quarta-feira, 13 de novembro de 2019

MELROS




Melros


Espreitei por de trás d'uma balseira,
Por ter ouvido tão belo piar,
Era um ninho de melrinhos,
Com três lindos passarinhos,
De tão simples exemplar.

Pequenos, tão pequenos,
Cobertos de penugem.
Havia já indícios,
Da cor da fuligem.

Abriam seus biquinhos.
Pra mamã lhes dar,
Bagas ou insetos,
Pra quando forem crescidos,
Terem força para voar.

Agora ajuda o pai,
Que a mamã vai trabalhar.
Vai construir outra "casinha", 
Pra mais ovinhos botar.

De cor, são seus ovos.
Meio azulados ás manchinhas,
Fica a mãe aquecê-los,
Dá o pai umas voltinhas.

Está quase a eclosão,
Talvez... uns quinze dias.
Dará o pai mais a mãe,
E assim se revezerão,
No comer ás suas crias.

Estes que ouvi piar,
Não tardam do ninho sair.
Darão saltitos no chão,
Pra ensaiar o voar.

Vão passando dias,
Ficarão crescidos, valentes.
Farão depois do solo,
Rampa de lançamentos.

Serão aves livres, 
Livres, de penas!
Penas, cor de carvão

Trarão melodias nos bicos,
Chilreios, nos bicos amarelos.
Embelezarão paisagens dos céus,
Farão deles, constantes castelos.

Castelos, de penas planantes,
Num azul feito liberdade.
Voarão com asas brilhantes,
Mostrando no céu, que é seu.
Que preto é vaidade...

Vaidade... vaidade...
Voando... voando...

A MINHA VIDA É UM NOVELO



OUTONO MULTICOLOR




OUTONO MULTICOLOR  


Como são belas estas cores do meu Outono!
A sábia Natureza exalta multicolor
Dando uma luz e brilho à tela do Criador
Não a deixando esmorecer ao abandono.

Estética feliz de quem é Senhor e dono
Metamorfoseando-a com pincel e cor
Numa insondável sapiência de primor
Que todo o esbelto homem deixa sem abono…

Não há erva, nem planta, nem árvore, nem bosque
Que não revele em cada canto o seu encanto
Naquela admiração qu´ à alma faz espanto
Sem que à razão banal intente dar enfoque.

Que mão humana haverá aí com tal mestria,
Que escultor, que arquitecto e que distinta arte
Se poderá assim alcandorar – e em que parte –
Demonstrando tal horizonte de harmonia?

– O Outono, o doce Outono, em todo o seu esplendor…
Que verso, que poema, que poeta ou trovador?

© Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA

SONHOS DE ESPERANÇA


Pintura de Renoir


“SONHOS DE ESPERANÇA”


A bucólica estância,
Que a Natureza alinda,
Envolve a fragrância
Que parece não finda!

Abraçados em dança
Sonhos de esperança,
Num fogo de um amor
Escondido como a dor,

Corações com confiança
Esperança que se lança!
Quem sabe se é ligeiro?

No tronco do castanheiro,
Verde hera se entrelaça!
Primeiro amor se passa!

© Alfredo Costa Pereira

OUTONO TEMPERADO



O CASTANHEIRO MILAGROSO




O CASTANHEIRO MILAGROSO

“A estória de uma lenda”


Junto ao tortuoso e áspero caminho
Erguia-se um castanheiro centenar,
Ali passou um dia o bom Martinho
Tencionando da chuva s´ abrigar.

Martinho era um esbelto cavaleiro
Pertencente às romanas legiões
E tendo cavalgado o dia inteiro
Cansado quis parar as emoções. 

Eis quando ouve uma voz do interior
Daquele velho tronco carcomido
E, ficando transado de temor,
Puxou de sua espada destemido.

Viu assumir do largo buracão
Um rosto de um velhote meio louco
Que, tirando pra fora a trémula mão,
Falou ao cavaleiro num tom rouco: 

- Ó poderoso, nobre e bom soldado,
Que aqui me vedes nesta moradia
Não façais mal a este desgraçado
Que passa a triste vida em agonia!

- Ai, ó homem de Deus que estou a ver
Em tal deserto longe de algum lar,
Como é possível aqui sobreviver
Sem nenhum alimento pra tomar? 

- Ó meu nobre senhor, olhai à volta
E vede estes ouriços a sorrir,
Há destes frutos e há muita bolota 
Que em cada dia está sempre a cair…

- Eu sei que boas são estas castanhas
E a bolota com bom aspecto está
Mas deverás passar mínguas tamanhas
Com esta chuva e o frio da manhã? 

- Sabei, nobre senhor, daqui não saio
Pois mais vale só que mal acompanhado
E, além disso, também cá mora um gaio
Que comigo tem tudo partilhado…

- Tens frio… Toma lá deste meu manto
Metade para ti que eu não preciso…
E a chuva estancou como por encanto
E um claro sol abriu-se de improviso.

E aquele pobre velho até chorou,
Num terno fim de tarde inesquecível,
E o bom Martinho a viagem continuou
No fim daquela acção irrepreensível. 

Algum tempo depois o velho morreu
Mas o castanheiro até hoje lá ficou…
O povo daquele velho não esqueceu:
Ali fez campa, e ermida edificou.

E o castanheiro dura e nunca morre,
Continuando a dar fruto, mais e mais,
E em cada ano o povo ali ocorre
Com festas e magustos tradicionais.

Toda a gente se alegra com carinho,
Toda a gente se farta com castanhas,
E toda a gente reza a S. Martinho
Pra que acabem as doenças e as manhas.

«Ó nosso S. Martinho, protege o povo,
Salva-nos das procelas e dos abismos
Protege adegas, e acresce o vinho novo
E despe-nos dos tristes egoísmos!» 

 © Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS

TARDES DE OUTONO



sábado, 2 de novembro de 2019

FLORES NO CAMPO SANTO




FLORES NO CAMPO SANTO
“No Dia de Finados de 2019”


Direi à ave-amiga que passa,
No suave voo de vai e vem,
Que solte uma rosa com graça
Sobre a campa de minha mãe. 

Há rosas vermelhas e brancas
Há flores de vários matizes
E há almas silvestres e santas
Em corpos nem sempre felizes.

Cá dentro de nós a memória
Não dá tréguas nem veleidades,
E é com dignidade e com história
Que vão aumentando as saudades.

As flores dão vida e encanto
E marcam na alma a ternura,
Dão beleza ao Campo Santo
Em sentimental partitura. 

Campo Santo, lugar sagrado
De acolhimento e liturgia,
É o único e verdadeiro fado
Que renega a vã fantasia. 

– Ó ave que passas e voas
Com o Campo Santo à mercê
Lança mais flores e canta loas
Num gesto de brio e de Fé!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA