domingo, 23 de setembro de 2018

AS VINDIMAS DA MINHA TERRA




AS VINDIMAS DA MINHA TERRA

  
- Torna, torna, torna, torna!
Alguém grita lá do alto
- Aí vai cesta para a dorna!
E as moças em sobressalto.

- Torna, torna, torna, torna,
Cá vai cesta carregada!
- Torna, torna, torna, torna,
Quero-a aqui já esvaziada! 

Torna, torna, dizia o Quim,
Para eu ir correr também
Vinha a cesta para mim
E já eram mais de cem…

As vindimas, por instinto,
Quer de graça ou mesmo à jeira,
Vinho verde, branco ou tinto,
Todo o ano uma canseira.

- Torna, torna, sor António
Faça a cesta deslizar,
Quem me dera ser campónio
Pro poder desafiar!

- Trinta e dois degraus acima
Vejo ali mais outro cacho
Espreita lá, ó bela prima,
Já que estás aí em baixo!

- Torna, aqui para a latada
Venha lá mais outro cesto,
E lá diante baixa escada
Pra colher aquele resto!

Era ver as moças novas,
Sempre alegres e a cantar
Vira, vira e outras modas
E às vezes a dançar.

Já lá vem carro de bois,
Que se ouve a chiadeira,
Dornas cheias e ao depois
Há pisada a noite inteira.

Era assim o dia todo,
E com muito ou pouco grau
Saía vinho sempre a rodo
Com arroz de bacalhau. 

- Ó Armindo traz lá o fole,
Ó André, e a concertina?
Ninguém tenha o corpo mole
Nem que seja ali na esquina! 

E começa a desgarrada
Pernas limpas à partida,
Até à alta madrugada
Pra cumprir a lei da vida.

Fica o vinho no lagar
Dois, três dias, feito mosto
Com uma cana pra atestar
Vê-se logo se tem gosto…

- Ó vindimas colossais
Vamos todos, manhã santa,
Colher uvas mais e mais
Que esta nossa já cá canta!

Frassino Machado
CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS

OUTONO




OUTONO


Outono dos Poetas e Pintores
Onde as tuas aguarelas
De cores suaves e singelas
Em largas pinceladas
De folhas desgarradas
Num redemoinho
Vão bailando, bailando!
Ao som da música do vento
Que ora é agreste e assobia
Ou cantando doce melodia!
Num lindo pôr-do-sol
Vem anunciar um novo dia
E o vento continua a tocar
E as folhas a bailar
Num bailado constante
Onde a própria aragem
É música e poesia!

© Paulo Gomes

OUVIR O CORAÇÃO!




Ouvir o coração!


Sinto uma brisa de manhã
que me diz para ter cuidado,
- não vás por aí...
Paro um pouco 
e escuto a voz da esperança
que me pede para ter calma e paciência,
tudo vem na hora certa...
No silêncio da noite,
ouço a voz da paz que me diz
para escutar meu coração...
E o meu coração,
mestre nos conselhos,
grita aos pulos:
vai em frente, 
confia,
acredita
e sê feliz!

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

POMBA DA PAZ !!!...




POMBA DA PAZ !!!...


Voa... voando p´ro ninho;:
Pomba branca como a neve...
Não te percas p´lo caminho;
Vai depressa e volta em breve!...
A paz que voa... voando...
Nas tuas asas pombinha;
A esperança vai deixando,
P´lo mundo onde caminha!...
Vai voando sem parar...
Deixando o ódio p´ra trás;
E vai o mundo alertar;
Se a prepotência acabar,
Podemos viver em paz!...
Muitas pombas vão voar,
Muitas esperanças também...
Mas ficam sonhos no ar;
Se a paz um dia chegar...
Viver no mundo... é um bem!...

© António Cláudio

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

OS NENÚFARES




OS NENÚFARES


Indecisa é a aurora tardia
Não deixa a escuridão adormecer 
Já no espelhado calado do dia
Aberto com prazer para a esconder

Tristes são os nenúfares a hibernar
No lago as raízes estão submersas
Cabelos de uma ninfa a dormitar
Faz tela rara de belezas diversas.

Breve o outono não tarda em chegar
Com novas folhas verdes redondas largas 
Flor de Lotus coloridas um fascinar
São magas de lagos, jamais são amargas.

Amo papoilas, lírios e nenúfares…
As papoilas eu escrevo como temas 
Também dos lírios no campo em cantares
Mas nenúfares na água são poemas
Que fascinam e me dão cor ao olhar

© Maria Lúcia Saraiva

O COMBOIO



© Lúcia Ribeiro

TROVAS DA MINHA ROMAGEM




TROVAS DA MINHA ROMAGEM 


«A caminho da Penha»


De cá, de Lisboa, me embarco
Pelas onze e trinta em ponto,
E p´ las quinze e trinta, eu conto,
Chegar ao destino que abarco. 

Para Guimarães de viagem,
Esperando lá chegar bem
Boa saúde, como convém,
Será esta a minha romagem.

Eu vou a caminho da Penha
Num gesto de peregrinar,
Cheio de fé espero lá chegar,
E a bênção da Virgem me venha. 

Pulula cá dentro de mim
Sincera alma a fervilhar
Ardendo em fé viva sem par
Num lauto banquete sem fim.

De comboio Intercidades
Viajo num franco transporte
Deus me dê toda a boa sorte
Para que saiam as ansiedades.

Discreto pranto de comoção,
Uma jovem a meu lado sofre
Escondendo na alma um cofre
Com mistérios de coração… (?)

- Ó Senhora da Penha, atende
A jovem qu´ a meu lado vai
Pois todo o sofrer sempre atrai
A quem todo o outro compreende.

A Santarém estou chegado,
Em manhã de sol radioso,
Sinto-me um pouco ansioso
Dentro dum trem superlotado.

Já passei no Entroncamento
E agora atravesso Pombal,
Terminei de ler o jornal
Sem novidades de acrescento…

Li apenas que, certo ministro,
Apresentou plenas garantias
Da CP crescer em melhorias,
Mas onde é qu´ eu já ouvi isto?

Oiço a anunciar Alfarelos,
Cerca de metade do caminho,
Bebo de água um poucochinho,
Água da Penha, sete-estrelos. 

Agora, Coimbra no horizonte,
De nome “B” convencional,
E o famoso Estudo Geral
Lá muito no alto e defronte.

Mais adiante corre o Mondego
Por um Choupal esverdeado,
O trem não circula atrasado
E sente-se cá mais sossego.

Entraram, porém, passageiros
Buscando para si lugar
Um ou outro a minguar
Pois nem todos são hospedeiros.

Estendem-se vinhedos e pomares
Quase prontos para a colheita,
Será que haverá boa receita
E um proveito de bons ares?

Vem a estação de Pampilhosa,
Fala uma voz anunciada,
Numa atmosfera enrolada
Em paisagem meio brumosa.

A cidade de Aveiro à vista,
Muitas pessoas vão a sair,
Para nova viagem seguir
Numa ansiedade alquimista.

E, eis a cidade de Espinho,
Sinto na pele adrenalina,
E o sol, a rasgar a neblina,
Deixa mais aberto o caminho.

O trem já ultrapassou Gaia,
Deslizando por sobre o rio,
Campanhã está ali por um fio
Com outra gente e outra laia… 

Gente e mais gente que saiu
Há mais largueza, coisa rara,
Segue o tempo e ele não pára
E Lisboa ninguém mais a viu.

Saiu o trem de Campanhã,
Em carreira de Trofa-a-Fafe,
Passa o Minho com´ interface
Em meia hora estarei lá…

Entre a Trofa e o Santo Tirso
Com silêncio e sem alvoroço
Dei-me, co´ apetite, ao almoço:
Bife, banana, pão e chouriço.

De um tinto amigo, nem vê-lo
Que a prudência já tem manha,
Bebi uma aguita da Penha
Bem guardada com muito zelo.

Em Vizela estou transitando,
Neste tão precioso momento, 
No alto das Pêras São Bento
Que dá prazer ir admirando.

Passa o comboio em Nespereira,
Que bela que está esta tarde,
Sinto uma saudade que arde
Quando avisto a Casa da Beira.

Já tenho Guimarães à porta,
O meu corpo já o pressente,
Vejo a Penha no alto, e à frente,
E todo o meu Eu se exorta.

Guimarães, Cidade de Bem,
Debaixo de um sol tão brilhante,
- Que calor! Ouvi num instante,
Duma boca não sei de quem…

O fiel comboio chegou à hora,
Quase toda a gente saíra,
Alegria, essa, ninguém ma tira
Já cá estou a partir d´ agora.

Passeei até à hospedagem,
O meu lugar está reservado,
A viagem correu como é dado
Nesta minha louca romagem.

A vida, por aqui, está calma
Na esperança da Senhora da Penha,
Fica feliz quem por cá venha
Dar alimento à sua alma!

Frassino Machado
TROVAS DO QUOTIDIANO

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

S E T E M B R O


Imagem: J'ad' OR


S E T E M B R O



S empre que o vento embala as árvores 

E leva as folhas a passear p´los jardins

T emos vasta beleza de tons ocres

E m pergaminhos de querubins.

M istíca que realiza o nono mês,

B álsamo de diversa natureza

R ecriando a chuva estrelar que vês:

O iro de outono p´la passarela da singeleza.

© Ró Mar

AMA A VIDA!




Ama a vida!


Olha para as coisas com beleza,
sente as pessoas com o teu coração.
Agradece cada dia e pela natureza...
que Deus te oferece e cada bênção.

Os dias são mais lindos com poesia,
a vida fica mais colorida e perfumada.
Enche a tua vida de flores e alegria
e sorri para a vida para te sentires amada.

O Sol, no céu, está sempre presente,
apanha um pouco do seu lindo brilho
e coloca-o no teu coração que sente
a vida e o amor como quem faz um filho... 

Vive cada momento com interesse e bondade
porque a vida é única e cheia de surpresas.
Aprecias as coisas boas como a amizade,
o amor, a alegria e admira todas as belezas!

E N V E L H E C E R !!...!...


E N V E L H E C E R !!...!...


Idosos!...
Corpos gastos pelo tempo... pela vida;
Recordação, que ficou ou foi perdida...
Rota traçada e percorrida... sem demoras!...
Idosos!...
Vários destinos... sem o fim ser atingido...
Sofrendo por ver o mundo... por ter nascido...
Sentir o passar dos anos... dias... horas...
Idosos!...
Outros tempos... p´ra lembrar ou esquecer...
Muitos faltando restos de vida... p´ra viver!...
Quanta experiência... quanta luta... p´ra contar!...
Idosos!...
Encontros com o passado e o presente...
Débeis de corpo... de alma... e de mente; 
Sentindo lentamente o fim da vida aproximar!...
Idosos!...
Pedaços de dramas e alegrias... partilhadas...
Histórias reais... vividas jamais contadas;
Registos do passado... para recordar!...
Idosos!...
Envelhecer normalmente... sem alegria...
Vivendo sem prazer... o dia a dia;
Talvez com receio de partir... se o fim chegar!...
Idosos!...
Experiências reveladas... outras perdidas...
Vidas ignoradas... quiçá esquecidas,
No turbilhão do mundo onde viveram!...
Idosos!...
Restos de juventude... de mocidade...
Diluídos... perdidos no tempo com a idade;
Mas continuam vivos!... VIVOS... NÃO MORRERAM!...

António Joaquim Alves Cláudio

ESTÁ AÍ A CHEGAR O OUTONO


Óleo da Pintora Berthe Morizot


ESTÁ AÍ A CHEGAR O OUTONO


Lá vão as searas; entristece o pomar!
Deixam de se ouvir os melros nas hortas.
Rolam pelo chão as folhas semimortas,
Desvairadas, tontas, sem poder parar!

Mas no Outono há coisas que nos fazem encantar:
Nas videiras e carvalhos a sua seiva salutar
Num terno e longo adeus generoso e amigo
Oferece-lhes em tons de damasco antigo,
Mantos vermelhos, ao sol ainda a brilhar!

E as árvores das serras de tronco descoberto,
Castanheiros altivos, giestas e urzes da altitude,
Ainda conseguem ser felizes em tamanho deserto!

Mas o destino ou a sorte nunca é o que a gente espera;
Para vós, vegetais… Ainda volta várias vezes a Primavera,
Para nós, humanos... Fisicamente, jamais volta a juventude!

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

GUIMARÃES, A «ARTE» QUE SE IMPÕE




GUIMARÃES, A «ARTE» QUE SE IMPÕE  


Admirar e sentir a «Arte» vimaranense
É ficar conhecendo a História da nossa Gente,
A história de um País e de um povo heróico
Que nas vicissitudes sempre foi estóico
Criando uma alma virtuosa e eloquente.

Daqui nasceu a história da ilustre Nação
Que ao mundo, em cada dia, vai dando lição,
Testemunho de fé, de empreendimento e luz
No sentido dum Sonho vivo que traduz
Memória criativa de Cultura e Tradição.

É neste contexto que se eleva Portugal,
Servindo de farol e semente natural,
Guimarães, a cidade que cresce a cada hora
E que palpita no sangue de quem lá mora,
É uma indelével fortaleza sem igual.

Guimarães tem o engenho e arte que se impõe,
Que a mão do homem faz e a mente de Deus dispõe!

Frassino Machado
AO CORRER DA PENA

HÁ PALAVRAS




HÁ PALAVRAS


Há palavras esperadas e intemporais
Aquelas que nos deslumbram e fascinam
Ditas ou escritas por pessoas geniais 
Que adoçam nosso olhar e nos iluminam...

Há palavras que nos enchem o coração
Que sublimam a nossa alma e são perfumadas
Com aromas na pele e mais tarde se vão
Há palavras na vida nunca confessadas...

Num qualquer dia serão uma realidade
E transformarão negruras no nosso ser
Há palavras vividas com intensidade...

Acordamos nas manhãs certas com vontades
E nos dão alento para um novo amanhecer
Com palavras carregadas de outras verdades...

Maria Lúcia Saraiva

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

NUVENS...


Imagem: Rêv-éveillée


nuvens...


e então
as nuvens chegaram
prontas a apagar o sol
e não sei quem sou...
lembro vagamente
uma velha fotografia
pintada a sépia
onde não há flores...
só uma medalha
nela sorri um anjo da guarda
que me roubaram...
talvez chova
talvez não...
quem sabe o que em si encerra
uma tempestade de verão?
e o meu corpo perfila-se
pronto a enfrentar demónios
que tantas vezes matei
e voltaram...
a vida é um bilhete de ida
sem volta
mas às vezes há retornos
e que importa?
o que somos
o que fomos...
basta olhar em frente
e enterrar bem fundo
o grito da semente...
porque sou fogo
e ar
e água
mas sobretudo a terra
que percorro...

r.r. - Rosa Ralo

UM GESTO, UM OLHAR…


Imagem- Bellissime Immagini


UM GESTO, UM OLHAR…


Um gesto, um olhar
E tudo pode ser diferente,
Basta acreditar que há vida
E que é para ser vivida.

Um sorriso ao vento
E a vida pode ser um momento
De felicidade, basta olhar
Com olhos de gente.

Um mundo diferente
Não se marca na indiferença
Mas sim no sonho e esperança
Que fermenta a atitude.

Um gesto, um olhar
É o caminho aberto
Para a vida de certezas
E neles circula a via das riquezas.

Um sorriso nos lábios
Um perfume a natureza
São leis de grandes sábios
Além de ser juventude e beleza.

© Ró Mar

AMANHECE




AMANHECE


Na Natureza nada se perde
Nada se cria
Tudo se transforma.
Até a poesia...

Amanhece
Pouco a pouco levanta o véu do olhar 
Sente a vida pulsar
Escancara a porta, em silêncio, acaricia o novo dia 
Abraça o nascer do sol fascinante 
E parte
Nas velas das descobertas
De emoções, de sensações na natureza deslumbrante 
De palavras doces nos lábios da suave brisa 
Nas pétalas de rosa a desabrochar 
Na melodia das aves a acordar
Na água com pressa de ao mar chegar 
Na fragrância intensa que emerge no ar 
E tece uma delicada teia, com fios de letras soltas
Bordada com palavras de esperança e harmonia
Como a musicalidade duma sinfonia 
Que cante um poema ao amor, dia após dia
Na exaltação da VIDA, sem abraçar a nostalgia. 

Isilda Monteiro

AMOR DE VERDADE



Lúcia Ribeiro
Do Romântico ao Brejeiro

O AMOR É ESSENCIAL




O Amor é essencial


Precisa-se de mais bondade e amor
carinho, ternura em todos os corações.
Basta de injustiças e ações sem valor
cada vez mais é urgente boas ações.

Não queiras ser infeliz e individualista
numa sociedade que reclama solidariedade.
Cada pessoa é única e deve ser vista
com respeito, gentileza e dignidade.

Precisa-se de mais mimos e atenção,
laços de ternura, oferecer flores e poesias.
Sorrir e ter amizades sinceras, com feição
porque a vida não tem cor sem alegrias.

É urgente ouvir, ajudar e abraçar
ir atrás dos sonhos para bem viver.
Arranjar tempo para falar, namorar,
e sorrir para mais momentos felizes ter.

Bernardina Pinto

SÚPLICA À SENHORA DA PENHA




O ESPÍRITO DA PENHA I
«Peregrinação à Penha 2018»


SÚPLICA À SENHORA DA PENHA


Monte da Penha ou Monte de Santa Catarina,
Réplica do Monte Carmelo na terra da Palestina.

Nesta altaneira e verde-montanha sagrada,
Com a Cidade Berço a seus pés instalada,

Venho junto de Ti, com a minh´ alma em réplica,
Apresentar-Te sincero, minha fé, minha súplica,

Ó minha Senhora, qu´ és do Carmo e da Penha,
Que atendes sempre a quem muito humilde aqui venha.

Qu´ És sensível, sabemos, a quem te pede saúde,
Por isso espero que olhes à minha solicitude.

Quero que saibas, não é para mim o pedido
Mas, se atenderes, ficar-te-ei sempre rendido:

É para meus amigos, co´ a sua vida aflita
E a quem a mísera sorte mantem em desdita,

São as crianças, e os pobres, e os perseguidos
E os que sofrem no mundo pra sempre esquecidos,

São os que não têm pão e vivem na amargura
Da exploração constante de triste figura,

E são as vítimas da torpe corrupção
E todos os humanos que vivem em solidão.

E já agora, Senhora, também é meu país
Que definha e padece, e continua infeliz…

Nele nasceram gigantes na terra, mar e ar
E agora, só se vê, a miséria a espreitar.

E a pior das misérias, e em consumição,
É o seu vazio de Cultura e de educação.

Ó Senhora do Carmo e da Penha formosa
Suaviza a dura cruz desta Pátria chorosa!

Eu sei que está por cá o Beato Pio Nono
Mas, se ele não liga, este país continuará sem dono,

Eu sei que Santo Elias passa a vida a dormir
E assim não pode ver todo este mundo a ruir.

E vê lá que o Beato Pio passe de vez a Santo,
Que de Beato a Santo não é assim tanto, tanto.

E que este Santo Elias não se meta na taverna
Porque já escandaliza aquela soneira eterna,

Tu, que Te fazes acompanhar p´ la fiel pastora,
E p´ las Senhoras do Carmo e de Lurdes a toda a hora…

E deste excelso e fresco e rijo miradouro,
Afasta para longe todo o nosso mau-agouro.

Ó Senhora do Carmo da Penha bendita,
Tu, a Padroeira, em quem toda a gente acredita,

Sê para nós, enfim, uma bênção sublime
E que a devoção popular se torne mais firme.

Que os Teus dotes maternos, para nós divinos,
Sejam em cada dia a luz para os peregrinos.

E a Ti, Te suplicamos e, em Igreja, cantamos
E de Ti, todo o supremo Bem esperamos!

Frassino Machado
CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS

terça-feira, 4 de setembro de 2018

O SABOR DE SETEMBRO A RESPIRAR


Arte: Autumn by Alphonse Mucha |
Alfons Maria Mucha (1860 - 1939)


O SABOR DE SETEMBRO 

A RESPIRAR


Uma cesta no remate da varanda,
Uma mesa farta de uva moscatel;
O Estio, impregnado ao outono da vida,
Que sorve lábios doseando-os a mel.

O vento fátuo e as folhas a tombar;
Virão noites, manhãs quão pequenas
E também grandes fórmulas de amar
Que trepam a vida em taças amenas.

Uma cesta no remate da varanda;
Uma mesa árida a vinho refinado;
O sabor divino ao néctar da vida.

O vento fátuo e as folhas a tombar;
Virão chuvas, quão novo mundo;
O sabor de Setembro a respirar.

© Ró Mar

GAIVOTA



Joana Rodrigues

TESTAMENTO


Imagem: J'ad' OR


TESTAMENTO


Quando eu partir, filhos meus
que tenho pra vos deixar
a não ser o verbo amar
em desditoso exagero,
o único qu' eu' inda quero
e sempre quis conjugar?!
Posso dizer-vos que creio
ter nascido com o destino
que a cada, de pequenino
diz do bem e diz do mal
que se terá vida fora
e afirmo, nesta hora
sem peias e sem rodeio
que amar será o meio
de o Bem supremo alcançar.

Quando eu partir filhos meus
não tereis terras, dinheiro
nem matas, nem areais
nem nada de que possais
engrandecer-vos, bem sei
mas deixarei a abundância
duma vida com fragrância 
que a Natureza me deu;
vida com bem e com mal
tão simples, tão natural
tão singela com eu;
mas com ela eu procurei
deixar-vos tudo o que sei
fazer-vos ir mais além
incitar vossa vontade
de amar sempre a Verdade
e a Liberdade também!

Quando eu partir, filhos meus
não sereis donos de nada
a não ser da consciência
e nem tereis concorrência
ao querer alma lavada,
pois neste mundo, acredito
vive-se preso no fito
do lucro, do muito ter
por isso, quando eu morrer
tereis apenas em sorte
a certeza de que a morte
é uma porta, a passagem
para a eterna viagem
que à Vida nos conduz;
mas creio poder deixar
bem dentro do vosso peito
o Amor, o mais perfeito
prá vossa vida adoçar!

Maria Mamede

BANALIDADES

sábado, 1 de setembro de 2018

A PEQUENA CASA




A PEQUENA CASA 


P’ra mim foi maior que o palácio dum rei,
a casinha térrea, simples e modesta.
Era tão pequena, mas eu lá me criei,
p’ra além da saudade, dela pouco resta.

Do seu ar maternal, p’ro mundo eu saltei!
Vestida de branco, estava sempre em festa,
com trastes antigos, já fora da lei,
tinha "oca no pé", como a flor da giesta.

Ao canto do lume, nas brasas amigas,
coziam-se açordas, calduchos e migas,
no barro vidrado de rudes tigelas.

P’ra além dos afectos pouco mais ela tinha,
que o quarto modesto, a despensa, a cozinha…
e o sol e a lua a espreitar pelas janelas.

A BELEZA DAS COISAS SIMPLES!


Imagem: Rosas com carinho


A beleza das coisas simples!


Logo de manhã, 
vejo entrar os primeiros raios de sol,
a casa fica toda iluminada, cheia de luz!
Ouço os pássaros lá fora a chilrear
e fecho os olhos, ficando deliciada a escutar...
Agradeço a Deus pela oportunidade de ter mais um dia
para poder ser feliz, ser útil e amar muito...
Admiro os belos campos alentejanos
e durante o dia reparo na beleza das coisas simples!
Reparo nas casas pintadas de branco, nas sombras,
na beleza das varandas e de cada jardim,
nas flores e no ondular das árvores a dançar,
no sorrisos das crianças e na sua alegria,
no olhar doce de cada idoso e na sua sabedoria!
Procura tu também sentir todos os sons 
os silêncios, os risos, as lágrimas 
e o aroma das emoções que sentes
e de todos os gestos de amor, bondade e amizade...
A manhã, vem calma, 
com aroma a alecrim...
A tarde sente o perfume de rosas...
e de noite tens um aroma a alfazema e rosmaninho
e podes sentir cheiros deliciosos com a paixão...
Por fim, repara na beleza do luar 
e no brilho das estrelas 
que sorriem para cada um de nós!

Bernardina Pinto

A POESIA GLOBAL


Imagem: Google


A POESIA GLOBAL 


Alguém disse que poesia
É em si mesma coração,
Ela é mais que fantasia
Tornou-se globalização.

O que é global é emoção
E a emoção é uniforme
Com feitio de coração
E energia multiforme.

O mundo tem cinco cantos
Cinco cantos distinguidos,
De poesia cinco prantos 
Cinco prantos renascidos.

Não há poesia sem tacto
Nem poesia sem paladar,
Não há poesia sem vista
Nem poesia sem rimar.

E tudo cheira a poesia
Quando se torna audição
Pois que o canto dia a dia
É todo ele uma Emoção!

Frassino Machado 
LIRA BEM TEMPERADA