas
Todos lhes batiam palmas
E sempre com todas as calmas
Ia dando para as despesas.

Com seus jogos habilidosos,
Chegando a pôr tudo em cacos,
Lucravam alguns patacos
Tornando-se assim famosos.

Foi tão grande o panorama
Que em dia de S. Martinho
Puseram-se cedo ao caminho
Por entre pedras e lama.

Naquela feira de gado
Era tanta, tanta gente,
Que se perderam de repente
E passaram um mau bocado.

O mais novo s´ encontrou
Com uma rapariga gaiata
Que lhe disse com toda a lata
Que por ele se apaixonou.

- Ai, ó meu donzel jeitoso,
Não queres vir namorar?
Cá comigo até fartar
Hás-de ter o maior gozo.

- Senhora minha formosa,
Não sei o que pretendeis,
Quero apenas que me deixeis
Mas tomai lá esta rosa.

- Vou procurar meus irmãos,
Não me quero deles perder,
Esta paixão eu vou esconder 
Deixai-me beijar vossas mãos.

- Vai lá e volta depressa
Encontrar-me-ás com certeza
A feira é grande e tem beleza
Mas a noite já se apressa…

Os seus irmãos doloridos
Foram por ele encontrados
E logo depois, abraçados,
Juraram ficar mais unidos.

Contou aos três a aventura,
Que passou na ocasião,
A história da sua paixão
Por aquela formosa figura.

Pensando estar a brincar,
Naquele estranho fulgor,
Sentiram também o calor
Daquela donzela encontrar.

- Onde a deixaste por agora?
Vamos lá ver se a vemos
Quem sabe todos tentemos
Namorá-la por uma hora.

Assim falou o mais velho
Que por orgulho fez preito
Dizendo que tinha direito
Sem precisar de conselho.

- Ai, és tu, ó pauliteiro,
Onde ficou meu donzel
Que daqui foi a tropel
Chegando tu cá primeiro?

- Sois muito bela, ó meu bem,
Alguns direitos mantenho,
Juntar-me a vós é que eu venho
E não queirais mais ninguém.

- Já qu´ os quatro me quereis,
Apenas um terá sorte,
É o que de vós for mais forte
E logo então me tereis…

Começou debaixo do céu
Um combate de loucuras
Entre as quatro criaturas
P´ ra conseguir tal troféu.

Um após um deu em morto,
Só o mais novo escapou
E ferido se arrastou
P´ la rude encosta do horto.

Foi-se ao Prior confessar
Com tal agrura tamanha
Que depois desta façanha
Acabou por agonizar.

O abade ficou espantado
Daquela tragédia macabra
E ali decidiu que lhe dava
Enterramento e noivado.

Juntou aos três o herói,
E cruz de granito por cima,
Quatro irmãos e uma só estima
Na trágica morte que dói.

À jovem moça sedutora
Num convento a encerrou
E Maria do Canto lhe chamou
Por ser ela a causadora.

E na solidão dos segredos
Daquela agreste montanha
Jaz esta estória tamanha
Debaixo de quatro lajedos.

E em Dia de S. Martinho
Há quem vá àquelas fráguas
Para matar suas mágoas
Bebendo um copo de vinho!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

SÃO MARTINHO `O MILAGREIRO´


Foto de Verónica Marques


SÃO MARTINHO `O MILAGREIRO´


SOL DE PORTUGAL


São Martinho
Que no cavalgar
Investe a espada afiada, populações
Em seu manto, (que não sobejava);
Era a metade precisa p´ra calar
O gemido do pobre mendigo;
Um abençoado abrigo.
Tamanho coração!

Ó nosso aventureiro cavaleiro, 
Espada em punho, 
Cujo descanso luz, o `manto milagreiro´
Multiplicai o castanheiro!

Realidade concreta e sonho mais-que-perfeito,
`Sol´ irradiante, crédulo fenómeno 
Que fez o mundo aprender a girar!
Uma nova vida p´ra caminhar.

Martinho, cavaleiro em profissão,
Virou da noite pró dia santo em vocação.
A religião, novo rumo ao seu alcance, 
Luz que abraçou, sem crer atrás olhar;

Jesus agradeceu a grande dádiva,
O seu calor humano, e o glorificou, 
Um quanto na bênção dos céus: santo...
Santo...trigo do faminto, a multiplicidade;
O salvador da humanidade.
Ó quanto amor! 

Ao único santo não mártir, venerado por todos, 
O título da igreja foi concedido,
P´lo tão grandioso coração.
Ó quanta devoção!

Seu povo o aclamou bispo, santo à humanidade
E São Martinho quase rejeitou.
Ó quanta humildade!

E a tradição, que remonta a antiguidade,
Se fez luz, vida, festa de multidões, 
Na vila de Santarém,
Lá p´los tempos Marquês de Pombal;
Concursos hípicos, real arte equestre, performance.
Uma obra d´arte fenomenal!

São Martinho abençoado,
Que nos dá alegria a rodos!
É vê-los bem montados no cavalo,
Puro-sangue lusitano,
Lá p´los lados da Golegã. Novembro glorificado!

Cavaleiros e belas amazonas
Desfilam os seus trajes a rigor,
À antiga portuguesa,
No picadeiro internacional;
A velha história d´amor, tradicional.

Ó afamada vila de Santarém!
O museu Carlos Relvas 
A igreja de nossa senhora da Conceição,
Terra fértil e lindas as paisagens que tem
As Lezírias do Tejo. 
É a maior de Portugal,
O grande desejo da humanidade.

São Martinho
É o orgulho do povo português!
Um verão soberbo, o magusto,
(Fruto doce a saltar na brasa)
A castanha, qual é tão desejada p´lo freguês!

E o vinho das terras de Portugal,
Água-pé e tantos outros cá da casa;
A tão grande riqueza nacional;
Castas tão cobiçadas! Quanta grandeza 
P´ra regalar os olhos do estrangeiro!
É vê-los, lá na feira do cavalo,
A gargalhar felicidade.

Feira de São Martinho,
Feira da Golegã (a capital do cavalo);
Verão santo, alegria, confraternização,
Amor e devoção.
Que se celebra à boa mesa portuguesa,
Ao sabor do nosso precioso néctar.

Ó quanto orgulho nacional!
A nossa Golegã, terra abençoada;
`Coisas´ raras, uma certa beleza
E tamanha grandeza...
Paraíso universal.

SÃO MARTINHO - MAGUSTO


Foto: Ana Luísa Alvim


SÃO MARTINHO - MAGUSTO


Venha a castanha com o doce aroma
E também água-pé para matar a sede ao Zé!
É São Martinho minha gente e o calor soma,
Pelo verão, há brasas que são uma fé!

Vamos trocar o passo e cavalgar
Até às bandas das Lezírias do Tejo!
Ó mocidade, quantas alegrias o festejo,
Dá um certo gosto ver o povo a engordar!

É castanha a estalar, febra da boa e caldo verde...
Nestes dias não há dieta que resista ao mealheiro
E os cavalos andam à solta pelo picadeiro…
É festa gorda e rija, vila de Santarém, que sede!

E venha a água-pé do Santo milagreiro
Para abençoar os nossos passos, haja amor!
É São Martinho minha gente, centeio do melhor...
Um sagrado caminho, o manjar do estrangeiro!

VERÃO DE SÃO MARTINHO




VERÃO DE SÃO MARTINHO


São Martinho hoje é teu dia
sei porque gostam de ti
transformas a tristeza em alegria
naqueles que vão bebendo, aqui ou ali;

São Martinho dizem os entendedores
vão à adega e provam o vinho,
castanhas sempre nos assadores
para acompanhar, a jeropiga e o tintinho;

São Martinho é muito mais do que isso
foi uma alma bem nobre.
passeava no seu cavalo num passadiço
fazia frio e ele, a sua capa dividiu com um pobre;

São Martinho que vira a chuva, que no pobre caía
ao dividir o manto que o cobria,
a alegria do pobre foi grande, e São Martinho
um milagre fazia;

E assim o milagre aconteceu nesse dia
a chuva parou , e o sol apareceu,
sempre ficou na memória de muitos
do verão de São Martinho , em que o sol
não se esquece, e uns dias antes ou depois
o verão de São Martinho aparece.

Joana R. Rodrigues

SÃO MARTINHO VINHO NOVO




SÃO MARTINHO VINHO NOVO 


Esta quadra ensolarada
A que se chama Verão
É uma quadra memorada 
De carisma e tradição.

Acabadas as colheitas
É preciso fazer contas
E, se estiverem direitas,
Não se receiam afrontas.

Estão cheios como um ovo
Os baús de toda a gente
São Martinho e vinho novo
Já cá cantam à nossa frente.

Nas eiras não se vê grão
Pois este sol já não chega
Porém atestadas estão
Todas as pipas na adega.

Não há tarefas estranhas
E nem há tempo a perder
Venham lá essas castanhas 
Para todo a malta comer.

Seja tinto, seja branco,
Sejam cosidas ou assadas,
O convívio é sempre franco
Até às altas madrugadas.

O Outono acorda tristonho
E às vezes chove miudinho
Mas o espírito fica risonho
Com uma caneca de vinho.

São Martinho está presente
Interessado na sua festa
A alma fica mais quente
E a alegria se manifesta.

Não há Crise que se mantenha
Nem tristeza que o impeça
Venha lá farra e mais venha
Para que a vida engrandeça!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

DIA DE SÃO MARTINHO




DIA DE SÃO MARTINHO 


No dia de São Martinho 
Pomos as castanhas a assar
Provamos o novo vinho
Analisamos o seu paladar

No dia de São Martinho 
Enchemos a casa de amigos 
Convivemos com carinho 
Comendo castanhas e figos 

No dia de São Martinho 
É como um dia de Verão 
Não precisamos de vinho 
Para nos aquecer o coração 

Mas neste dia de São Martinho 
Irá ser um dia totalmente diferente 
Vou escrever um poema com sabor a vinho 
Para ficar nos vossos corações para sempre 

Paulo Gomes 

SÃO MARTINHO -`O MILAGRE DA NATUREZA´




SÃO MARTINHO

`O MILAGRE DA NATUREZA´


Ó castanha que dás tão rico alimento!
És o precioso fruto do castanheiro;
Cobiçada por tantos, sobejas cheiro;
Alegria a rodo, um manjar de vida!

Tua vez é o pão que não há;
Tua fonte é o ouriço, que milagre!
Tua semente é nutriente, o mais rico que há;
Vitamina e potássio, o essencial à vida.

Ó fruto real de abadias, monumento
Que adornas as mesas do momento!
O milagre da natureza que se cresce,
Princesa do inverno que nos aquece!

Teu santo de devoção é cavaleiro de religião,
O São Martinho pelo povo mui venerado.
Ó quanto calor à humanidade doado!
`Manto sagrado’, santo coração!

E, neste foliar de palavras digo que o amor 
É a coisa mais linda e rara que há;
E, hoje é dia de festa e mui calor,
Há que viver em pleno o que a estação nos dá!

E, há fogueiras bem ateadas
Para castanha e demais assar
E o sol lés a lés, que pasmar!
Ah, quão belas `passeatas´!

É o afamado verão de São Martinho!
Vou-os deixar com carinho,
Pois, a grande festa do cavaleiro
Me espera, para saudar o companheiro.

E, lá vou eu até à Golegã ver o maravilhoso
Espetáculo de sangue Lusitano;
Universo magnânimo e mui vistoso;
É cavalo de boa raça, único e puritano!

A não perder, venham ver para crer!
E, neste meu crer, que não poderá deixar de ser,
A água-pé beber até mais não poder!
Pois, este meu ver é sol que há em mim a crescer;

Qual não deixa apodrecer a mais velha tradição!
E, vou nela até aos confins d' alma e coração;
E, tão gulosa que sou pela castanha nacional,
Tanto faz se é cozida ou assada! A festa é internacional!

Tanto se me dá se é branco ou preto,
Pode ser verde ou até palheto;
O que importa é seu brilho perfeito;
Haja sol hoje e sempre!

Não sei se comovo, pois, outros tempos são 
Aqui em Portugal! Tentei dividir a palavra do coração
Convosco, para manter a tradição,
Em uso à humanidade, sempre.

Despeçais-vos do verão, saudeis o outono,
Brindeis ao inverno com vinho ou água-pé, néctar divino;
Sejais o orgulho do nosso hino!
E, é neste borbulhar que há primavera pelo ano.

Saudai-vos, é a glória e salvação 
Sejais santos princípios na extensão da palavra à nação!
A vida é a gigantesca surpresa
E vós sois `o milagre da natureza´.

HÁ UMA ARMA DE DESTRUIÇÃO MASSIVA: FOME




Há uma arma de destruição massiva que está sendo usada todos os dias, em todo o mundo, sem que seja preciso o pretexto da guerra: essa arma chama-se fome.

domingo, 8 de novembro de 2015

TÃO POUCO FICOU




“ TÃO POUCO FICOU “


Foram tantos sonhos, tantas ilusões,
Repasto de vida, mas tudo mudou,
Fogueira viril fumegando paixões,
Mil sonhos de Abril e já tudo acabou.

Nas verdes campinas eu vi alazões,
Hoje vejo ruinas, foi o que ficou,
Os restos do nada, covil de leões,
Que a farsa farsada tão só nos deixou.

Ninguém se levanta do chão nesta terra,
Quebraram-se as armas, acabou a guerra,
Tudo está cingido à lei do mais forte.

Há sombras perdidas de alguns gambuzinos
Na terra dos sonhos, hoje tão pequeninos,
Os homens morreram sem ter outra sorte.

Abílio Ferradeira de Brito

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

DÚVIDAS EXISTENCIAIS DE ANTERO DE QUENTAL



Antero Tarquínio de Quental (Ponta Delgada, 18 de abril de 1842 — Ponta Delgada, 11 de setembro de 1891) foi um escritor e poeta português do século XIX que teve um papel importante no movimento da Geração de 70


Toda a humanidade se questiona constantemente. Questiona-se quanto aos mistérios do universo. Questiona-se quanto às origens da vida. Enfim, vive perguntando PORQUÊ?
Também o poeta Antero de Quental não foi excepção; apesar da sua grande capacidade mental e conhecimento, pautou a sua vida numa busca constante de respostas às suas inquietações sobre as capacidades e atitudes divinas.
Entende-se nalguns poemas seus uma quase assumpção da figura de Ateu mas sempre expectante que surgisse uma luz a contrariar as suas ideias.
Morreu sem ver esclarecidas as suas dúvidas existenciais.
Dedico-lhe dois sonetos que pretendem reflectir a sua luta interior de um sentimento constante de desacreditar nos valores que a sociedade lhe transmitia.

DÚVIDAS EXISTENCIAIS 

DE ANTERO DE QUENTAL


Eterno insatisfeito m’interrogo,
Deixando que a ciência me responda,
Tudo o que ela saiba e nada esconda,
Que seja desta mente o desafogo!

Se a terra é achatada ou é redonda?
Se as origens são como eu advogo?
Onde todo este chão já foi um fogo,
E hoje é vegetação e é mar e é onda…

Que pela evolução seja explicada,
Toda a forma de vida anunciada
Sem a intervenção de algo divino!

É esta ansiedade que me aflige,
O querer ter razão que a mente exige
E me traz em constante desatino…

 José Manuel Cabrita Neves


DÚVIDAS EXISTENCIAIS 

DE ANTERO DE QUENTAL (II)


Duvidosa existência no meu crer,
Serás talvez apenas invenção…
Alguém justificando a criação,
Te deu, numa palavra, a conhecer!

És a paz, o amor, és o perdão,
Sempre solicitado a interceder,
Porém como ninguém te pode ver,
Simplificando, és imaginação!

Sentindo precisar de um salvador,
A quem possa pedir algum favor,
Criou a humanidade essa figura!

Não pode assim o homem recorrer,
A essa divindade, sem esquecer,
Que é o seu pensamento a criatura!...

José Manuel Cabrita Neves

AS CORES DO OUTONO




AS CORES DO OUTONO 


Nada se apega tanto às cores da calma
Como estas do Outono, as cores da alma;
Nada se assemelha tanto à Poesia
Como as cores naturais da nostalgia.

Cada árvore se reveste e se conserva
Das mesmas cores que lhe dão reserva;
Sem que Nietzshe precise d´observar
No próprio Outono a cor se revelar.

Cada cor outonal, qual sentimento
Movendo-se na brisa ou no vento,
Assume em ricos tons a qualidade
Que traz ao reviver a irmã saudade.

Está na dança das folhas a emoção
Do entranhado choro de solidão
Que as lágrimas conduzem ao vazio
Daquele arfar dum sonho em corrupio.

- Ó cores, ó Natureza, ó minha tela,
Sois o meu chamamento em voz singela!

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

terça-feira, 3 de novembro de 2015

MUDAM-SE OS TEMPOS




MUDAM-SE OS TEMPOS


Estamos a meio de uma tarde chuvosa
Sem brilho sem graça,
Árvores baloiçam que tarde ventosa
Não se ouvem os pássaros pousarem na praça

Mas eis que de repente mudaram os ventos
E as árvores rodopiaram, tremeram de medo,
Tudo mudou até os tempos,
E mudou aquela praça, cheia de arvoredo

Hoje quase abandonada com vestígios sombrios
Onde casais de namorados se encontravam,
Raparigas passeavam, ouvindo piropos e assobios
Era assim publicamente que se enamoravam,

Praças de lindos bancos, e alinhados jardins,
Árvores com belas sombras de verão,
Hoje não são praças nem jardins,
Mas moradas de sem/abrigo pessoas e seus afins
Que viram seu mundo cair, desmoronado no chão.

Joana R. Rodrigues 

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

MEU CORAÇÃO-PÁSSARO


Imagem - Google


MEU CORAÇÃO-PÁSSARO

“Aos sonhadores aventureiros”


Quando olho o céu em todo o seu esplendor
Sinto dentro de mim um arrepio
Mas, quando venho a mim, sou desafio
Que faz daquele dourado a minha cor.

Meu coração de pássaro vibrante
Das selvagens algemas libertado
Quer voar nesta hora resgatado
Na ânsia de um sonhar itinerante.

(Já fui uma andorinha e fui pardal,
E já fui cotovia e rouxinol,
E ao ver das penas minhas largo rol
Fiz jura que voarei do pantanal.)

Observo à minha volta com ardor
A galáxia dos astros que recrio
E na minh´ alma s´ abre um claro brio
De que há nela uma luz do Criador…

O círculo que me toca vai no vento, 
Puxado a sol, ao frio ou ao calor,
Mas só podendo voar como um condor
Chegarei mais depressa ao Firmamento!

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

LISBOA CIDADE MÁGICA


Imagem - Lisboa - Portugal


LISBOA CIDADE MÁGICA


Esta cidade que eu amo é Lisboa,
Não há outra igual,
Lisboa é a capital
Mais mágica de todas as outras.
Foi o primeiro amor de adolescente,
Nunca mais a esqueci,
Por ela muito eu sofri,
Quando tive de regressar a África,
Passei por grande ressaca.

Lisboa é um mosaico muito variado,
Composto pelo Espelho do Tejo,
Pelo multifacetado casario,
Pelas colinas e miradouros,
Pelo castelo dos mouros,
Por ruelas e travessas,
Por ruas e escadarias,
Por belezas encobertas,
Quadro pintado de muitas maravilhas.

Ruy Serrano 

domingo, 1 de novembro de 2015

N O V E M B R O


Imagem - Lo Charme è un nodo da stringere con stile 


N O V E M B R O


N ovembro tem pitada de misticismo e largo coração,
O tal décimo primeiro mês do ano!
V erão de S. Martinho trajado de tradição,
E ntre chuvas e ventos há fogueiras ateadas,

M aré alta, trovoadas de castanhas assadas;

B élicas parreiras que esparralham seu frutos
R otulando a terra de safra diva, néctar de novo ano.
O lvidai os maus presságios e colhei estes belos frutos!

® RÓ MAR