terça-feira, 21 de março de 2023

QUADRAS | SANTOS POPULARES




DESAFIO POÉTICO: "JUNHO | QUADRAS POPULARES"





FORÇA DA TRADIÇÃO


Santo António, és o primeiro
Dos três santos populares
És o santo casamenteiro
Que alegra os nossos lares

Tens tal fama no teu dia
Que toda a bela cachopa
Só pensa com alegria
Em queimar uma alcachofra

Santo António, Santo António
Dá me um arco e um balão
Santo António, Santo António
Vem prender meu coração

Santo António, Santo António
Vem saltar uma fogueira
Santo António, Santo António
Vem brincar a noite inteira

Rapazes e raparigas
Dancem e cantem sem parar
As vossas belas cantigas
Para toda a gente alegrar

Cada marcha que aqui passa
É um bairro e um pregão
Que enfeita e dá graça
E mais força à tradição

Santo António, Santo António
Dá-me um arco e um balão
Santo António, Santo António
Vem prender meu coração

Santo António, Santo António
Vem saltar uma fogueira
Santo António, Santo António
Vem brincar a noite inteira

Esta Lisboa velhinha
Que de ti se enamorou
Fizeste dela a rainha
Que o povo acarinhou

Vosso par ficou eterno
E durante o mês de Junho
Renasce um amor mais terno
Nessas noites como um sonho

© ARIEH NATSAC




AOS SANTOS POPULARES



Chegado o mês de Junho
Há alegria nos olhares
E quadras que rascunho
Aos Santos populares.

Nas ruas há animação
E não faltam manjericos
P'ra entoar no coração
A música dos bailaricos!

António de Lisboa,
Meu Santo milagroso,
Casai a rapariga boa
Com um moço bondoso!

São João, lá do Porto,
Trazei-nos vinho prá boda
E verão p'ra conforto
Do luar de roda em roda!

E, cansados de dançar
Que nos valha São Pedro
Para a fogueira saltar
Até à sombra do cedro!

A chave, entre o arvoredo,
Duma casa caiada
De branco, de manhã cedo,
Para ser nossa morada.

Nas casinhas há harmonia
E não faltam manjericos
P'ra dar à janela poesia
De cheirinho a namoricos!

No fim do mês de Junho
Há alegria nos olhares
E quadras que rascunho
Aos Santos populares.

© Ró Mar




“Festas Populares 2022”


Mês de junho, mês do povo,
Mês dos Santos Populares,
Pelas ruas nada de novo
Muito menos nos altares.

Cascatas de Santo António
Enfeitadas com balões
Manjericos património
E uma cesta prós tostões.

Santo António e São João
Com brincadeiras finas
Vão jogando de mão em mão
Coloridas serpentinas.

Não acha graça São Pedro
Aos alhos-porros famosos
Mas guarda-os em segredo
Dos olhares cobiçosos.

Festas Populares são assim
Singelas e sem intrigas
Que o diga o Benjamim
Sempre atrás das raparigas…

Com sardinhas ou bifanas
Todos querem petiscar
Há tintol prás carraspanas
E caldo-verde a fumegar.

Mês de junho, mês do povo,
Mês pequeno, mas com graça,
Todos gozam, sem estorvo
Pelas ruas, em cada praça.

Mês do povo, mês de junho,
Mês de todas as primícias,
Boas-Festas, testemunho
Coisas belas, oh delícias!

© Frassino Machado




LISBOA PRIMEIRA


Na noite de Santo António
Nas escadas, nas vielas;
Pressente-se matrimónio,
Nos olhos, nas piscadelas.

Belo é ver remexer
Se alusão ao namorico;
Há cartãozinho a benzer
No cimo dum manjerico.

No pão, assadinha sardinha
Pede depois de bailar;
Que sirvam boa pinguinha,
Num copo pra acompanhar.

Lisboa é a primeira
Dos Santos na tradição.
Pra que pronta a sementeira,
Segue os Stos Pedro e João.

© RAADOMINGOS




Santos populares


Santo António, São João
Protegei-lhe por favor
A bem do meu coração
Os passos do meu amor

Pelos bairros a saltar
Toda a noite e mais meu bem
Fartei-me de o beijar
Ele beijou-me também

Que boa rusga fizemos
De mãos dadas a correr
O festival que nós demos
Todos o quiseram ver

A nossa alma salta e canta
Nas rusgas do São João
Cada cantinho encanta
Canta o nosso coração

© Custódio Montes




MARCHAS…


Lá vai Lisboa a marchar
Com fatos de multicores
Andam no ar mil odores
Cheira a santo popular

Desfila-se na avenida
Soam cânticos p’los ares
Todos ligeiros os pares
Felizes da sua vida

Cada bairro faz figura
P’ra manter a tradição
Com amor no coração
Desta gente humilde e pura

Rapazes e raparigas
Mostram todo o seu valor
Na beleza no esplendor
Na garra de umas cantigas

Vem p’ra rua toda a gente
Também gostam os turistas
Acompanham os bairristas
De uma maneira diferente

Desde Alfama à Madragoa
Do Bairro Alto a Benfica
Mas em casa ninguém fica
Para ver passar Lisboa

No dia treze de junho
Santo António dá-lhe a mão
Como manda a tradição
Passando-lhe o testemunho

Marchas já há este ano
Covid tudo mudou
O povo não desfilou
Naquele passeio urbano

Nossa prisão foi marcando
Lisboa perdeu a cor
Deixando um rasto de dor
Pandemia desfilando

Santo António nos libertou
Temos de volta a cidade!
Deu-nos nossa liberdade
Solidão em nós acabou.

© ARIEH NATSAC



 

HÁ NOVAS MARCHAS NAS RUAS


Já te vestiram de tudo,
O teu pranto cantaram.
És generosa pra estudo,
Tanto em ti se inspiraram.

Já te calçaram chinelas,
Sapato fino, outros mais...
Nas pernas tuas canelas,
Te adornam pros arraiais.

Na ligeireza do passo,
Deixas os olhos pousar.
É deles o teu compasso;
Sua, a tua verve amar.

Na esbelta cintura dedos,
Decifram a tessitura.
Qual a fase nos segredos,
Quando pronta a partitura.

Nesse doce encantamento,
Santo António fez das suas.
É claro o enamoramento,
Há novas marchas nas ruas.

© RAADOMINGOS

 
 
 

COSTUME DE LISBOA


Varinas tem no andar
Manjericos na lapela
Vai Lisboa namorar
No mais lindo barco à vela

Remam asas de gaivota
Flutua nos braços do Tejo
Levando o cheiro da lota
A brisa manda-lhe um beijo

Junto ao cais a baloiçar
Tem costume de adormecer
Vê Santo António bailar
As suas sete colinas
As suas lindas meninas
Que o estão a proteger

Durante a noite o luar
É o seu lençol de espuma
Que a sabe alindar
Como se fosse uma pluma

Ele contente e feliz
Sonha com a sua história
E quando passa bem diz
Seu orgulho de vitória

© ARIEH NATSAC



      

TRONOS DE SANTO ANTÓNIO


Lisboa tem tradição
Pelas ruas e vielas
O cheiro a manjericão
E das sardinhas capelas;

Há grinaldas de flores,
Lanternas, balões e mais
Feitos de papel de cores
Garridas prós arraiais.

Lisboa tem património
Pelas montras e janelas
Tronos de Santo António
Chamariz prá ginga delas;

Há caldo verde, bifanas
Chouriço assado e vinho
Que engorda as trezenas
Do seu Santo Antoninho.

Lisboa menina do Tejo,
Sete saias a marchar,
Lava as vistas no cortejo
A António e vê-se casar;

Há andores e tambores,
Seda e chita colorida
P'ra conquistar amores
E saudade à despedida.

Lisboa tem arte e oficio
Pelos bairros típicos,
O fado honra o solstício
De verão com namoricos;

Há alegria e multidões
Pelos Santos populares
E Amália nas canções
A avistar todos os altares.

© Ró Mar


 


UMA MARCHA PARA ALCÂNTARA


Alcântara passas brejeira
De mansinho a dar ao pé
Saltas em qualquer fogueira
Mostrando um ar sem ralé

Vais formosa como sempre
Aqui ninguém te segura
Vens dizer a toda a gente
Que não há gente mais pura

Vives junto à beira-mar
Com os pés assentes na terra
Com seus modos de encantar
Passas a vida a cantar
O que a tua beleza encerra

Nem Camões foi esquecido
Tem aqui a sua rua
Neste bairro onde é merecido
E os Lusíadas sempre ouvido
Na boca de qualquer pessoa

Teve a rainha do fado
D.ª Amália foi a dilecta
Cantou-o por todo lado
De uma forma bem discreta

Alcântara é um rosário
De penas por desfiar
É tão grande o seu Calvário
Que o foram lá deixar

Vives junto à beira-mar
Com os pés assentes na terra
Com seus modos de encantar
Passa a vida a cantar
O que a tua beleza encerra

Nem Camões foi esquecido
Tem aqui a sua rua
Neste bairro onde é merecido
E os Lusíadas sempre ouvido
Na boca de qualquer pessoa

Tens a ponte sobre ti
E toda a gente que passa
Olha do alto e sorri
Extasiada com a tua graça

Passam para lá do Tejo
 Com Santo Amaro a vê-los
Lançando-lhes um terno beijo
Para sempre protegê-los.

© ARIEH NATSAC
 
 


JUNHO É LISBOA EM FESTA


Junho é Lisboa em festa,
Santo António vai á Sé
E ao município, nesta
Maravilhosa tournée;

Após o matrimónio
Desfilam pela Avenida
As noivas de Stº António
E as Marchas dão-lhe vida!

Noite de Santo António
Leva Lisboa ao céu
Compõe o aniversário
Do padroeiro a tropel!

Amália é mote forte
E os bairros badalam
E marcham a sua sorte
A ver o que conquistam!

O júri é soberano
E a mais linda da Avenida
Vai ser coroada este ano
E por todos acolhida!

Noite longa e calorosa
Que abre as portas ao verão
Com muita música e prosa
Ao luar do manjericão.

Junho é Lisboa em festa,
Santo António é a Fé
E com alegria nesta
Vai de chinela no pé!

© Ró Mar




QUERO VER VIVA LISBOA…


Quero ver viva Lisboa
De Alfama à Madragoa
Bem juntinha à beira rio
Mostrar-se fresca e ladina
No seu porte de menina
Que lá no alto surgiu

Tem as honras de rainha
De um castelo foi madrinha
E de um povo que bem lhe quer
Por ser nobre e azougada
Para a farra foi fadada
Vai numa marcha qualquer

Tem seu santo padroeiro
Que o nosso rei primeiro
Quis que fosse S. Vicente
Quando conquistou Lisboa
Embora muita gente boa
Tem Santo António em mente

É santo mais popular
Põe o povo a cantar
É também casamenteiro
Dá mais brilho à cidade
Festeja-se em liberdade
E Lisboa tem outro cheiro.

© ARIEH NATSAC




Autores: ARIEH NATSAC,  Custódio Montes, Frassino Machado, 
RAADOMINGOS e Ró Mar

 

Ilustração: Fotografia © Ró Mar | 2022

quarta-feira, 1 de junho de 2022

A CRIANÇA QUE FUI




A criança que fui


Eu sou aquela que já foi criança
De cabelos ao vento, numa trança
Aquela que de sonhos se enfeitava
Menina doce, terna, que sonhava.

E visto-me de estrelas diamante
Vivo o momento breve do instante
Que a felicidade pode escurecer.
Saio para a rua. Vou viver!

Mas quando me procura o sentimento
Sou saudade, sou dor e lamento
Sou talvez barquinho a navegar.

E em cada dia, em qualquer momento
Eu paro e regresso atrás no tempo
Para ver aquela criança passar.

© Madalena Santos

MENINO PASTOR

 


MENINO PASTOR


Menino do alto da serra,
Pastoreia rebanho com muitos nomes
Mas, porém, todos conhece…
Como se da sua família fosse

Joga com ele a sua meninice
Azougada com balidos saltitantes
Entre ervas daninhas que bailam ao vento
Num sustento que dá vida à vida

Menino que cresce sem escola
Mas é o primeiro a chegar ao seu ensino
Sem livros cadernos sem bola
Mas ele tudo aprende para ser mestre

Olhos atentos ao que se passa em redor
Ajudado pelos pássaros que o desafiam
E o ajudam nos perigos
Que não vêm nos livros
Nem são precisos artigos
Que aprende na escola da vida

Menino que vai crescendo
Faz-se homem por vezes rude
Mas com coração meigo e doce

Que abraça um cordeiro nascido
E o transporta como se fosse um filho
Pelo seu amor parido

Menino homem cheio de rugas
De cajado feito bengala
Curvado pelos anos da vida
Mas atento aos seus meninos
Que em balidos o embala

Compreendem a sua linguagem
E o rodeiam meigamente
Para que não se sinta sozinho
No seu caminho… traçado cruelmente.

© ARIEH NATSAC

SONETOS DO MENINO




SONETOS DO MENINO


Soneto I

O menino não sabe
que em torno do jardim
existia uma só sebe
toda feita em alecrim

aonde um rosal havia
com rosas de todas as cores
e a alfazema competia
com o cheiro dos amores.

O menino não sabe
que para haver a sebe
foi preciso trabalhar

os canteiros floridos
aonde todos os sorrisos
são a terra por lavrar

*

Soneto II

O menino não sabe
da terra outrora quinta
tão macia e tão leve
em memória que a sinta

uma imagem que seja
sempre que os olhos fechar
no colo que o aconchega
ao sair e ao chegar

o menino não sabe
que o campo estava verde
quando as entranhas lhe abriram

para nele construir a casa aonde mora
as ruas e avenidas e o mais que há lá fora.
Só os canteiros floriram.

*

Soneto III

O menino adormeceu
a um canto que ali estava
só porque o sono lhe deu
e o cão já não ladrava.

A seu lado se deitou
com um só olho aberto
a mãozinha lhe lambeu
não fosse ele estar desperto.

O menino acordou
quando na fralda mijou
e o cão ao rabo a dar

ladrando por sua mãe
que a correr logo vem
e o menino vai mudar.

*

Soneto IV

É o dia do meu menino,
comemora aniversário,
continua tão pequenino,
... no meu colo solidário,

cheio de amor e alegria
em cada afago recebido,
o aconchego de cada dia,
em cada olhar, em cada sorriso.

Com uma alegria imensa
e de forma tão intensa
feita vida; feita sonho;

feita de feitos concretizados;
os dissabores ultrapassados;
feitos frutos do medronho.

© António Fernandes

FORÇA, MENINO!



sexta-feira, 29 de abril de 2022

"ABRIL | AMENDOEIRA"




DESAFIO POÉTICO: "ABRIL | AMENDOEIRA"


*

AMENDOEIRA EM VERSO


Primavera chuvosa tem outra vida,
Abril regado, Páscoa abençoada
Pela família, alma alva, renascida,
Mimo da natureza, Flor venturosa.

A timidez do Sol declara paixão,
Que promete ser grandioso amor,
Lê-se nas faces rubras dum coração
De sorriso rasgado, libertador!

Os dias crescem no leito, que cochila
Naquele olhar campestre, níveo-rosa
Desfilando em romaria até à Vila!

Vento frutífero, árvore frondosa,
Celestial, devaneio da pupila,
Amendoeira em verso, maré de prosa!

© Ró Mar 

*

EM ABRIL É PRIMAVERA


Em Abril é primavera
Jorram águas p’los montes
É espera noutra espera
Valha-nos Deus quem me dera
Ver uns novos horizontes

Com flores de amendoeira
A lembrar gelo passado
Mas quebrou-se a rotineira
De ver tanta pasmaceira
Ai jesus seja louvado.

Quem cava a terra seus chãos
Vai abaixo, vem acima
Tem na ideia um irmão
Que nem sempre tem razão
Semente que não germina

É como flor tão bravia
Que no agreste se entrega
Gestação fraca e tardia
Que seu caminho arrepia
Ousado e muito brega

Contra o tempo é resistente
Suporta uma mascarilha
Leva tudo no batente
Rasteja como serpente
Vai num barco sem ter quilha

Sempre tão bem perfilado
É um homem indefeso
Vai sentir-se apavorado
Quando cair para o lado
Numa teia fica preso

Nunca se dá por vencido
Faz lembrar um gajeiro
Passa ao lado sem sentido
Mesmo sendo preterido
Julga-se ser o primeiro.

© ARIEH NATSAC

*


© Lúcia Ribeiro 

*

SE A PAZ SE FOI EMBORA


Já não sabem onde moram, e já perderam o norte
É tão grande o desnorte, que de vergonha até choram
Entregues à sua sorte
Os meses estão a passar, os anos já vão pesando
De tudo se estão a fartar, já perderam o comando
Para se orientarem
No calendário do tempo, se foi o mês de Abril
Só lhes resta o lamento, que lançam a mais de mil
Nas desfolhadas do vento
Capitães lançaram chamas, num mar de tempestade
Apagaram-se com a idade, e em lágrimas se derramam
Como símbolo da saudade
Se a paz se foi embora, saiu pela porta fora
Procurando novos caminhos, sem saber se a encontram
Pisando tantos espinhos
As casas estão fechadas, e as janelas tristonhas
Amendoeiras estão desfolhadas, parecem coisas medonhas
São verduras assombradas
Filhos se desconhecem, foram levados para longe
Pensam que adormeceram, no silêncio amanhecem
E do país se perderam
Ai como tudo é diferente, até perderam o falar
Andam à toa sem verem gente, para um sorriso lhes dar
Vão vegetando tão lentamente
Que se sentem a delirar.

© ARIEH NATSAC

*

A VIDA


A vida tem pressa.
Nessa sofreguidão sucedem-se abris!
A compasso, desponta impaciente a amendoeira.
Pergunto-me porquê a urgência?
O meu abril longínquo ensinou-me que não há que a precipitar;
O futuro se encarregará de a devolver!

© Rosa A. Domingos

 *

CALEM-SE…


Calem-se todos. Menos aves e as fontes
Que soprem os ventos nas florestas
Vejamos límpidos horizontes
Façamos na vida muitas festas

Calem-se as vozes dos algozes
Que atiram palavras como metralha
Levantem-se nas marés cascas de nozes
Afundem-se os vapores da escumalha

Calem-se os cães que usam gravata
No canil onde escolhem osso
Indo procurar ao fundo de muita lata
Quando rosnam põem tudo em alvoroço

Calem-se os arautos da pouca sorte
Da seara seca e sem trigo
Num ondular sem verde que é suporte
Sem voltarmos ao tempo antigo

Calem-se os profetas que sabem tudo
Que a hora vai passando lentamente
Onde os minutos são apenas escudo
Um pano quente

Calem-se os amigos do bolso alheio
Vivendo no mundo em comunhão
Montados num cavalo sem freio
E mais tarde ou cedo vão ao chão

Calem-se os de abril sem ver ABRIL,
Que vivem num mundo estrangulado
Continuam construindo o seu canil
Ladrando num atoleiro amotinado

Calem-se os outros que vão ao fundo
Procurando meios hábeis e subtis
Abrindo cicatrizes no seu mundo
Vincadas nas mazelas sem verniz

Calem-se os diabos e os santos
Leem todos na mesma cartilha
Embora AMENDOEIRAS sejam cantos
Esqueçam o missal e a forquilha

Calem-se Adamastores inda presentes
Façam-se ao mar como Bartolomeu Dias
Neste mar com novas correntes
Acalmar novas tormentas, sem orgias

Calem-se os bruxos e os fariseus
Não queiram dar cabo do que louvo
Não escondam vozes livres entre véus
Com rezas que atrofiem mais o povo

Calem-se os medos e as preguiças
De avançar sem ter destino
Descolem-se as coisas pegadiças
Façamos da atitude nosso hino.

© ARIEH NATSAC

*

ABRIL TEM MIL E UMA FLORES


Abril tem mil e uma flores
E um brilho no luar,
Que acorda Lisboa e arredores
Em cravos multicolores
Daquele perfume impar!

Tem amendoeiras com flores
Rosas e brancas no olhar
E um coração de amores,
Que é delicia de escritores
De pena fina p'ra voar!

© Ró Mar 

*

DUAS CORES NOVA HISTÓRIA…


Amendoeira flor branca
De pureza sem igual
De um mês foi alavanca
Do abril em Portugal

Mas foram cravos as flores
Que foram flores do povo
Libertou as suas dores
Num despertar que foi novo

Amendoeiras flores da paz
Num abril, criou raiz
Com a força de ser capaz
De mudar e ser feliz

Gente gritou bem alto
Tirou algemas do medo
Foi neste dia o arauto
Nova história outro enredo.

© ARIEH NATSAC

*

NO MEU PAIS PRESENTE…


Fiz um castelo no ar
Com ameias cor de vento
Cantei versos ao luar
Com estrelas de embalamento

Tive princesas errantes
Tendo as mãos cor de rosa
Seus olhos eram brilhantes
Suas bocas eram prosa

Suspiros de fim de tarde
Na ponta do fim do mundo
Na lonjura que ainda arde
Num terreno que fecundo

Tendo os gemidos na voz
Horas vivas com o cio
Caverna de um tempo algoz
Onde desagua um rio

São pedras que não atiro
Nos meus jogos florais
Reserva como retiro
Que me esconde nos seus ais

Seca meu pranto de neve
Amendoeira que aflora
Pesadelo que nos deve
Deixar ir, e sem demora

A noite faz ponto cruz
Dum novelo feito lua
Carne ardente de luz
Toalha que apazigua

No meu castelo incendeio
A corrente que me agarra
Um abraço onde permeio
A escassez em que se amarra

Minha amiga, minha flor
Terraço onde não caio
Soltei pássaros de dor
Com passos de abril e maio. 

© ARIEH NATSAC

*

"ABRIL | AMENDOEIRA"
Autores: ARIEH NATSAC, Lúcia Ribeiro,
Ró Mar e Rosa A. Domingos


*

Sonetos do Universo | Abril de 2022