quarta-feira, 29 de junho de 2016

SENHORA DO XAILE NEGRO


Amália da Piedade Rodrigues (Lisboa, 1 de Julho de 1920 — Lisboa, 6 de Outubro de 1999)


SENHORA DO XAILE NEGRO

(A Amália Rodrigues)


Senhora do xaile negro,
quem lhe enfeitiçou a garganta?
O seu peito ainda harpeja,
enfeitiça a quem deseja,
e encanta quando canta.

Senhora do xaile negro.
Senhora do negro xaile,
sua voz ainda ecoa.
Vai dos Prazeres ao Castelo,
canta uma marcha num baile,
anda a enfeitiçar Lisboa.

Como uma gaivota no Tejo,
em torno duma falua.
Ao seu velame se amarra.
Fez do leme uma guitarra,
sardinheira à luz da lua.

Senhora do xaile negro.
Senhora da voz magoada,
nas vielas ainda ecoa.
Anda a cantar por Lisboa
até vir a madrugada.

Senhora do xaile negro,
da nostalgia e ansiedade
Fez do fado o seu destino,
caminheira da saudade.

Senhora do negro xaile,
outro mais negro não vi.
Tem nas franjas do seu xaile
rosas que não lhe ofereci.

Senhora do xaile negro,
foi de todas a primeira.
Ó deusa da humildade,
encantou a humanidade,
foi rainha sem fronteira

Senhora, teu xaile negro,
foi tecido na Moirama.
Deixaste-o quando partiste,
nos versos dum fado triste
no coração de Alfama.

Manuel Manços Assunção Pedro

TEU SOL



Leny - Mel

sábado, 25 de junho de 2016

LISBOA, MENINA DO TEJO


Fotografia - Lisboa - Portugal  © RÓ MAR


LISBOA, MENINA DO TEJO
(Santos populares)


Lisboa, menina do Tejo e de mil olhares
Enfeita-se pelos santos populares
De cores principais, alegria e mocidade,
Que realçam a beleza de uma grande cidade.

Lisboa, verdes são seus olhos de iris azul
Que brilham os arraiais de norte a sul
De Portugal, convida outras gentes
De todas as idades a serem sorridentes.

Lisboa, embora menina, é a capital
De todos, a que amamos pela alma e coração.
Que bem desfila o Junho, em saia rodada, o verão
Apadrinhada pelo António Santo graal!

Lisboa, varina que leva pelos ares
O balão de São João que é Porto, outros mares,
E não há martelinho que lhe dê volta à cabeça,
Nem ao lendário Douro se confessa!

Lisboa, menina do Tejo e de mil desejos,
Passeia sonhos de luz pelas calçadas portuguesas
A todos os que vêm por bem às suas mesas,
Há vinho, pão e sardinha pelos festejos.

Lisboa, verdes são seus olhos de abraços coloridos,
Que cheiram manjericos de todos os santos,
É regar e pôr ao luar, é menina de mil sentidos,
Há que levar São João Batista a todos os portos.

© RÓ MAR


quarta-feira, 22 de junho de 2016

... OS MEUS PENSAMENTOS



Fátima Santos Silva

"JARDIM A ORIENTE"


Art - Irina Vitalievna Karkabi


"Jardim a Oriente"


O que a Vida dá sempre de bom é a opção de escolha
Entre o viver no conformismo ou o viver mais ao lado.
Se pensarmos bem temos sempre um lado a florescer,
Ainda que a vida seja nevoeiro intemporal,
Há sempre a opção de ser artista
Na sua própria construção.

Basta apenas uma leve ideia, e a página vira-se, folha
Onde se rabisca umas quantas flores, e vive-se toda a beleza 
Que se respira naquela natureza.

Bebe-se o Sol sofregamente, sem pensar em nada, 
Somente naquele "Jardim a Oriente", que não se troca por nada,
Onde se firma e se fixa o olhar de quem sabe viver.

Uma melodia na tela do dia que se vive é o quanto basta
Para ser flor, que se vira a Sol tal como o Girassol,
Pois o pensamento é tão vasto quanto o Sol.

E, eis que a obra nasce energética, plural
Nas cores que se deleitaram na tela
Pelo coração que sabe amar, e, rompeu-se a frívola janela
Daquela vida onde tudo era nada, hoje é a sua obra de arte.

© RÓ MAR


... O PERFUME SERVIDO À MESA...




... O PERFUME SERVIDO À MESA...


já fiz o algorritmo da vida
já formulei a equação
já até apaguei
e voltei a refazer fracção
refiz, fiz e voltei a desenhar
no papel de todas as cores
usei tinta e carvão
e por fim levantei a questão
mas de todas as ciências pesquisadas
nenhuma sabe que resposta me dar
em todas encontro uma indefinição
será problema dos inteligentes
ou deveras corromperam o coração
mas no entretanto, executemos
no silêncio da investigação
o poder maravilhoso de executar
uma e outra vez a experiência de amar

 Ana Carvalhosa

terça-feira, 21 de junho de 2016

É URGENTE AMAR




É urgente AMAR_____URGENTEMENTE!


Abraçar o mundo, ou pelo menos a parte dele que nos está próxima.
Aferir todas as hipóteses de um amanhã melhor.
Amar quem nos AMA, e mais alguém que nos faça Sorrir.
Atravessar uma ponte e vencer os medos.
Acorrentar o medo e deixá-lo onde não nos possa perseguir.
Abandonar o ontem que nos fechou o sorriso.
Abrir os olhos a cada manhã e vislumbrar o azul do (a)mar e do céu, ainda que encoberto...
Agradecer aos FAMILIARES, AMIGOS e a todos os que estão perto, o facto de estarem lá.
Atingir as nossas metas! Com afinco e perseverança conseguimos!
Aplaudir quem está junto de nós. Palavras e gestos de exaltação são dadas a quem realmente as merece.
Alimentar SONHOS... transformá-los em desejos e concretizá-los.
Alcançar a verdadeira FELICIDADE.
Acordar do que pode parecer um pesadelo e transformá-lo em força que nos mova.
Amar urgentemente...

Leta Moreira

segunda-feira, 20 de junho de 2016

NO SOLSTÍCIO DE VERÃO


Na foto: «a luminosidade este ano mais intensa e translúcida»


NO SOLSTÍCIO DE VERÃO 


Levanto-me cedo e inquieta
diante da luminosidade
este ano mais intensa e translúcida

Solstício de verão

sei - a misturar-se no grande
esplendor de forma incerta
com os restos nocturnos

de Lua cheia

Desatenta, tento fugir ao olhar
do meu amante
que em mim sempre dá conta
da gazela que escapa

ao caçador

Enquanto jamais desisto
de cumprir sozinha a lâmina
de sol em brasa na forja do ferrador

Lume misterioso e sagrado

procurando eu sempre e ainda
o odor de cada um dos astros
em busca da cintilação maior

do dia mais longo

Ao encontro do verão
inscrito no corpo belo e nu
do meu amante-amado

- És minha...
diz ele, iludindo-me o protesto 
e tomando-me a si, ignorando

o cardo desde
sempre
existente em mim

A querer que nos tornássemos 
num único
e indimensionável corpo astral

Trópico de Câncer - entendo
de súbito a perder-me
mas logo a desejar reencontrar-me

intacta

diante da rotação
da Terra
em torno de si mesma

Porque pretendo 
ser
da condição da luz

da claridade maior enquanto
grito de paixão
voando pelos luzeiros do espaço

desejando mudar-me
tornar-me
na deslumbrante esfera celeste

- Fruição?

Indago em vão a mim
própria 
na nudez do silêncio da tarde

Insubmissão!

Maria Teresa Horta

BEM–VINDO O VERÃO




BEM – VINDO O VERÃO 


Amanhã chega o Verão
Toda a Terra se acalenta
Dando vivas à Estação
Que airosa se apresenta.

Roupas leves, perna-ao-léu,
Corpo vivo e água fresca
Na cabeça um bom chapéu
E uma vida pitoresca.

Vamos todos saborear
E festejar este Verão
Verdes campos admirar
Com as sombras sempre à mão.

Belas praias e areais
Com bons ares junto ao mar
Enquanto secam os cereais
Vamos todos aproveitar.

Há ribeiras no interior
E há colinas verdejantes
Temos póvoas com valor
E com marés aliciantes.

Temos Verão e alegria
Ricas Festas populares
Há sempre uma romaria
Com um Santo dos altares.

Já lá vai a Primavera
E com ela o coração
Digamos com voz sincera
Bem-vindo seja o Verão!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

TU ÉS FELIZ LISBOA




TU ÉS FELIZ LISBOA


Lisboa tão bela e airosa
Eu sei que és assim,
Sempre foste vaidosa 
Vistosa, e caprichosa 
Sem olhares para mim

Lisboa presunçosa, tu vives assim,
Sabes, que tens beleza, e gentileza 
Lisboa tu gostas de mim,
Diz-me com franqueza, toda a tua beleza 
Virada ao mundo tu és um jardim,

Lisboa tu tens o mar a teus pés
E linda que és, tens o mundo também,
És vista de lés -a lés, tens Alcântara e Belém
Tens cruzeiros, que te visitam, por esse mar além,

Lisboa tu és linda tu és boa, mereces ser visitada
Quem nunca ouviu teu pregão,
Desde o ardina ao abegão, nas tuas ruas de linda calçada
Começava pela manhã, com a linda varina,
Na lota a sardinha vendida na madrugada,

Lisboa tu tens tanta beleza, além da realeza
Ainda tens, os Santos Populares,
São verdadeiros milagres, tudo aquilo que tu fazes
Lisboa tens lindos e belos cantares,
Tens comida da boa tens o fado, tu és feliz Lisboa.

Joana R. Rodrigues 

domingo, 19 de junho de 2016

UMA POUPA EM VIAGEM...


Poupa (Upupa sp.), ou boubela, poupão, poupa-pão e poupinha, é o nome comum dado às três espécies de aves upupiformes pertencentes à família Upupidae e género Upupa. A distribuição geográfica das poupas é vasta e inclui todo o Velho Mundo, desde a Europa às zonas tropicais da Ilha do Porto Santo (Região Autónoma da Madeira) Em Portugal, a poupa pode ser observada em todo o território continental e no arquipélago da Madeira. Sabe-se que algumas populações são nómadas, mas o seu estatuto de ave residente ou migratória é ainda indefinido.



Uma Poupa em viagem…


Um dia, já la vai muito tempo
Uma Poupa nos acompanhou
Que beleza de momento
Quando no navio ela poisou

Foi de Lisboa a Ponta Delgada
De vez em quando ia dar uma volta
E por nós foi bem alimentada
Era uma ave que ia à solta

No tempo que ali passou
Pelos marujos foi amada
Era uma ave de que se gostou
No alto mar não havia mais nada

Entrou connosco em Lisboa
Saiu quase a chegar ao porto
De Ponta Delgada coisa boa
Fez um voo bastante torto

Não sei se estava enjoada
Ou se não gostou da alimentação
Mas por todos foi bem tratada
Enquanto a viagem durou

São lembranças do passado
Que me vem à memória
Para mim é um belo dado
Poder contar esta história

Sinal de que não estou senil
E que gosto da brincadeira
Venham daí histórias mil
Que isso não é nenhuma asneira

Tenho memória de elefante
É o que dizem amigos e familiares
Lembro sempre aquele instante
Que passei ao longo dos mares

Mares da minha juventude
Que sulquei com outra gente
As sereias e a sua virtude
Jamais de mim alguém as sente

Não porque não as tivesse procurado
Mas porque elas não apareceram
Senão tinha passado um bom bocado
Mas seus amores não aconteceram

E a Poupa acabou por desaparecer
Com a terra à nossa vista
Talvez seu amor estivesse a espairecer
E ela foi à procura da sua conquista

Voou em pleno dia
Em direcção à terra segura
Talvez levasse a alegria
Dum futuro que se augura

É normal acontecer
Em qualquer animal
A procura do prazer
Que no oposto não tem igual

Custa-me ver certas situações
Que de aberrantes me chateiam
Não vou nesse tipo de paixões
Meu coração elas não enleiam

Era uma Poupa na verdade
Poderia ter sido outra ave
Daquele tempo sinto saudade
Porque a verdade em mim cabe!

Armindo Loureiro 


NUM BALOIÇAR DE CORAÇÃO TAL UM MENINO


Imagem - Bellissime Immagini


NUM BALOIÇAR DE CORAÇÃO
TAL UM MENINO


Pela beleza e mistério da natura passeio a dor
E exalto a paixão que habita meu coração.
Num piscar de olhos vejo minha alma em flor.
É o silêncio do universo que me dá outra razão.

É o perfume dos dias que me dá vida.
Pelo seu olor caminho sem destino
E amo cada vez mais a essência tão querida.
Num baloiçar de coração tal um menino.

Sonho o mais-que-perfeito universo a amar.
E sinto cada vez mais a força natura ativa.
É outra alma que me dá energia positiva.

Pela magia do semblante escrevo par a par
E nasce assim uma poesia que habita o mar.
Num mergulhar de azul céu que objetiva.

© RÓ MAR

quinta-feira, 16 de junho de 2016

A MAGIA DA BOLA





A MAGIA DA BOLA 


“Europeu 2016”


Há um não sei quê de magia
Um colorido matizado
Naquela jóia de folia
A bailar sobre o relvado.

Todos a julgam diadema
Quer de noite quer de dia
E em sua leveza extrema
Há um não sei quê de magia.

Adultos, jovens, crianças,
Rola sempre sem enfado
Soltando em suas andanças
Um colorido matizado.

Há quem se perca por ela
E de tudo faz tropelia
Pois há um toque de gazela
Naquela jóia de folia.

É venerada por todos
Como um ícone sagrado,
Suor e lágrimas a rodos
A bailar sobre o relvado.

Não tem alma mas tem ar
De um elegante recorte
Dá fortuna e dá azar
Conforme a estrela da sorte.

Agitam-se nela as paixões
E todo o humano a adora
É reles mas dá milhões
Na roleta de cada hora.

Se há quem perca a cabeça
Ou quem se afrouxe da mola
Também há quem s´ envaideça
Pela louca magia da Bola!

Frassino Machado

In A MUSA DOS ESTÁDIOS


HINO DA SELEÇÃO DE PORTUGAL





HINO DA SELEÇÃO DE PORTUGAL


Somos europeus, somos PORTUGAL,
Temos a bravura e a coragem lusitana,
Que herdámos de Afonso Henriques,
O nosso primeiro rei, O Conquistador.

Vamos prosseguir com mais conquistas,
Nos estádios de futebol, do campeonato
Europeu, em que lutaremos por vitórias
Até ao jogo final, o nosso maior desejo.

Temos os melhores jogadores e técnicos,
Eles são a nossa esperança de vencermos
Os nossos rivais, dando a alegria merecida
Aos portugueses, de esperança apetecida.

Nunca ninguém nos vencerá, é a vontade
Indómita de conquistar o cobiçado troféu,
E nos imaginarmos num cantinho do céu,
Quando soar o apito final do último jogo.

SOMOS EUROPEUS SOMOS PORTUGAL

Ruy Serrano


quarta-feira, 15 de junho de 2016

COMO É LINDA A NATUREZA





COMO É LINDA A NATUREZA


Ouço os pássaros cantar
Borboletas que esvoaçam
Joaninhas a sobrevoar
Todos, os que por elas passam,

Cantam as aves saídas dos ninhos
Cantam seus pais, para os ver voar
Começam ninhos a cair sozinhos,
Os passarinhos começam a chilrear

Escolhem os galhos das árvores,
Onde na folhagem se possam abrigar
Cantam alegres todo o dia,
E na minha janela, eu fico a olhar

Vejo como é linda a natureza
Que Deus a criou linda e bela
É tão grande toda a beleza,
Que consigo ver da minha janela

Vejo a Serra de Sintra tão pura
A olhar para mim,e eu para ela
Para o stress não há melhor cura
Que passear um dia dentro dela!!

Joana R. Rodrigues

SABOR II




SABOR II


abrir-te no meu peito e expulsar-te 
ver-te mais além no horizonte do meu olhar
e sentir-te o perfume do mar 
a grossura do solo nos pés 
e correr nas colinas das nuvens
planícies para te entregar
as perólas que julgueis perdidas
nas tábuas que a legião inteira indaga
o que nelas haveis escrito
que meu ser encerra por guardadas
no abraço que te darei sem esforço
porque em ti serei eterna grata

Ana Carvalhosa

LISBOA – PORTO








LISBOA – PORTO


«Trovas do Intercidades»


Saído da nobre capital
O meu trem Intercidades
Com horário pontual
Serve a todas as idades.

Tarde quente, hora de sesta,
Gente humilde e senhorial
Não há viagem como esta
Dentro do que é habitual.

Carruagem vinte e quatro,
No lugar de trinta e cinco,
Ambiente de bom trato
Arejado como um brinco.

Cantei um adeus a Lisboa
Pela estação do Oriente
Mas outra voz me entoa
Aquele aviso corrente:

“Srs. passageiros, boa viagem,
Tomem lugar de marcação
E quanto à vossa bagagem
Não lhe percam a visão.”

Temperatura agradável,
Uma dezena de estações
Com horizonte admirável
E requintadas sensações.

O trem vai a abarrotar,
Esgotada a lotação,
O que importa é viajar
Sem olhar à condição.

Há turistas e mais turistas,
Vão do sul até ao norte,
A alegrar as suas vistas
Com belo gosto e recorte.

Céu azul, horizonte claro,
Nuvens baixas transparentes,
Olhar singular e raro
Estendido a várias frentes.

“Srs. passageiros, há café
Na carruagem de serventia,
Lugares vagos, mas de pé
Como manda a cortesia.”

Está à vista Santarém,
Falta muito por ventura.
“Confiram se vai tudo bem
E se a bagagem está segura.”

Entraram mais passageiros,
Carruagem superlotada,
Com malas e sacos cheios
Já não cabe lá mais nada.

Neste Junho tão vaidoso
Com uns dias de poisio
Cada veraneante gostoso
Tem um ar de desafio.

Ainda não é Sto. António
Mas é o Dia da Nação
E Camões é património
Que merece distinção.

Eis agora Entroncamento,
Militares e mais militares,
De cabeça em cata-vento
À busca doutros ares.

Vai passar o trem em Fátima,
Mas não é peregrinação,
Pois o ambiente já em lástima
Quase a raiar a confusão.

Fátima não é o destino,
Aqui ninguém quer sair,
Pois que não é figurino
Pra nesta Quadra cair.

Estamos já em Pombal,
Já se ouve uma outra norma:
“Vejam se vai tudo normal
E cuidado co´ a plataforma.”

“Srs. passageiros, Alfarelos,
Ligação a Figueira da Foz.
Activem vossos desvelos.”
Todos ouvem a mesma voz.

À distância Coimbra é encanto
Por ser polo de Portugal
Com saudades ou com pranto
Salta à vista o seu choupal.

Ao largo está Pampilhosa,
Não sei se da serra, se do mar,
A minha ânsia pesarosa
É a vontade de chegar.

Nuvens brancas sobrepostas
Surpreendem o meu olhar
Sobre o cume das encostas
Que dá prazer ao admirar.

Está por perto a fresca Aveiro,
Uma urbe desenrascada
Que é o patamar derradeiro
Que dará fim à jornada.

Do Ovar azul suas campinas
Com regueiras horizontais,
Leves águas cristalinas
Passeando pelos canais.

Já se vê a esbelta Espinho,
Suas verdes envolvências,
Com canteiros de rosmaninho
E aromáticas essências.

Já pressinto ares de Gaia
E o comboio segue voando
E, antes que me descaia,
Fecho meus versos trovando.

Chegou o meu trem, por fim,
Muita gente dele saiu
Um amigo que espera por mim
Ao ver-me descer sorriu.

Era fim de tarde na Vila,
Um fresco cacimbo no rosto,
Minha saudade tranquila
Por, em criança, ali ser posto.

Levou-me o ilustre anfitrião
Pra vivenda acolhedora
Onde, por si, fez questão
De me receber agora.

Vencida foi a distância
Da capital até ao norte
Pra, amanhã, em militância
Ser evento doutra sorte!

Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA


O DIA DE NAMORAR


Imagem- Gold ART


O DIA DE NAMORAR


O dia de namorar é todo o dia
Que ele e ela olham nos olhos
Que expressam sentimentos de verdade
E pronunciam as sílabas de um beijo, de saudade,
Gesticulando os lábios entre si e a poesia.

O dia de namorar é todo o dia
Que ele e ela olham o universo
Que ensina a verdadeira natureza
E semeiam raízes de uno coração, de beleza,
Gesticulando as mãos entre si e o universo.

O dia de namorar é todo o dia
Que ele e ela olham o céu
Que inventa ventos, de todos os sonhos,
E entrelaçam o devir de almas, de momentos,
Gesticulando a vida entre si e o fiel.

© RÓ MAR


segunda-feira, 13 de junho de 2016

SANTO ANTÓNIO




FERNANDO PESSOA – 13 de JUNHO


Fernando António Nogueira Pessoa 
Lisboa, 13 de Junho de 1888 — Lisboa, 30 de Novembro de 1935


SANTO ANTÓNIO


Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir...
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!

Santo António és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.

(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João...
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)

Adiante... Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.

Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera...
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.
Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.

Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.

Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.

Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza,
Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.

(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? ...
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.

És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.

És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.

És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.

Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?

© Fernando Pessoa

EU SOU DO TAMANHO DO QUE VEJO




I - Eu sou do tamanho do que vejo


Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Fernando Pessoa [Alberto Caeiro], 
"O Guardador de Rebanhos"

domingo, 12 de junho de 2016

SANTO ANTONINHO




SANTO ANTONINHO 


“Florinhas da juventude”


Sto. António, Sto. Antoninho, 
Eu não te sabia finório
Pão com sardinhas e vinho
Levavas do refeitório.

No convento eras Fernando
Vinhas pra rua com vinho
Co´os amigos, feito malandro,
Sto. António, Sto. Antoninho.

Dinheiro não o havia,
Metias-te num peditório
E de quantia em quantia
Eu não te sabia finório.

Depois ficavas alegrote:
Com um simples tostãozinho
Embrulhavas num pacote
Pão com sardinhas e vinho.

Guardião por ti passando
Com uma cara de velório
Adivinhou, magicando:
Que levavas do refeitório.

E tu não te descoseste
Abriste o teu burel rico:
“São pãezinhos - logo disseste
E uma aguita pro manjerico”.

-“Naquele saqueta velha,
Cheira-me a sardinhas e pão
Se m´enganas com a botelha
Já me não escapas da mão”.

-“Não há crise, ó frei Abade,
O vinho não há-de faltar
E eu não fugi à verdade
Que a água é p´ra se lavar.

- Já agora, vinde daí também,
Que isto é tudo malta fixe,
Damo-nos todos muito bem
E o Ofício que se lixe…”

-“Vá, por hoje fica assim,
Também quero uma sardinha,
Que é que m´importa a mim
Se tu andas nesta vidinha!”

E assim, com estas florinhas,
Seja lenda ou invenção, 
Os teus pães e as sardinhas
Estão vivos na tradição.

E tu, com a tua calma,
Como filho do povinho,
Assumiste de corpo e alma
O nome de frei Antoninho.

Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

NAMORAR LISBOA




NAMORAR LISBOA


Namorar Lisboa é sempre namorar o azul do Tejo;
Olhar pelo rio e mergulhar o desejo
De observar o amor entre o coração e o ar salgado de um beijo,
De aguarelas portuguesas, ao arrebol do nobre azulejo.

Namorar Lisboa é sempre namorar o verde do parque;
Deitar na relva e ler o pensamento
Do universo entre a alma e o ponto de desembarque,
Da cultura portuguesa, e arquitetar o papiro do momento.

Namorar Lisboa é sempre namorar a geometria das calçadas;
Caminhar nas ruas e outras vielas e sentir o encanto, das pedras,
Da vida entre o passeio e outra mocidade,
Das artes e mui ofícios, ladrilhado a história de utopia e realidade.

Namorar Lisboa é sempre namorar a tradição;
Ornar a capital e atravessar seus bairros em passos de alegria,
De manjerico, em barro, entre a mão e o peito, e viver a poesia
Das quadras populares, que compõe toda uma nação.

© RÓ MAR 

sábado, 11 de junho de 2016

RECEITA MINHOTA P´ RAS FESTAS POPULARES




RECEITA MINHOTA 

P´ RAS FESTAS POPULARES 


Gordinhas, frescas e bem boas
Sardinhas, caldo verde e cerejas
Santos Populares, muitas pessoas,
Festas de arromba sem invejas.

Aldeias do Minho engalanado
Cheirinho a caldo verde e broas
Não se olha ao preço mas ao regalo
Gordinhas, frescas e bem boas.

Fins-de-semana de bons ares,
Arraiais no adro das igrejas,
Alegres cantigas e manjares
Sardinhas, caldo verde e cerejas.

Missas cantadas e sermões,
Ricos donativos das patroas,
Largas fanfarras e foliões
Santos Populares, muitas pessoas.

Por toda a parte, nada de novo,
Almas abertas benfazejas,
Não há quem conteste este povo
Festas de arromba sem invejas.

Santo António, de corpo inteiro,
Se mora em Lisboa nem parece;
São João, se no Porto é vezeiro, 
Digam a S. Pedro que ele agradece.

Mês de Junho, porta de Verão
Andam os corpos a espairecer
Tristezas não pagam dívidas, não,
E as alegrias ajudam a viver!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

SANTO ANTÓNIO




SANTO ANTÓNIO


Vivam os Santos Populares
Chegados no mês de Junho
Santo António é o primeiro,
É chamado de casamenteiro,

Santo António, quer alegrias
As noivas quer abençoar
Nos casamentos e romarias,
Outros pares irão começar!!

Treze de Junho dia abençoado
Serão as noivas protegidas,
Santo António é consagrado
E na noite não faltam as cantigas

Vivam as Marchas e a alegria
E o Santo António de Lisboa
São dias de festa e romaria,,
Bom vinho e sardinha da boa

Vivam as festas populares
Viva as nossas romarias
Vivam as marchas,e cantares
Viva o povo com alegrias,!!

O POETA DE PORTUGAL




O POETA DE PORTUGAL


Ó Poeta… quantas lágrimas de sal 
Derramadas por mares nunca antes navegados,
Consolidaram-se venturas e desventuras 
Na tua alma de génio, à descoberta de novos mundos.

Dom de coração apertado e largo ao Universo,
Que se fez ao mar em rima e verso,
Glória na epopeia segredada às levianas
E tempestuosas ondas se fizeram luz à literatura.

Se fez glória e jus à tua Pátria, 
Pelos caminhos espinhosos se soltou a palavra,
No teu som Platónico, vibrou a mais bela melodia 
E, aconteceu o imortal soneto, a arte da poesia.

Tua língua mátria louvaste,
Pelo tanto que a amaste,
E, hoje e sempre serás o Poeta de Portugal.

© RÓ MAR

sexta-feira, 10 de junho de 2016

CAMÕES


O Velho do Restelo, Lusíadas  de Luís Vaz de Camões 


CAMÕES


Quantos sonhos, Luís Vaz
quanta utopia
no teu tempo insegurança
e no meu
quanto o teu sofrer 
quanta agonia
por um país 
o nosso
que ao tempo morria,
e hoje, outra vez
quase morreu…
quanta espera Luís Vaz
desesperança
de acharmos um meio
convincente
de dar cura aos males
que lhe infligem
a usura, a inveja
a maldição
dos “velhos do Restelo”
que ficaram…

foi deles o legado
da ambição
e apesar do tempo 
já passado
é deles esta herança
perdição…
tu, que cantaste 
a nossa gesta heróica
e a leste um dia
ao Desejado
melhor fora Luís Vaz 
teres nascido
num tempo mais feliz
em qualquer lado!

Maria Mamede


DIA DE PORTUGAL




DIA DE PORTUGAL


Dia de Portugal
Dia de Camões 
Símbolo Nacional 
União dos corações 

A simbiose perfeita
De um lado a cidadania 
Que há muito tem eleita 
Esta Nação de poesia

Orgulho de Portugal
Filhos desta nobre Nação
País assim não há igual
Portugueses de grande coração 

Apenas uma situação me entristece 
Lembramos Camões o ícone da poesia
Mas dos poetas este País se esquece
Leiam os Lusíadas e vejam o que Camões escrevia

Paulo Gomes