sexta-feira, 29 de abril de 2022

"ABRIL | AMENDOEIRA"




DESAFIO POÉTICO: "ABRIL | AMENDOEIRA"


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AMENDOEIRA EM VERSO


Primavera chuvosa tem outra vida,
Abril regado, Páscoa abençoada
Pela família, alma alva, renascida,
Mimo da natureza, Flor venturosa.

A timidez do Sol declara paixão,
Que promete ser grandioso amor,
Lê-se nas faces rubras dum coração
De sorriso rasgado, libertador!

Os dias crescem no leito, que cochila
Naquele olhar campestre, níveo-rosa
Desfilando em romaria até à Vila!

Vento frutífero, árvore frondosa,
Celestial, devaneio da pupila,
Amendoeira em verso, maré de prosa!

© Ró Mar 

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EM ABRIL É PRIMAVERA


Em Abril é primavera
Jorram águas p’los montes
É espera noutra espera
Valha-nos Deus quem me dera
Ver uns novos horizontes

Com flores de amendoeira
A lembrar gelo passado
Mas quebrou-se a rotineira
De ver tanta pasmaceira
Ai jesus seja louvado.

Quem cava a terra seus chãos
Vai abaixo, vem acima
Tem na ideia um irmão
Que nem sempre tem razão
Semente que não germina

É como flor tão bravia
Que no agreste se entrega
Gestação fraca e tardia
Que seu caminho arrepia
Ousado e muito brega

Contra o tempo é resistente
Suporta uma mascarilha
Leva tudo no batente
Rasteja como serpente
Vai num barco sem ter quilha

Sempre tão bem perfilado
É um homem indefeso
Vai sentir-se apavorado
Quando cair para o lado
Numa teia fica preso

Nunca se dá por vencido
Faz lembrar um gajeiro
Passa ao lado sem sentido
Mesmo sendo preterido
Julga-se ser o primeiro.

© ARIEH NATSAC

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© Lúcia Ribeiro 

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SE A PAZ SE FOI EMBORA


Já não sabem onde moram, e já perderam o norte
É tão grande o desnorte, que de vergonha até choram
Entregues à sua sorte
Os meses estão a passar, os anos já vão pesando
De tudo se estão a fartar, já perderam o comando
Para se orientarem
No calendário do tempo, se foi o mês de Abril
Só lhes resta o lamento, que lançam a mais de mil
Nas desfolhadas do vento
Capitães lançaram chamas, num mar de tempestade
Apagaram-se com a idade, e em lágrimas se derramam
Como símbolo da saudade
Se a paz se foi embora, saiu pela porta fora
Procurando novos caminhos, sem saber se a encontram
Pisando tantos espinhos
As casas estão fechadas, e as janelas tristonhas
Amendoeiras estão desfolhadas, parecem coisas medonhas
São verduras assombradas
Filhos se desconhecem, foram levados para longe
Pensam que adormeceram, no silêncio amanhecem
E do país se perderam
Ai como tudo é diferente, até perderam o falar
Andam à toa sem verem gente, para um sorriso lhes dar
Vão vegetando tão lentamente
Que se sentem a delirar.

© ARIEH NATSAC

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A VIDA


A vida tem pressa.
Nessa sofreguidão sucedem-se abris!
A compasso, desponta impaciente a amendoeira.
Pergunto-me porquê a urgência?
O meu abril longínquo ensinou-me que não há que a precipitar;
O futuro se encarregará de a devolver!

© Rosa A. Domingos

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CALEM-SE…


Calem-se todos. Menos aves e as fontes
Que soprem os ventos nas florestas
Vejamos límpidos horizontes
Façamos na vida muitas festas

Calem-se as vozes dos algozes
Que atiram palavras como metralha
Levantem-se nas marés cascas de nozes
Afundem-se os vapores da escumalha

Calem-se os cães que usam gravata
No canil onde escolhem osso
Indo procurar ao fundo de muita lata
Quando rosnam põem tudo em alvoroço

Calem-se os arautos da pouca sorte
Da seara seca e sem trigo
Num ondular sem verde que é suporte
Sem voltarmos ao tempo antigo

Calem-se os profetas que sabem tudo
Que a hora vai passando lentamente
Onde os minutos são apenas escudo
Um pano quente

Calem-se os amigos do bolso alheio
Vivendo no mundo em comunhão
Montados num cavalo sem freio
E mais tarde ou cedo vão ao chão

Calem-se os de abril sem ver ABRIL,
Que vivem num mundo estrangulado
Continuam construindo o seu canil
Ladrando num atoleiro amotinado

Calem-se os outros que vão ao fundo
Procurando meios hábeis e subtis
Abrindo cicatrizes no seu mundo
Vincadas nas mazelas sem verniz

Calem-se os diabos e os santos
Leem todos na mesma cartilha
Embora AMENDOEIRAS sejam cantos
Esqueçam o missal e a forquilha

Calem-se Adamastores inda presentes
Façam-se ao mar como Bartolomeu Dias
Neste mar com novas correntes
Acalmar novas tormentas, sem orgias

Calem-se os bruxos e os fariseus
Não queiram dar cabo do que louvo
Não escondam vozes livres entre véus
Com rezas que atrofiem mais o povo

Calem-se os medos e as preguiças
De avançar sem ter destino
Descolem-se as coisas pegadiças
Façamos da atitude nosso hino.

© ARIEH NATSAC

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ABRIL TEM MIL E UMA FLORES


Abril tem mil e uma flores
E um brilho no luar,
Que acorda Lisboa e arredores
Em cravos multicolores
Daquele perfume impar!

Tem amendoeiras com flores
Rosas e brancas no olhar
E um coração de amores,
Que é delicia de escritores
De pena fina p'ra voar!

© Ró Mar 

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DUAS CORES NOVA HISTÓRIA…


Amendoeira flor branca
De pureza sem igual
De um mês foi alavanca
Do abril em Portugal

Mas foram cravos as flores
Que foram flores do povo
Libertou as suas dores
Num despertar que foi novo

Amendoeiras flores da paz
Num abril, criou raiz
Com a força de ser capaz
De mudar e ser feliz

Gente gritou bem alto
Tirou algemas do medo
Foi neste dia o arauto
Nova história outro enredo.

© ARIEH NATSAC

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NO MEU PAIS PRESENTE…


Fiz um castelo no ar
Com ameias cor de vento
Cantei versos ao luar
Com estrelas de embalamento

Tive princesas errantes
Tendo as mãos cor de rosa
Seus olhos eram brilhantes
Suas bocas eram prosa

Suspiros de fim de tarde
Na ponta do fim do mundo
Na lonjura que ainda arde
Num terreno que fecundo

Tendo os gemidos na voz
Horas vivas com o cio
Caverna de um tempo algoz
Onde desagua um rio

São pedras que não atiro
Nos meus jogos florais
Reserva como retiro
Que me esconde nos seus ais

Seca meu pranto de neve
Amendoeira que aflora
Pesadelo que nos deve
Deixar ir, e sem demora

A noite faz ponto cruz
Dum novelo feito lua
Carne ardente de luz
Toalha que apazigua

No meu castelo incendeio
A corrente que me agarra
Um abraço onde permeio
A escassez em que se amarra

Minha amiga, minha flor
Terraço onde não caio
Soltei pássaros de dor
Com passos de abril e maio. 

© ARIEH NATSAC

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"ABRIL | AMENDOEIRA"
Autores: ARIEH NATSAC, Lúcia Ribeiro,
Ró Mar e Rosa A. Domingos


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Sonetos do Universo | Abril de 2022

sexta-feira, 22 de abril de 2022

CANÇÃO DA TERRA




CANÇÃO DA TERRA 

“No Dia Mundial da Terra”


Canção da terra
Venho trovar
Ao sol nascer,
Saudade austera
Eu quero guardar
Num só viver.

Canção da terra
Terra de todos
Em pleno Bem,
Acabe a guerra
Afecto a rodos
Em terra-Mãe.

De manhã cedo
Mãos ao arado
Para lavrar,
Não tenho medo
Vou co´ o meu gado
O pão semear.

Mesmo de chuva
E cesta na mão
Vou pra vindima,
Eu colho a uva
Comendo o pão
Com mel em cima.

Tocam os sinos
Ave-marias
Na torre d´ igreja,
Penso os destinos
E as tropelias
Q´ ninguém deseja.

No horizonte
Dança a boieira
Para entreter,
Passo na fonte
O grão na eira
Vou recolher.

Já não há sol
E a brisa espanta
Em vez do vento,
E o rouxinol
Já pouco canta
Pra meu lamento.

Canção da terra
Canção da paz
E de embalar,
Na minha guerra
Desde rapaz
Sempre a cantar.

Dia da Terra
Terra sagrada
Q´ é minha e tua,
Luta na berra
Incendiada
Em cada rua.

Verde Planeta
Sonho de esp´rança
Logo no berço,
E tu, ó poeta,
Teu grito lança
Em cada verso!

© Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA
E DO MEU PAÍS

terça-feira, 12 de abril de 2022

TEATRO DE REVISTA




DESAFIO POÉTICO: POESIA | tema: Teatro de Revista


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Teatro de Revista

EM CENA


Em frança se vestiu
Pra se contar certa história!
Cortejou Mari' Vitória
Reza ela, diz quem viu!

Portugal descobriu
A quem é que pertencera?
Só agora alguém dissera
Em França se vestiu!

Consta ser grande a memória
Por quem nos palcos atuou.
Não há como quem o pisou
Pra se contar certa história!

Desta não há escapatória
Grande é a maledicência,
Alvitra-se pra audiência:
Cortejou Mari' Vitória!

Na sala nem um pio...
De joelhos pro juiz:
Acredita no que fiz?
Reza ela, diz quem viu!

© Rosa A. Domingos

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Teatro de Revista

I ATO


Por Lisboa e região
Deslocando-se além-mar
Difícil não recordar
As rábulas e a canção!

Não tem tarde nem serão,
Qu' ambulante companhia
Não partisse em romaria
Por Lisboa e região!

Quando a época findar
Inventam outro processo;
Procuram novo sucesso
Deslocando-se além-mar.

Que emoção ao chegar,
Novo publico a aplaudir!
Impossível não sentir
Difícil não recordar!

Ato um de interpretação
A graça marca o intervalo;
Com sátiras à Bordalo
As rábulas e a canção!

© Rosa A. Domingos
 
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Teatro de Revista

II ATO e FINAL


Parque Mayer que saudades;
Foste grande nas alturas,
Mas já não vejo farturas,
...Poucas as variedades!

Revista fez amizades
Cartazes finos o expunha;
Casa cheia até à cunha
Parque Mayer que saudades!

Mesmo foco de censuras
Não fugias à mensagem;
Ah Homens de enorme coragem
....Foste grande nas alturas!

Seguem-te nas escrituras...
Onde estão Ivones, Irenes?
Há ícones, ouço sirenes
Mas já não vejo farturas!

Não tirando qualidades
Do que foste e do que és;
Agora são em palmarés
Poucas as variedades!

© Rosa A. Domingos

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TEATRO DE REVISTA


Nos tempos que correm não
Há plumas nem lantejoulas
P'ra ver brilhar a atuação
Dos artistas de eleição,
Mas, há sempre mui papoulas!
Tramas, criticas não faltam
Na paródia da revista,
Eles nelas s' aperaltam
E toda a plateia exaltam!
Ah, que o teatro sempre exista!

© Ró Mar 

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SAUDADES DO PARQUE MAYER…


Passei lá um dia destes
E fiquei tão desolado
Parque Mayer tu morreste
Então lembrei o passado

Aí que saudades eu tenho
Do velho parque Mayer
Relembro coisas de antanho
As quais não vou esquecer

Provocava-se a censura
Deixando nas entrelinhas
Dentadas na ditadura
Com graçolas bem fresquinhas

No ABC, Capitólio
Maria Vitoria, Variedades
Ficou riso como espólio
Dos artistas de verdade

O Salvador o compère
Com seu ar desengonçado
Às pancadas de Molière
Deixava o povo siderado

E o Camilo de Oliveira
Com seus tiques famosos
Fazendo de galã ou freira
Com modos maliciosos

Os mestres Vasco e o Silva
No cinema, geniais
Laura Alves, Ivone Silva,
Mariema, e muitas mais

A Beatriz Costa saloia
Que veio lá da Malveira
Danadinha p’ra ramboia
Uma artista de primeira

Humberto Madeira e o Barroso (*)
A Amália que linda voz
Herminia outro colosso
Orgulho de todos nós

Maria Matos, Tereza Gomes
Palmira Bastos versada
Estrelas de cartaz seus nomes
De uma geração dourada

Muitos outros lá passaram
Costinha e o Ribeirinho
Com mestria camuflavam
As dores do Zé povinho

E Lisboa logo corria
Com grande satisfação
P’ra esquecer a carestia
Que andava de mão em mão

Antes de começar a sessão
Ó freguês vai um tirinho
Um modo de diversão
Ou então ia um copinho

E no Chico das Miombas
Havia o arroz de Lampreia
Eram dozes de arromba
Sempre a travessa bem cheia

Como tudo era diferente
Neste país revoltado
Povo ficava contente
Indo à guerra do Solnado

Na revista à Portuguesa
Onde o povo se animava
Apesar de tanta pobreza
A sessão logo esgotava

Foram tantas as revistas
Que ainda hoje são lembradas
Os atores e as coristas
Que no tempo estão guardadas

Hoje tudo se alterou
As modas as tradições
Do Parque Mayer ficou
Não mais que recordações.

© ARIEH NATSAC

 (*) Barroso Lopes - Restaurante A Gina (atualmente).

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TEATRO DE REVISTA
Autores: Rosa A. Domingos, Ró Mar e ARIEH NATSAC


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Sonetos do Universo | Abril de 2022