sábado, 11 de abril de 2020

O MADRIGAL DAS ROLAS




O MADRIGAL DAS ROLAS  


Fluem meus passos através da orvalhada
Na indecisão da ténue e branda claridade
E ao som do arrulhar das rolas da calçada
Acabei atenuando os meus ais d´ ansiedade.
Por entre os verdes arvoredos do calmo bosque
Fez-me bem esta descontraída caminhada
Que reavivou em mim um salutar retoque
Para cuidar duma terapia apropriada.

Vestido de silêncio, logrei fruir, e bem
Este meu madrigal que, por ora, me retém…

O sol anda vadio e não revela o rosto –
Aquele rosto que todos os pássaros veneram –
Mas as cantantes rolas gozam a contragosto
O primaveril prazer que ainda não tiveram.
Ao meu lado, caminha a brisa baloiçante
Que noutro tom vai sussurrando suavemente
Uma ária de saudade longa e deslumbrante
Que sobe do meu corpo e bate à minha mente…

Ai rolas, ai rolas, deste madrigal singelo
Trazei o vosso canto para o meu castelo!

© Frassino Machado
In INSTÂNCIAS DE MIM

LISBOA DESERTA


Foto: @MG Photo


LISBOA DESERTA


Lisboa minha cidade
Que inspiraste grandes escritores
Com poemas de Amor e saudade
Dedicados aos seus amores

Lisboa minha cidade
Que deste vida aos maiores fadista
Com fado inspirado na saudade
Dedicado a este povo bairrista

Lisboa minha cidade
Que apaixonas todos os turistas
Com o fado património da humanidade
E as ruas cheias de fantásticos artistas

Lisboa minha cidade
Hoje com as ruas desertas
Vivendo esta infeliz calamidade
Apenas com as janelas abertas

Lisboa minha cidade
Do sonho de Abril da revolução
Onde nasceu a liberdade
Como uma inesquecível canção

Lisboa minha cidade
Mais esta luta iremos vencer
Esta praga que afeta a humanidade
Em breve irá finalmente desaparecer

MINHA DOCE ROSA RUBRA


Imagem: Merveille du monde 2


MINHA DOCE ROSA RUBRA


Minha doce Rosa rubra
Tenho um verso para ti,
Níveo Mar, ah, que cubra
O que a musa viu em ti!

Minha doce Rosa rubra
Aceita meu coração,
Ah,'Rosácea' deslumbra
A alma duma paixão!

Ah, botão de Mulher...
Que o vento vislumbra!
A primavera a nascer,
Minha doce Rosa rubra.

RESSUSCITAR


Ilustração obra de: Tomasz Rut.


RESSUSCITAR


Quando vi, teu ser carente,
Mais triste quando o deixei.
Rezei a Deus e ressuscitei,
E, vim amar-te novamente.

Sei que parece ser magia!
Estar morto, e ressuscitar.
Mas diz amor como podia!
Ver-te sofrer sem te amar?

Indulto divino, e supremo.
Só por Deus é concedido,
Voltar a este palco terreno.

Para amar teu ser perdido.
Como prova e amor eterno,
Mistério magno concebido.

 © Joaquim Jorge de Oliveira

PAZ



©  Lúcia Ribeiro

ANDO TRISTE


Foto de Armindo Loureiro


Ando triste


Triste, é assim que eu me sinto
Fechado dentro da minha moradia
Podem crer que eu não vos minto
Aqui sinto que perdi minha alegria

Sinto-me bastante impotente
E nem sei como aconteceu
Sou pessoa que tudo sente
Se em mim se sente o que se amou

Sei que a minha ajuda não é nada
Daquilo que poderia e deveria ser
Há por aí gente do mais grada
Que jamais deu a mão com prazer

E é nesse vazio que eu vivo
A pensar no que deveria fazer
Sou um ser por vezes sensitivo
Que gosta da virtude em si colher

Sinto-me preso nesta liberdade
Pois as minhas asas não existem
Gostaria de colher essa felicidade
Ser forte e coeso perante o que insistem

Hoje, nem sequer me apetecia escrever
Porque a tristeza aqui me acompanha
Mas este meu jeito de tudo tentar fazer
Faz que eu escreva sem nenhuma manha

© Armindo Loureiro 

domingo, 5 de abril de 2020

UMA FELIZ LAUDAÇÃO




UMA FELIZ LAUDAÇÃO  


“Para o Domingo de Ramos 2020”


Nestes tempos tão conturbados,
À falta de uma oração
Façamos ramos ajaezados
Para uma feliz laudação.

Busquemos a justa razão…
Não se vendo gestos pensados
A quem louvaremos, então,
Nestes tempos tão conturbados?

Coloquemos à nossa porta,
Janelas, varandas ou vão,
Um simples ramo, que exorta
À falta de uma oração.

De oliveira principalmente,
Por quem somos iluminados,
Co´ a luz e paz em nossa mente,
Façamos ramos ajaezados.

Sem a Páscoa, e em quarentena
Nesta familiar contenção,
Abramos nossa alma serena
Para uma feliz laudação.

A quem nos cuida da saúde,
Mesmo qu´ em parca condição,
Se até nós não chegar virtude
A quem louvaremos, então?

A quem nos fornece o mercado,
Por vezes com tão curta mão,
Se não derem conta do recado
A quem louvaremos, então?

A quem nos fornece a comida
Com apertos de coração,
Se não cuidarem da nossa vida
A quem louvaremos, então?

A quem nos faculta assistência,
Na Net, na rádio ou televisão,
Se não lhes virmos competência
A quem louvaremos, então?

A quem nos cultiva a memória
Da alma Pascal e da Tradição,
Se não animarem a nossa história
A quem louvaremos, então?

A quem nos governa por bem,
Procurando cumprir a missão,
Se não acreditarmos, porém,
A quem louvaremos, então?

Na falta de louvor e de Fé
Que aos humanos faz desatino,
Ponhamos a alma em alta maré
Louvando ao Salvador divino.

“Hossana, Filho de David”! Hossana
Cantava o povo em Jerusalém;
À falta de templos, de alma ufana
Dentro de casa, cantemos também.

“É a Fé Santa que nos redime”
Diz o bom povo e sem fantasias,
A nossa convicção exprime
Que esta FÉ é o nosso Messias…

Meu verde ramo de oliveira,
À minha varanda me traz
Uma mensagem verdadeira
Igual à alva pomba da Paz…

Sem Páscoa não há acalento,
Não há Fé, não há Redenção,
Mas, dentro do peito, bem dentro,
Mora uma Feliz Laudação!

© Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA

ESPERANÇA DE ABRIL


Obra do pintor polaco:
Ladislas Wladislaw von Czachórski


ESPERANÇA DE ABRIL


Os teus olhos vivos cor de ciúme
Beijam ávidos a nova primavera
Que destila no soneto o perfume
Fragrâncias, divinas de outra era

Agora! És a mulher, sábia e bela
Lembrança desse jardim proibido
És, pintura delicada de aguarela
Resgatada no éden já esquecido

És volúpia, transparente e subtil
Escondida no teu invólucro mortal
És beleza radiante do mês de abril

A cor rubra dos cravos de Portugal
Reduto de esperança que vi, em ti
Cada ser, mais humano, mais igual

"NA MINHA TERRA O LUAR..."


Imagem: IN$PiRATiON


“Na minha terra o luar...”


Ah, outrora um punhado
D' estrelas desenhando
Na minha terra o luar...
Majestoso azul mar...

Cantando a liberdade...
Lua cheia de mocidade...
Na minha terra o luar
D' abril a agosto a amar...

Por ora, reina o desalento
D' uma janela de cimento...
Na minha terra o luar
Decretou um só respirar!

Ah, vida alegre... olhar
O céu estrelando o Tejo
É sonho qu' ainda desejo!
Na minha terra o luar...

O UNIVERSO ACORDOU




O UNIVERSO ACORDOU


O Universo acordou
E este planeta infectou
Homens e mulheres a ninguém perdoou
Mais de um milhar ele matou

O Universo acordou
E zangado se revoltou
Contra a destruição que o homem semeou
O caos e a discórdia que lançou

O Universo acordou
Neste século em que estou
E financeiramente a todos aterrorizou
De uma maneira que ninguém pensou

O Universo acordou
A todos em casa encurralou
Mas o Mundo aprendeu a lição e mudou
E finalmente a Humanidade recuperou

SIM, DEVES ESTAR FELIZ!



CHOVE EM MEU CORAÇÃO...


Imagem: Zzig.comunidade


Chove em meu coração…


Por muito que seja pesada
A chuva jamais aleija alguém
Por vezes até é adorada
Quando molha quem convém

Mas há amizade a chover
No coração duma mulher
Ela conhece o seu prazer
E assim chove quando quer

E agora com o confinamento
Mais depressa se dá fé
Daquele belo sentimento
Que vive ali mesmo ao pé

Deixem-se, pois de tristezas
Aproveitem o tempo melhor
Há por aí tantas belezas
Que apenas querem amor

Eu estou sempre por aqui
Para o que queiram de mim
Amor eu sempre senti
E eu gosto de ser assim

Chove tão ternamente
E eu gosto de te ouvir
Ó Chuva quem não te sente
Não é gente no seu porvir