SÃO MARTINHO 2020







SÃO MARTINHO 

VINHO NOVO


Esta quadra ensolarada
A que se chama Verão
É uma quadra memorada
De carisma e tradição.

Acabadas as colheitas
É preciso fazer contas
E, se estiverem direitas,
Não se receiam afrontas.

Estão cheios como um ovo
Os baús de toda a gente
São Martinho e vinho novo
Já cá cantam à nossa frente.

Nas eiras não se vê grão
Pois este sol já não chega
Porém atestadas estão
Todas as pipas na adega.

Não há tarefas estranhas
E nem há tempo a perder
Venham lá essas castanhas
Pra todo o mundo comer.

Seja tinto, seja branco,
Sejam cozidas ou assadas,
O convívio é sempre franco
Até às altas madrugadas.

O Outono acorda tristonho
E às vezes chove miudinho
Mas o espírito fica risonho
Com uma caneca de vinho.

São Martinho está presente
Interessado na sua festa
A alma fica mais quente
E a alegria se manifesta.

Não há Crise que se mantenha
Nem tristeza que o impeça
Venha lá farra e mais venha
Para que a vida engrandeça!

© Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS




S. MARTINHO


Eu não me sinto inspirado
Do S. Martinho não gosto
Ponho as castanhas de lado
Ao meu nome sou oposto

Castanheira toda a vida
Faz-me lembrar este tempo
Num ouriço foi parida
Para alguns grande alimento

Vê-las a assar no lume
Na rua são bem vendidas
Com sal deixam queixume
E na sua casca são feridas

Comem-nas com jeropiga
Até mesmo com água pé
Às vezes dá grande espiga
Pois não se aguentam de pé

Eu acho que é madeira
Aquilo que a gente come
Não sei se digo asneira
A mim não me mata a fome

S. Martinho me perdoa
Se por vezes eu te ignoro
Devo ser única pessoa
Que a come-las não demoro

Foste amigo dos pobres
Quando lhe davas a roupa
Agora tiram-lhe uns cobres
E não é coisa tão pouca.

© ARIEH NATSAC | 2020



C A S T A N H E I R O


      C astanha, a sementinha do ouriço,

      A limento poderosíssimo e roliço;

      S aborosa e nutritiva, fruto do castanheiro,

      T radição de São Martinho milagreiro.

      A chegada de novembro é denotada

      N as ruas pelo cheirinho delas...

      H á-as assadas à dúzia (empacotada)

      E "quentes e boas" - apregoam elas!

      I ndispensáveis na gastronomia

      R egional portuguesa e no dia

      O nze há magusto, vinho e alegria!

© Ró Mar | 2020




JÁ CHEIRA A SÃO MARTINHO 


Neste belo Outono já cheira a São Martinho,
Já cheira a São Martinho e às castanhas,
Já vai escorrendo a jeropiga e o vinho
E não há fingimentos, nem falsas manhas.

Depois de umas semanas, assaz estranhas
Com um chato inverno olhando de mansinho,
Eis, à porta, uma das mais loucas campanhas
Pela qual todos suspiram com carinho.

A chuva meteu baixa e foi-se já embora,
Baila de canto em canto um inquieto vento,
E uma nova diversão se ajusta agora:
Verão de São Martinho, um contentamento.

Não faltam as castanhas a toda a gente
Cozidas ou assadas, na esperta brasa,
Não falta a jeropiga nem a aguardente,
E nem sequer um “grãozito” em cada asa.

E reza a tradição que, p´ lo São Martinho,
Comem-se as castanhas de copo na mão,
Pois é tempo de ir à adega ao novo vinho
Enquanto decorre o seu bem vindo verão!

© Frassino Machado
In ODIRONIAS




O TRADICIONAL 

CALDO VERDE


São Martinho à mesa portuguesa
Tem outro paladar, não pode faltar
O chouriço e a couve portuguesa
Para o tradicional caldo verde!

Ainda que haja bastante pobreza,
Há sempre broa e vinho na mesa,
Febras e castanhas pela brasa,
A loiça de barro é prata da casa!

© Ró Mar | 2020




CALOR E CASTANHAS


No outono que bem que sabe,
Quentinhas nas palmas das mãos.
Castanhas nas brasas assadas,
Da época, as que fazem a tradição.

É o frio que traz a ementa.
E ao som do crepitar,
Meu corpo feliz aumenta
A vontade d'm'aconchegar

Muito me apraz o calor!
Humano e o que emana da lareira.
À minha maneira dou valor,
Aos que rodeiam minha beira.

Mas venha um copo de vinho,
Branco, tinto ou água-pé;
Se não houver assadas,
As castanhas podem ser piladas,
Ou até com erva-doce;
Tudo serve, nem que cruas fosse!
Pra dourar o meu coração.

Será grande o serão da castanhada 
se por tudo isto estiver acompanhada.

© RAADOMINGOS | 2020




FRAGMENTOS DE SÃO MARTINHO

(Quadras sobre provérbios tradicionais)


 “A cada bacorinho vem o seu São Martinho.”

Anda, anda bacorinho
Vai comer da fresca relva
Aproveita o São Martinho
Para fugir da tua selva.

 “Em dia de São Martinho atesta e abatoca o teu vinho.”

Apura bem o teu vinho
Não o deixes minguar
Se o provas no São Martinho
Bebe-o sem embebedar.

 “São Martinho bebe o vinho, deixa a água para o moinho.”

Para o pão ficar limpinho
Do moinho as águas movem
Mas chegando o São Martinho
Só bom vinho bebe o homem.

 “No dia de São Martinho, fura o teu pipinho.”

Nem todos sabem furar
Na adega o seu pipinho
E se o vinho não se poupar
Não dará pro São Martinho.

 “No dia de São Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho.”

Às vezes comem-se nozes
E outras coisas estranhas,
No São Martinho dizem as vozes
Não há nada com´ as castanhas.

 “No dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho.”

Sentemo-nos aqui ao lume
Castanhas e vinho à maneira
Com São Martinho já´ é costume
Estarmos juntos à lareira.

“No dia de São Martinho, mata o teu porco, 
chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho.”

Por alturas de São Martinho
Na minha aldeia há matança
E há castanhas e bom vinho
Com petiscos de confiança.

 “No dia de São Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho.”

Matar o porco não chega
No Verão de São Martinho,
É preciso trazer da adega
Uma boa infusa de vinho.

 “No dia de São Martinho, vai-se à adega e prova-se o vinho”.

Toda a gente vai à adega
No dia de São Martinho
Fêveras, castanhas à pega,
Regadas por belo vinho.

 “Pelo São Martinho abatoca bem o teu pipinho".

Se não sabes a abatocar
O pipinho lá de casa
É São Martinho a avisar
Que já tens um grão na asa.

 “Pelo São Martinho castanhas assadas, pão e vinho.”

Sejam cozidas ou assadas
Venham elas e mais venham
São Martinho serve-as dadas
Àqueles que as não tenham.

 “Pelo São Martinho mata o teu porquinho e semeia o cebolinho.”

Nem só o vinho é São Martinho,
Ele próprio o determina,
Há que semear o cebolinho
P´ la orvalhada da matina.

 “Pelo São Martinho prova o teu vinho; 
ao cabo de um ano já não te faz dano.”

Faz tua prova de vinho
Com uma branca caneca
Se não for no São Martinho
És totó levado da breca.

 “O Sete-Estrelo pelo São Martinho, vai de bordo a bordinho; 
à meia-noite está a pino.”

Venha de lá o Sete-Estrelo
Com o São Martinho a bordo
Já o careca tem cabelo
E o abade está mais gordo.

 “Se o Inverno não erra o caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho.”

São Martinho é conta certa
Chega sempre o seu Verão
Vou-me já à descoberta
De uma outra diversão.

 “Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo São Martinho.”

Não quero pasmar o vizinho
Com mais uma trabalheira
Mas pedirei ao São Martinho
Que não mingue a esterqueira.

 “Verão de São Martinho são três dias e mais um bocadinho.”

Vindimar a tempo o vinho
É saber, sem complicar,
Pois que pelo São Martinho
Até o Verão tende a acabar.

 “Vindima em Outubro que o São Martinho mais te dará.”

Vindimar tarde demais
É prejudicial para o vinho
Comem os bagos os pardais
Pra desespero de São Martinho.

 “Não há bacorinho sem o seu São Martinho.”

S´ é fartura ter bacorinho,
E haver castanhas à farta
Pra alegria de São Martinho
Que entre nós ele a reparta.

“Quem parte e reparte e não escolhe a melhor parte… 
ou é tolo ou não tem arte.”

Ele há cortes e recortes
Em toda a economia séria,
São Martinho entre os fortes
Foi remédio pra miséria…

Aprenda-se com São Martinho
Este gesto-maravilha:
A quem pede dar carinho
E, já agora, uma partilha.

Quem no mundo tem poder
Olhe para o São Martinho
Do que não precisa de ter
Dê a todos um poucochinho.

Se os poderosos o não fazem,
Como o não faz quem é tolo,
Por entre misérias trazem
Para Humanidade dolo.

O São Martinho escolheu
Para si a melhor parte:
Se ele ao mendigo aqueceu,
Vejam lá se não teve arte!

© Frassino Machado
In FRAGMENTOS POÉTICOS

Bibliografia: Machado, José Pedro – O Grande Livro dos Provérbios, Ed. Notícias, 1996




CASTANHAS COZIDAS 
OU ASSADAS?


Novembro a alinhavar
Uma estadia prolongada,
São Martinho perdeu o lugar
Ao sol e vem aí chuvada!

O tempo apela ao bom senso
E por via de não constipar
A tradição fica em suspenso,
Mas, castanhas não vão faltar!

Aqui ou em qualquer lugar
O fruto sazonal tende a engordar
E este ano não é excepção,
Embora não haja emoção!

Castanhas cozidas ou assadas?
Quentes incham a barriga,
Há quem goste delas piladas,
Todas vão bem com jeropiga!

São Martinho emilagrado!
Há velas por toda a casa
E à hora de rezar é o fado
Que faz as honras da casa!

© Ró Mar | 2020




O CASTANHEIRO MILAGROSO 


“A estória de uma lenda”


Junto ao tortuoso e áspero caminho
Erguia-se um castanheiro centenar,
Ali passou um dia o bom Martinho
Tencionando da chuva s´ abrigar.

Martinho era um esbelto cavaleiro
Pertencente às romanas legiões
E tendo cavalgado o dia inteiro
Cansado quis parar as emoções.

Eis quando ouve uma voz do interior
Daquele velho tronco carcomido
E, ficando transado de temor,
Puxou de sua espada destemido.

Viu assumir do largo buracão
Um rosto de um velhote meio louco
Que, tirando pra fora a trémula mão,
Falou ao cavaleiro num tom rouco:

- Ó poderoso, nobre e bom soldado,
Que aqui me vedes nesta moradia
Não façais mal a este desgraçado
Que passa a triste vida em agonia!

- Ai, ó homem de Deus que estou a ver
Em tal deserto longe de algum lar,
Como é possível aqui sobreviver
Sem nenhum alimento pra tomar?

- Ó meu nobre senhor, olhai à volta
E vede estes ouriços a sorrir,
Há destes frutos e há muita bolota
Que em cada dia está sempre a cair…

- Eu sei que boas são estas castanhas
E a bolota com bom aspecto está
Mas deverás passar mínguas tamanhas
Com esta chuva e o frio da manhã?

- Sabei, nobre senhor, daqui não saio
Pois mais vale só que mal acompanhado
E, além disso, também cá mora um gaio
Que comigo tem tudo partilhado…

- Tens frio… Toma lá deste meu manto
Metade para ti que eu não preciso…
E a chuva estancou como por encanto
E um claro sol abriu-se de improviso.

E aquele pobre velho até chorou,
Num terno fim de tarde inesquecível,
E o bom Martinho a viagem continuou
No fim daquela acção irrepreensível.

Algum tempo depois o velho morreu
Mas o castanheiro até hoje lá ficou…
O povo daquele velho não esqueceu:
Ali fez campa, e ermida edificou.

E o castanheiro dura e nunca morre,
Continuando a dar fruto, mais e mais,
E em cada ano o povo ali ocorre
Com festas e magustos tradicionais.

Toda a gente se alegra com carinho,
Toda a gente se farta com castanhas,
E toda a gente reza a S. Martinho
Pra que acabem as doenças e as manhas.

«Ó nosso S. Martinho, protege o povo,
Salva-nos das procelas e dos abismos
Protege adegas, e acresce o vinho novo
E despe-nos dos tristes egoísmos!»

© Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS



Sonetos Do Universo | 2020