quarta-feira, 1 de junho de 2022

A CRIANÇA QUE FUI




A criança que fui


Eu sou aquela que já foi criança
De cabelos ao vento, numa trança
Aquela que de sonhos se enfeitava
Menina doce, terna, que sonhava.

E visto-me de estrelas diamante
Vivo o momento breve do instante
Que a felicidade pode escurecer.
Saio para a rua. Vou viver!

Mas quando me procura o sentimento
Sou saudade, sou dor e lamento
Sou talvez barquinho a navegar.

E em cada dia, em qualquer momento
Eu paro e regresso atrás no tempo
Para ver aquela criança passar.

© Madalena Santos

MENINO PASTOR

 


MENINO PASTOR


Menino do alto da serra,
Pastoreia rebanho com muitos nomes
Mas, porém, todos conhece…
Como se da sua família fosse

Joga com ele a sua meninice
Azougada com balidos saltitantes
Entre ervas daninhas que bailam ao vento
Num sustento que dá vida à vida

Menino que cresce sem escola
Mas é o primeiro a chegar ao seu ensino
Sem livros cadernos sem bola
Mas ele tudo aprende para ser mestre

Olhos atentos ao que se passa em redor
Ajudado pelos pássaros que o desafiam
E o ajudam nos perigos
Que não vêm nos livros
Nem são precisos artigos
Que aprende na escola da vida

Menino que vai crescendo
Faz-se homem por vezes rude
Mas com coração meigo e doce

Que abraça um cordeiro nascido
E o transporta como se fosse um filho
Pelo seu amor parido

Menino homem cheio de rugas
De cajado feito bengala
Curvado pelos anos da vida
Mas atento aos seus meninos
Que em balidos o embala

Compreendem a sua linguagem
E o rodeiam meigamente
Para que não se sinta sozinho
No seu caminho… traçado cruelmente.

© ARIEH NATSAC

SONETOS DO MENINO




SONETOS DO MENINO


Soneto I

O menino não sabe
que em torno do jardim
existia uma só sebe
toda feita em alecrim

aonde um rosal havia
com rosas de todas as cores
e a alfazema competia
com o cheiro dos amores.

O menino não sabe
que para haver a sebe
foi preciso trabalhar

os canteiros floridos
aonde todos os sorrisos
são a terra por lavrar

*

Soneto II

O menino não sabe
da terra outrora quinta
tão macia e tão leve
em memória que a sinta

uma imagem que seja
sempre que os olhos fechar
no colo que o aconchega
ao sair e ao chegar

o menino não sabe
que o campo estava verde
quando as entranhas lhe abriram

para nele construir a casa aonde mora
as ruas e avenidas e o mais que há lá fora.
Só os canteiros floriram.

*

Soneto III

O menino adormeceu
a um canto que ali estava
só porque o sono lhe deu
e o cão já não ladrava.

A seu lado se deitou
com um só olho aberto
a mãozinha lhe lambeu
não fosse ele estar desperto.

O menino acordou
quando na fralda mijou
e o cão ao rabo a dar

ladrando por sua mãe
que a correr logo vem
e o menino vai mudar.

*

Soneto IV

É o dia do meu menino,
comemora aniversário,
continua tão pequenino,
... no meu colo solidário,

cheio de amor e alegria
em cada afago recebido,
o aconchego de cada dia,
em cada olhar, em cada sorriso.

Com uma alegria imensa
e de forma tão intensa
feita vida; feita sonho;

feita de feitos concretizados;
os dissabores ultrapassados;
feitos frutos do medronho.

© António Fernandes

FORÇA, MENINO!



sexta-feira, 29 de abril de 2022

"ABRIL | AMENDOEIRA"




DESAFIO POÉTICO: "ABRIL | AMENDOEIRA"


*

AMENDOEIRA EM VERSO


Primavera chuvosa tem outra vida,
Abril regado, Páscoa abençoada
Pela família, alma alva, renascida,
Mimo da natureza, Flor venturosa.

A timidez do Sol declara paixão,
Que promete ser grandioso amor,
Lê-se nas faces rubras dum coração
De sorriso rasgado, libertador!

Os dias crescem no leito, que cochila
Naquele olhar campestre, níveo-rosa
Desfilando em romaria até à Vila!

Vento frutífero, árvore frondosa,
Celestial, devaneio da pupila,
Amendoeira em verso, maré de prosa!

© Ró Mar 

*

EM ABRIL É PRIMAVERA


Em Abril é primavera
Jorram águas p’los montes
É espera noutra espera
Valha-nos Deus quem me dera
Ver uns novos horizontes

Com flores de amendoeira
A lembrar gelo passado
Mas quebrou-se a rotineira
De ver tanta pasmaceira
Ai jesus seja louvado.

Quem cava a terra seus chãos
Vai abaixo, vem acima
Tem na ideia um irmão
Que nem sempre tem razão
Semente que não germina

É como flor tão bravia
Que no agreste se entrega
Gestação fraca e tardia
Que seu caminho arrepia
Ousado e muito brega

Contra o tempo é resistente
Suporta uma mascarilha
Leva tudo no batente
Rasteja como serpente
Vai num barco sem ter quilha

Sempre tão bem perfilado
É um homem indefeso
Vai sentir-se apavorado
Quando cair para o lado
Numa teia fica preso

Nunca se dá por vencido
Faz lembrar um gajeiro
Passa ao lado sem sentido
Mesmo sendo preterido
Julga-se ser o primeiro.

© ARIEH NATSAC

*


© Lúcia Ribeiro 

*

SE A PAZ SE FOI EMBORA


Já não sabem onde moram, e já perderam o norte
É tão grande o desnorte, que de vergonha até choram
Entregues à sua sorte
Os meses estão a passar, os anos já vão pesando
De tudo se estão a fartar, já perderam o comando
Para se orientarem
No calendário do tempo, se foi o mês de Abril
Só lhes resta o lamento, que lançam a mais de mil
Nas desfolhadas do vento
Capitães lançaram chamas, num mar de tempestade
Apagaram-se com a idade, e em lágrimas se derramam
Como símbolo da saudade
Se a paz se foi embora, saiu pela porta fora
Procurando novos caminhos, sem saber se a encontram
Pisando tantos espinhos
As casas estão fechadas, e as janelas tristonhas
Amendoeiras estão desfolhadas, parecem coisas medonhas
São verduras assombradas
Filhos se desconhecem, foram levados para longe
Pensam que adormeceram, no silêncio amanhecem
E do país se perderam
Ai como tudo é diferente, até perderam o falar
Andam à toa sem verem gente, para um sorriso lhes dar
Vão vegetando tão lentamente
Que se sentem a delirar.

© ARIEH NATSAC

*

A VIDA


A vida tem pressa.
Nessa sofreguidão sucedem-se abris!
A compasso, desponta impaciente a amendoeira.
Pergunto-me porquê a urgência?
O meu abril longínquo ensinou-me que não há que a precipitar;
O futuro se encarregará de a devolver!

© Rosa A. Domingos

 *

CALEM-SE…


Calem-se todos. Menos aves e as fontes
Que soprem os ventos nas florestas
Vejamos límpidos horizontes
Façamos na vida muitas festas

Calem-se as vozes dos algozes
Que atiram palavras como metralha
Levantem-se nas marés cascas de nozes
Afundem-se os vapores da escumalha

Calem-se os cães que usam gravata
No canil onde escolhem osso
Indo procurar ao fundo de muita lata
Quando rosnam põem tudo em alvoroço

Calem-se os arautos da pouca sorte
Da seara seca e sem trigo
Num ondular sem verde que é suporte
Sem voltarmos ao tempo antigo

Calem-se os profetas que sabem tudo
Que a hora vai passando lentamente
Onde os minutos são apenas escudo
Um pano quente

Calem-se os amigos do bolso alheio
Vivendo no mundo em comunhão
Montados num cavalo sem freio
E mais tarde ou cedo vão ao chão

Calem-se os de abril sem ver ABRIL,
Que vivem num mundo estrangulado
Continuam construindo o seu canil
Ladrando num atoleiro amotinado

Calem-se os outros que vão ao fundo
Procurando meios hábeis e subtis
Abrindo cicatrizes no seu mundo
Vincadas nas mazelas sem verniz

Calem-se os diabos e os santos
Leem todos na mesma cartilha
Embora AMENDOEIRAS sejam cantos
Esqueçam o missal e a forquilha

Calem-se Adamastores inda presentes
Façam-se ao mar como Bartolomeu Dias
Neste mar com novas correntes
Acalmar novas tormentas, sem orgias

Calem-se os bruxos e os fariseus
Não queiram dar cabo do que louvo
Não escondam vozes livres entre véus
Com rezas que atrofiem mais o povo

Calem-se os medos e as preguiças
De avançar sem ter destino
Descolem-se as coisas pegadiças
Façamos da atitude nosso hino.

© ARIEH NATSAC

*

ABRIL TEM MIL E UMA FLORES


Abril tem mil e uma flores
E um brilho no luar,
Que acorda Lisboa e arredores
Em cravos multicolores
Daquele perfume impar!

Tem amendoeiras com flores
Rosas e brancas no olhar
E um coração de amores,
Que é delicia de escritores
De pena fina p'ra voar!

© Ró Mar 

*

DUAS CORES NOVA HISTÓRIA…


Amendoeira flor branca
De pureza sem igual
De um mês foi alavanca
Do abril em Portugal

Mas foram cravos as flores
Que foram flores do povo
Libertou as suas dores
Num despertar que foi novo

Amendoeiras flores da paz
Num abril, criou raiz
Com a força de ser capaz
De mudar e ser feliz

Gente gritou bem alto
Tirou algemas do medo
Foi neste dia o arauto
Nova história outro enredo.

© ARIEH NATSAC

*

NO MEU PAIS PRESENTE…


Fiz um castelo no ar
Com ameias cor de vento
Cantei versos ao luar
Com estrelas de embalamento

Tive princesas errantes
Tendo as mãos cor de rosa
Seus olhos eram brilhantes
Suas bocas eram prosa

Suspiros de fim de tarde
Na ponta do fim do mundo
Na lonjura que ainda arde
Num terreno que fecundo

Tendo os gemidos na voz
Horas vivas com o cio
Caverna de um tempo algoz
Onde desagua um rio

São pedras que não atiro
Nos meus jogos florais
Reserva como retiro
Que me esconde nos seus ais

Seca meu pranto de neve
Amendoeira que aflora
Pesadelo que nos deve
Deixar ir, e sem demora

A noite faz ponto cruz
Dum novelo feito lua
Carne ardente de luz
Toalha que apazigua

No meu castelo incendeio
A corrente que me agarra
Um abraço onde permeio
A escassez em que se amarra

Minha amiga, minha flor
Terraço onde não caio
Soltei pássaros de dor
Com passos de abril e maio. 

© ARIEH NATSAC

*

"ABRIL | AMENDOEIRA"
Autores: ARIEH NATSAC, Lúcia Ribeiro,
Ró Mar e Rosa A. Domingos


*

Sonetos do Universo | Abril de 2022

sexta-feira, 22 de abril de 2022

CANÇÃO DA TERRA




CANÇÃO DA TERRA 

“No Dia Mundial da Terra”


Canção da terra
Venho trovar
Ao sol nascer,
Saudade austera
Eu quero guardar
Num só viver.

Canção da terra
Terra de todos
Em pleno Bem,
Acabe a guerra
Afecto a rodos
Em terra-Mãe.

De manhã cedo
Mãos ao arado
Para lavrar,
Não tenho medo
Vou co´ o meu gado
O pão semear.

Mesmo de chuva
E cesta na mão
Vou pra vindima,
Eu colho a uva
Comendo o pão
Com mel em cima.

Tocam os sinos
Ave-marias
Na torre d´ igreja,
Penso os destinos
E as tropelias
Q´ ninguém deseja.

No horizonte
Dança a boieira
Para entreter,
Passo na fonte
O grão na eira
Vou recolher.

Já não há sol
E a brisa espanta
Em vez do vento,
E o rouxinol
Já pouco canta
Pra meu lamento.

Canção da terra
Canção da paz
E de embalar,
Na minha guerra
Desde rapaz
Sempre a cantar.

Dia da Terra
Terra sagrada
Q´ é minha e tua,
Luta na berra
Incendiada
Em cada rua.

Verde Planeta
Sonho de esp´rança
Logo no berço,
E tu, ó poeta,
Teu grito lança
Em cada verso!

© Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA
E DO MEU PAÍS

terça-feira, 12 de abril de 2022

TEATRO DE REVISTA




DESAFIO POÉTICO: POESIA | tema: Teatro de Revista


*

Teatro de Revista

EM CENA


Em frança se vestiu
Pra se contar certa história!
Cortejou Mari' Vitória
Reza ela, diz quem viu!

Portugal descobriu
A quem é que pertencera?
Só agora alguém dissera
Em França se vestiu!

Consta ser grande a memória
Por quem nos palcos atuou.
Não há como quem o pisou
Pra se contar certa história!

Desta não há escapatória
Grande é a maledicência,
Alvitra-se pra audiência:
Cortejou Mari' Vitória!

Na sala nem um pio...
De joelhos pro juiz:
Acredita no que fiz?
Reza ela, diz quem viu!

© Rosa A. Domingos

 *

Teatro de Revista

I ATO


Por Lisboa e região
Deslocando-se além-mar
Difícil não recordar
As rábulas e a canção!

Não tem tarde nem serão,
Qu' ambulante companhia
Não partisse em romaria
Por Lisboa e região!

Quando a época findar
Inventam outro processo;
Procuram novo sucesso
Deslocando-se além-mar.

Que emoção ao chegar,
Novo publico a aplaudir!
Impossível não sentir
Difícil não recordar!

Ato um de interpretação
A graça marca o intervalo;
Com sátiras à Bordalo
As rábulas e a canção!

© Rosa A. Domingos
 
*

Teatro de Revista

II ATO e FINAL


Parque Mayer que saudades;
Foste grande nas alturas,
Mas já não vejo farturas,
...Poucas as variedades!

Revista fez amizades
Cartazes finos o expunha;
Casa cheia até à cunha
Parque Mayer que saudades!

Mesmo foco de censuras
Não fugias à mensagem;
Ah Homens de enorme coragem
....Foste grande nas alturas!

Seguem-te nas escrituras...
Onde estão Ivones, Irenes?
Há ícones, ouço sirenes
Mas já não vejo farturas!

Não tirando qualidades
Do que foste e do que és;
Agora são em palmarés
Poucas as variedades!

© Rosa A. Domingos

 *

TEATRO DE REVISTA


Nos tempos que correm não
Há plumas nem lantejoulas
P'ra ver brilhar a atuação
Dos artistas de eleição,
Mas, há sempre mui papoulas!
Tramas, criticas não faltam
Na paródia da revista,
Eles nelas s' aperaltam
E toda a plateia exaltam!
Ah, que o teatro sempre exista!

© Ró Mar 

*

SAUDADES DO PARQUE MAYER…


Passei lá um dia destes
E fiquei tão desolado
Parque Mayer tu morreste
Então lembrei o passado

Aí que saudades eu tenho
Do velho parque Mayer
Relembro coisas de antanho
As quais não vou esquecer

Provocava-se a censura
Deixando nas entrelinhas
Dentadas na ditadura
Com graçolas bem fresquinhas

No ABC, Capitólio
Maria Vitoria, Variedades
Ficou riso como espólio
Dos artistas de verdade

O Salvador o compère
Com seu ar desengonçado
Às pancadas de Molière
Deixava o povo siderado

E o Camilo de Oliveira
Com seus tiques famosos
Fazendo de galã ou freira
Com modos maliciosos

Os mestres Vasco e o Silva
No cinema, geniais
Laura Alves, Ivone Silva,
Mariema, e muitas mais

A Beatriz Costa saloia
Que veio lá da Malveira
Danadinha p’ra ramboia
Uma artista de primeira

Humberto Madeira e o Barroso (*)
A Amália que linda voz
Herminia outro colosso
Orgulho de todos nós

Maria Matos, Tereza Gomes
Palmira Bastos versada
Estrelas de cartaz seus nomes
De uma geração dourada

Muitos outros lá passaram
Costinha e o Ribeirinho
Com mestria camuflavam
As dores do Zé povinho

E Lisboa logo corria
Com grande satisfação
P’ra esquecer a carestia
Que andava de mão em mão

Antes de começar a sessão
Ó freguês vai um tirinho
Um modo de diversão
Ou então ia um copinho

E no Chico das Miombas
Havia o arroz de Lampreia
Eram dozes de arromba
Sempre a travessa bem cheia

Como tudo era diferente
Neste país revoltado
Povo ficava contente
Indo à guerra do Solnado

Na revista à Portuguesa
Onde o povo se animava
Apesar de tanta pobreza
A sessão logo esgotava

Foram tantas as revistas
Que ainda hoje são lembradas
Os atores e as coristas
Que no tempo estão guardadas

Hoje tudo se alterou
As modas as tradições
Do Parque Mayer ficou
Não mais que recordações.

© ARIEH NATSAC

 (*) Barroso Lopes - Restaurante A Gina (atualmente).

*

TEATRO DE REVISTA
Autores: Rosa A. Domingos, Ró Mar e ARIEH NATSAC


*

Sonetos do Universo | Abril de 2022

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

SOU ASSIM…




SOU ASSIM…


Com asas de pavão eu não me enfeito
Mantenho meu carisma verdadeiro
Sou assim desta forma deste jeito
Toda a gente me diz que sou porreiro

Quero seguir somente este caminho
Pois tenho que marcar minha presença
Logo me foi traçado na nascença
Não quero estar no mundo e ir sozinho

Sempre que olho pró rumo do futuro
Sinto um vazio enorme que enlouquece
Mentalidades não tendo razão

Fazem-me ver um tempo muito escuro
Porque tudo que sai, só acontece
Sem ter cabeça e pouco coração…

© ARIEH NATSAC

QUANDO EU MORRER

 


© Lúcia Ribeiro

https://www.facebook.com/Lucibeipoems

TEMPO PERDIDO




Tempo perdido


Andamos nestas andanças inúteis
Numa corrida louca contra o tempo
Gastamos o riso com coisas fúteis
Julgamos ter riquezas e talento.

Assim vamos passando esta vida
Com gastos e aquisições surreais
Cada momento ausente é despedida
De alguém que não veremos nunca mais…

E um dia ainda achamos que é injusto
Quando queremos ter a todo o custo
Alguém que nós julgávamos eterno…

E depois irá passar a primavera
Há de estar o outono à nossa espera
E havemos de achar longo, o nosso inverno.

© Madalena Santos

A POESIA É




A POESIA É 


«No Dia Internacional da Língua Materna»


Todos os dias são felizes com Poesia!
A Poesia é, aquele apaixonado jeito
De recolher formosas flores dentro do peito!

Do «peito ilustre Lusitano»
Neste Dia e neste Ano
A POESIA é a Alma da nossa Língua
Que ela jamais fraqueje à míngua …
Porque ela é a nossa Casa
Reforcemos com energia a sua Asa.

Para que voe qual Condor
Num subtil e ágil canto
Vestida de encanto
e de Amor!

© Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA

CALOR HUMANO

 

CALOR HUMANO


Saí à rua havia frio e vento!
Mas lá fui eu munido de agasalho,
Nas ervas vendo as gotas de um orvalho,
A condizer com o céu meio cinzento!

Tempo que lembra a brasa e o borralho,
Dando ao corpo e à alma mais alento,
Que traz à mente o terno sentimento,
De olhar a vida em tons sábio e grisalho!

Voltei. Junto à lareira dois calores,
Um do madeiro a arder outro de amores
Bem fraternais, toda a família unida!

Quando há junto de nós calor humano,
Não há frio que cause qualquer dano,
Nem que atrapalhe o caminhar da vida!...

© J. M. Cabrita Neves | 02/2022

SOPRO DE VIDA




SOPRO DE VIDA


A meio do poema, que reflete anos passados,
Numa busca constante de paz e harmonia
Encontro-me com o presente para escrevinhar
(Sopro de vida) tudo onde reina amor, há empatia
E o universo torna-se gigante e contente
Sustentando mil e um sonhos (meus e da gente),
Porque quero abençoar vida e estar em sintonia.

Viver esta passagem numa utopia
E enfrentar monstros com o minino pesar
É coisa surreal! Mas, insisto na diferença
Da parte que me falta, provando o meditar
Escrevo em letra serena o mundo que sonhei
E com ele convivo, pois, sempre remediei
O destino, que lego para memorizar.

Viver em paz comigo e com o mundo
E fazer por tecer harmonia em todo o coração!
Só!? Então, jamais só, que meu tempo eternize,
Quando partir, ao me lerem, chamar-me-ão
"Poeta louco"!? Meu consolo com a cortesia,
Sei que não partirei de "alma vazia"
E se vivi ou alucinei foi em razão.

© Ró Mar | 02/2022

sábado, 19 de fevereiro de 2022

LARGAVAM O CAIS




LARGAVAM O CAIS


Gotas da alma pigmentaram o magoado soalho
um pouco enrugado e calejado da abundância de trabalho
enquanto as frígidas calhas novas outrora
já não sustentavam tamanha demora.

A flor encarnada não gerava nenhuma semente
perdera o vigor que a distinguia na mocidade
mas a gente assegurava que estava somente doente
e seria de novo coberta por centelhas de felicidade.

Os ramos vergados foram ficando mais desnudados
diante dos troncos que se exibiam firmes e alinhados
mostrando ao mundo que os anos não mais contavam.

Os sorrisos rasgados depressa foram implantados
os campos de trigo e os jardins de rosas multiplicados
enquanto os barcos parados o cais largavam.

© Agostinho Silva | 02/2022

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

A DESCOBERTA




A DESCOBERTA


Em cada dia a vida é descoberta,
Que nos envolve e mostra o horizonte,
Que se adivinha além depois de um monte,
Mas que para a aventura nos desperta!

Separa-nos das margens uma ponte,
Até que a realidade se converta,
Na solução pensada como certa,
Tendo a mente inspirada como fonte!

Assim como nos canta a cotovia,
Cada dia que passa é mais um dia,
Feito de altos e baixos qual montanha!

Porque o desembrulhar traz a surpresa,
Que constitui suspense e incerteza,
Curiosidade é gosto que se entranha!...

© J. M. Cabrita Neves | 02/2022

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

BALADA DE SONHO


Imagem: Les douceurs de CHLOE


BALADA DE SONHO


Este planeta terra almeja respirar
Ar puro, livremente e nós, humanidade,
Também! É imperioso reaprender a amar
A natureza e os seres vivos de verdade;

Fazer girar o mundo em torno dum amor
Plural, com sentido e responsabilidade;
Dar à vida essência de elo multicolor,
Reerguer a mátria, com sustentabilidade;

Cultivar e fertilizar laços de união,
Fomentar atitude de paz em todo o universo
E criar raízes de combate à solidão.

Ah, passear livremente é mui mais do que verso!
Respirar e sentir pulsar o coração
É balada de sonho onde há vida no berço.

© Ró Mar | 08/2020

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

O FADO


COROA de SONETOS: O FADO


Autores: RAADOMINGOS e Ró Mar 




O FADO


I

A saudade patente bem vincada,
Quando nas tascas do fado vadio;
Cordas das gargantas em desafio
Cantavam em bonita desgarrada.

A guitarra antes forte dedilhada
Carpe presente um outro trino frio;
Sente a falta do portentoso brio
Da Severa cantora e camarada.

Amores antigos por si cantados,
Fenecem nas notas de tanto dó
Em escalas de muitos condados.

Seu corpo dorido desfeito e só
Aos poucos tem os dias contados;
Se não se desfizer da sina o nó!

© RAADOMINGOS
 
*

II

"Se não se desfizer da sina o nó"
Marinheiro que atracou cantadeiras 
Ao velho veleiro com brincadeiras,
Boémia e poesia não te sentirás só!

Foram décadas por terra além-mar 
Exibindo o peito, espontaneidades
 Exorcizando tristeza e saudades
Retratando o quotidiano popular.

Sal que o transformou na mais pura e nobre 
Canção, que a todos enche o coração;
Trinado p'lo contemporâneo pobre

E também p'lo rico com precisão!
Que faz com que a poesia se desdobre
P´lo acorde fazendo do fado nação.

© Ró Mar

*

III

"P'lo acorde fazendo do fado nação"
Com viola e guitarra portuguesa
Meia dúzia de pessoas à mesa,
Fica composta a área do salão.

Velas, caldo verde, chouriço e pão,
Abrandam do peito certa tristeza,
Contrastando com a enorme beleza,
Da voz que sabe tão bem o refrão.

Estribilho qu' emociona e arrepia,
Que se entranha bem fundo e s' espalma
P'la ligação que se dá e se cria.

Não se explica como é qu' ela calma,
Mas o certo é que é terapia;
Que vai deixando mais solta e leve a alma.

© RAADOMINGOS

 *

IV


"Que vai deixando mais solta e leve a alma"
E o coração apaixonado ao vozeirão
Espelhando os Senhores da criação
Com o imponente brio de vénia e palma.

Nas ruas e vielas, botecos e outros
A gíria fez bairros carismáticos,
Que por nobres infaustos e críticos
Fez do fado ocioso o oficio doutros.

Na festa carnavalesca a essência
D' alma à letra e o vinho português,
Que sempre foi bom por excelência!

Levou-o das ruas ao teatro, ao burguês,
Que à boca cheia lhe deu consistência
P´la valia das precisões do freguês.

© Ró Mar

*

V

"P'la valia das precisões do freguês"
Tratam os agora pelas palminhas;
Ver se das frestas das velhas tabuinhas
Cresce outro tipo d' entalhes e quês.

Dos anos passados e dos porquês...
Coitada da animada Mariquinhas
Se em troca das habituais prendinhas
Os mariolas trouxessem bouquês.

O consagrado agora é mais brilhante
Há novo estofo outro tipo de mobília
Um património bem mais interessante.

Notáveis serões de aprazível vigília;
De um convívio salutar, apaixonante
Onde se juntam como sendo família.

© RAADOMINGOS
 
*

VI

"Onde se juntam como sendo família"
 Partilhando o social e cultural
Na amena cavaqueira, musical
De cordas afinadas na voz da Ercília;

A "Santa do Fado", atriz de revista, 
Que a voz elevou a internacional 
Através de discos, rádio local
 E digressões por fora, grande artista!

Por terras de França, América e Brasil
Acompanhada de ilustres guitarristas,
Armandinho e Raul Nery, mostrou o brio.

Das casas de fado ao teatro fez conquistas;
Da sétima arte à rádio o fado vadio
 Volveu o palco do mundo, deu nas vistas!

© Ró Mar  

*

 VII

"Volveu o palco do mundo, deu nas vistas"
E pautou história. O fado "clássico"
Fez do triste viver do povo icónico
E em simbiose com o romantismo "cristas".

A exibição em salões da aristocracia
Fez com que ele se tornasse a expressão
Musical portuguesa de tradição
Retratando a saudade, o ciúme e a nostalgia.

Muitos foram os que lhe deram voz
De notar Hermínia Silva, que fez oficio
E nome ao fado "musicado" de todos nós;

Lucília do Carmo, F. Maurício
Entre outros... é de enobrecer a voz
De Alfredo Marceneiro, o patrício.

© Ró Mar 

*

VIII

"De Alfredo Marceneiro, o patrício,"
Que deu voz à canção e seu glamour,
Vestido a preceito, letra de 'amour'
P'la arte assinada em nome fictício.

Sobe ao palco do Coliseu dos Recreios
Com a Opereta "História do Fado",
 Beatriz Costa e Vasco Santana ao lado
Do mestre dos auspiciosos gorjeios.

O nosso "Fabuloso Marceneiro" 
Foi a voz da Valentim de Carvalho
E toda a sua vida foi marceneiro;

De boina e lenço de seda, dava valho,
"Ti’ Alfredo" tinha estilo de obreiro,
De mãos nos bolsos saía o fado 'agasalho'.

© Ró Mar 

*

IX

"De mãos nos bolsos saía o fado 'agasalho'"
E de xaile negro vibrava a eximia
Voz de Amália Rodrigues, idolatria
Duma cultura, abertura de atalho...
 
Considerada a "Rainha do Fado" 
E amada por todos, levou a canção
Do seu povo com alma além do coração
 Elevando-a como "poesia do fado".

Graças à 'Diva' o 'tradicional' consolida,
Ícone da cultura nacional,
 Êxito internacional, canção querida.

Com Amália a Catedral de Portugal,
O apogeu do fado moderno na lida
Do grã Camões e outros, monumental!

© Ró Mar 

*

X

"Do grã Camões e outros, monumental!"
Tanto é o que traduzo em arrepio
P'la sua voz "Povo que lavas no rio",
Relembrar é de jus e fundamental!

Letra nesta época transcendental,
Que só a entrega e genuíno brio
Da nossa distinta Dama ouro-fio
Lhe confere autenticidade sem igual.

Grande responsável e com amor
Que de si a admiração era devota
Temos também o Alan, compositor.

Registo d' entre tantas a "Gaivota",
A "Estranha forma de vida" e "Lianor"
Grandes composições do poliglota.

© RAADOMINGOS
 
*

XI

"Grandes composições do poliglota"
Abriram no horizonte outra janela
E de braço dado a fadista e a Estrela,
Embarcaram na aventura patriota.

Seguir a Rainha tudo se atenta e nota;
Muito se admira a compleição,
Se se comporta na perfeição,
Se o vestido é feio ou janota!

Mas, isso pouco lhe interessa qu' aconteça
Fecha os olhos e sente a canção
Com um ligeiro inclinar de cabeça!

Comove-se como se em oração
Rezasse pedindo a Deus, que depressa
Lhe acabe com tamanha solidão!

© RAADOMINGOS

*

XII
 
"Lhe acabe com tamanha solidão!" 
É palavra d' ordem no Faia, Bairro Alto; 
Retiro d' artistas, gabarito lauto; 
Carlos do Carmo como anfitrião! 

Tantos conduziu pela sua mão;
Lenita, Tarouca, Maria da Fé...
Agora, Moura, Mariza, Camané
E tantos outros desta geração!

Sons que trazem novos andamentos
E glórias, como Dulce Pontes e a assaz
"Canção do Mar" entre outros êxitos;

Especiais no moderno que se faz
Portadoras de novos sentimentos;
Dão ao futuro um excelente cartaz!

© RAADOMINGOS

*

XIII

"Dão ao futuro um excelente cartaz!"
Orgulho sabê-las transpor fronteiras;
Não sendo das afamadas primeiras,
São as que presentemente a plateia apraz!

Junto ao Olympia, Paris a passar,
Ver no néon quem são os da atuação
Não há no íntimo maior comoção
Do que ler o que está a publicitar!

Ter no palco uma bandeira içada,
Repovoar novamente a memória
Saber ser nossa verde e encarnada;

É degustação de uma doce vitória
Que jamais por todos será apagada
Dos arquivos da Lusitânia história!

© RAADOMINGOS

 *

XIV

 "Dos arquivos da Lusitânia história"
Recordamos dois séculos de cultura
Popular, a arte do fado e sua postura
Mundialmente, os momentos de glória.

Através do espólio dos grandes do fado
E de memórias doutros conflui a grandeza
Da canção lisboeta e guitarra portuguesa,
Dos bairros típicos... Uno Museu do Fado.

A velha e eterna tradição que fruamos
Nas Casas de Fado, a anciã pisada
De arte e talento, que sempre recriamos;

E na Casa de Amália sentimos vida,
Memorizamos sensações, miramos
"A saudade patente bem vincada."

© Ró Mar 
 
***

Sonetos do Universo | 02/ 2022

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

LUZ DA MINHA CANDEIA




LUZ DA MINHA CANDEIA 


“No Dia da Senhora das Candeias”


Das Candeias, ó Virgem Santa
Que alimentais a minha luz
Trazei-me aquele óleo que seduz
E qu´ a mim mesmo se agiganta.

Vosso Filho, com graça tanta
De Vós me vem em doce cruz,
Naquela graça que me transluz
E numa bênção que m´ encanta.

Carente dessa Luz, confesso
Não ser capaz de prosseguir,
Mas co´ a Vossa mão eu posso ir
Até ao fim, pois vos conheço.

Senhora das Candeias, sabeis
Bem meus limites e fraqueza…
Eu quero descobrir a fortaleza
Daquele farol que me trazeis.

Dai-me Luz na minha aventura,
Que ela me livre de todo o perigo,
Vós, que sois o meu seguro abrigo,
E o meu carinho, minha ternura!

© Frassino Machado
In “Roda-Viva Poesia”

sábado, 29 de janeiro de 2022

INVERNO MEU




INVERNO MEU


São entardeceres que se prolongam pela eternidade
como as delongadas retas dos peregrinos
e os dias que são anões,
deleitam-se na branca neve
até que o Sol a leve consigo
como o cavaleiro leva a sua amada
e a lareira d’outrora permanece acesa
na lembrança que emerge como o vulcão
p’ra consumir as achas colhidas no verão
que estalam como foguetes
das conquistas e dos arraiais.

Calço as minhas luvas,
agarro o gorro e o cachecol,
deambulo pela estrada fora
como se fosse embora
levando o inverno meu!

Agostinho Silva | 01/2022