domingo, 31 de outubro de 2021

A CHUVA E O VENTO




A CHUVA E O VENTO 
“Festa de Todos-os-Santos”


Com este sol envergonhado
Segue instável este outono
Chuva e vento inesperado
Tempo lento e sem dono.

Eis à vista Todos-os-Santos
Em qualquer terra ou povoado
Vão-se embora os encantos
Com este sol envergonhado.

Está difícil prás colheitas
Sob o risco de abandono
Sendo propício às maleitas
Segue instável este outono.

O tempo não está pra amigos
Muito incerto e emaranhado
Com uvas, castanhas e figos,
Chuva e vento inesperado.

Já não há Festas de arromba
Mas quintais ao abandono,
Com nostalgia pela sombra
Tempo lento e sem dono.

“Santos” nem é bom lembrar,
Andam nas ruas da amargura;
Halloween está a chegar
Maré-cheia com fartura.

Chuveirada e ventania,
Trovões, raios e coriscos,
Granizando com poesia
Aguentam-se todos os riscos.

Chuva e vento e companhia,
Tudo menos qualidade,
Neste outono de fantasia
Sobeja-nos a Saudade!

© Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA

O DESALENTO


O DESALENTO


Quando nos bate à porta o desalento,
Porque nos falta o ânimo, a esperança,
Nessa ténue incerteza que balança,
Entre aceitar ou não o sofrimento…

Quanto mais a dor lembra mais avança,
A solidão e o torpe isolamento,
Em que de mágoas vive o pensamento,
Sem novas de alegria na lembrança!

A chuva, a nostalgia do Outono,
Fazem sentir da vida, o abandono,
Neste mar turbulento de incerteza!

Quando não há uma luz no horizonte,
Mas antes negra nuvem que amedronte,
Só resta o sentimento de tristeza!...

© J.M. Cabrita Neves |10/2021

AO DOMINGO DE MANHÃ


Fotografia de Ró Mar 


AO DOMINGO DE MANHÃ


Ao domingo de manhã
Há perfumes pelo ar
E as faces cor de maçã
Têm o dom de nos beijar!

Ao domingo de manhã
Há missa pra celebrar
Vida e crer no amanhã,
Que não demora a chegar!

Ah, fluxo de hortelã
Pela escadaria do dia,
Ao domingo de manhã
Todos somos poesia!

Passeamos o sorriso
Numa roupagem aldeã
E temos o preciso,
Ao domingo de manhã!

© Ró Mar |10/2021

VARINA DEVOTA…


VARINA DEVOTA…


Foi-se a varina devota, pescadinha rabo na boca
Canastra sobre a cabeça, p’ra ganhar coisa pouca
Mas o tempo já mudou, já passou a tradição
O passado é coisa morta, seus pregões já lá vão

Como recordo esse tempo, feito menino e moço
Aquele cantar de esperança, pondo tudo em alvoroço
Calcorreando as vielas, ou até mesmo as avenidas
Com a maresia na voz, nas palavras mais ouvidas

Passou o tempo, daquele tempo
Ousado e triste com um intento
Passado lembro-me o momento
Com saudades daquele tempo daquela voz

Foi-se o tempo, mas que tempo
Agora acordamos sós
Com o tempo e apenas nós

Onde anda aquele pregão, e ainda outros mais
Tagarelas na cidade, p’la manhã onde andais
Eram poetisas que rimavam, com frases vindas da lota
Tinham do tejo o andar, numa onda de gaivota

Uma freguesa que vinha, à janela p’ra pedir
Maré cheia de peixe, feita para nos servir
Ao almoço ou no jantar, na canastra a saltar
Este retrato de Lisboa, irei sempre recordar

Passou o tempo, daquele tempo
Ousado e triste com um intento
Passado lembro-me o momento
Com saudades daquele tempo daquela voz

Foi-se o tempo, mas que tempo
Agora acordamos sós
Com o tempo e apenas nós.

Ai varina como tenho saudades, daquelas lindas idades.

© ARIEH NATSAC