sexta-feira, 30 de outubro de 2015

VITIMAS DA CRISE


Imagem - Google


VITIMAS DA CRISE


Naquela casa havia felicidade!
Mas eis que o desemprego, abruptamente,
Colocou a família frente a frente,
Com esta nova e triste realidade…

É um horror o que essa gente sente,
Tal é o desencanto que a invade…
Pondo na mesa só necessidade
E dessa vil carência se alimente…

Recorrem, com vergonha, à caridade,
Como último recurso recorrente,
Trocando pelo pão a dignidade!

Assim vão vagueando tristemente,
Neste país de sonho e liberdade,
As vítimas do caos ora vigente!...

José Manuel Cabrita Neves

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

ENQUANTO SE DORME...


Imagem - Joli COEUR


Enquanto se dorme...


há um mundo que gira sem parar
e uma multidão que não pára de gritar,
que de tudo se aproxima, mesmo sem haver nada p'ra lhe dar!

Há em tudo isto um silêncio longo e distante.
Há sonhos nas noites que se alargam nos horizontes.

Há caminhos longos a percorrer
em terra fria e quente
onde morre gente.

E há distancias que fazem sofrer e morrer
sem se saber o que fazer nessas fronteiras de solidão 
onde não se quer ir...

e que fazem querer 
p´ra se esquecer...só dormir!

Carlos Lacerda

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

A ANDORINHA QUE NÃO MIGROU




A ANDORINHA QUE NÃO MIGROU


Uma andorinha, minha vizinha, não migrou,
De penas quebradas, não conseguiu voar,
Não sei como lhe valer, anda desorientada,
Irá passar o inverno com frio, abandonada.

Tentativas fiz para lhe dar em casa guarida,
Ela me evitou, mantém-se longe, foragida,
Pena minha a ditosa andorinha passar frio,
Não lhe poder valer é meu grande martírio.

Triste sorte desta linda e inocente andorinha,
Que não conseguiu acompanhar a migração 
Das suas amigas que viajaram pro equador,
Pra minha terra que guardo no meu coração.

Ninguém se interessou por esta andorinha,
Que eu irei fazer os possíveis por socorrer,
Não quero deixar que ela acabe por morrer,
Merece todo o aconchego e o meu carinho.

Ruy Serrano 

terça-feira, 27 de outubro de 2015

PEÇO CONSOLO




PEÇO CONSOLO


Peço a Deus consolação
Sofro um martírio que não mereço
Que desconsola meu coração;
Mas tenho fé na madrugada do amanhã!

Sentada, aqui sozinha;
Na poltrona da desistência
Sentimentos poluídos, 
Afloram os meus sentidos!

Tenho emoções estranguladas na garganta, que ironia
Estou enferma de víceras malignas;
Células anómas; micróbios, bactérias humanas
Que destroçam meu sangue e minha poesia!

Exausta, a poeta perde-se no bosque da fatalidade
Sentada numa pedra cheia de musgo e humidade
Acaricio meus olhos molhados, num gemido
Limpo as gotículas cálidas, perdida de tudo!

Com cheiro a terra molhada cor avermelhada
A insónia insubmissa abre seu portado largo
Rangendo e com fúria debruça-se na janela da noite
Deixando-me triste e atormentada!

Nazaré G. (NANÁ)

domingo, 25 de outubro de 2015

VIDA ATORMENTADA




VIDA ATORMENTADA


Esta vida morna e lenta que me consome,
Não me desperta interesse nem vontade
De viver mais tempo com a humanidade,
Que me despreza e me vota ao abandono.

Almas fechadas, egoístas e desesperadas,
Que invejam quem sou e a minha vivência,
Vidas que se cruzam, tão desencontradas,
São condenação da minha sobrevivência.

Num mundo de pecados como o terreno,
Não há lugar pra inocentes e redentores,
Sobra um mundo tirano dos imperadores,
Que dominam a terra de modo obsceno.

Este mundo de vícios e conspirações
É controlado por almas mal formadas,
Exercendo vinganças e perseguições,
E deixando-nos queimar em fornalhas.

Vou contornar o caminho desta vida,
Saltando a barreira das dificuldades,
Farei por conseguir a paz merecida,
Saberei ultrapassar contrariedades.

Ruy Serrano 

O AMOR


Arte de Evariste Carpentier


“O AMOR”


Há uma ambição que não podemos esquecer
Neste mundo real e cruel de desenganos:
É amar e ser amado ao longo dos anos,
É amar e ser amado até morrer.

Viver sem amor não é viver,
A não ser entre vis, entre tiranos,
De instintos bestiais e desumanos
Que morrem sem jamais o conhecer.

Mas para quem tem coração,
Onde ele tanto chora de alegria
Como saudoso, canta de amargura,

Ele, o amor, é tão preciso como o pão,
Porque se este nos enche de energia,
Aquele nos alenta de ventura!

Alfredo Costa Pereira

PALAVRAS MINHAS IRMÃS




PALAVRAS MINHAS IRMÃS


As palavras são dádivas da língua-mãe
Que se revelam, como aurora renascida,
Nas experiências partilhadas aqui e além
Vagueando pelas encruzilhadas da vida;

Palavras nascidas nas fímbrias do meu berço
Encontram-se por aí ao revelar dos passos
E, cinzeladas pelo som de cada verso,
Harmonizam-se agora pelos meus compassos…

Palavras na barcaça do meu vai-e-vem
Num rio ou num mar d´ ondulação crescida,
Palavras recriadas pra encontrar alguém
No espaço ou no tempo de vencer a vida.

- Palavras & palavras, prenhes de universo,
Quais astros luminosos para os meus fracassos,
Quero ver-vos corcel neste mundo perverso
E recolher-vos uma a uma nos meus braços.

- Ó palavras vadias, perdidas e achadas,
Palavras sem-abrigo à espera das manhãs
Quero fazer de vós nas altas madrugadas
As minhas confidentes e as minhas irmãs!

Frassino Machado

In MUSA VIAJANTE

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A COR SUBLIMADA


Imagem- Carmen Genica Tofan 


“A COR SUBLIMADA”


Alvoraçam-se as almas na policromia
Que sobeja da inquietude do coração,
O que flameja dor e paixão...
Amarelos, vermelhos, roxos esvoaçam no dia.


E, se cresce um mundo farto de ilusão
Num coração rabiscado à pincelada;
Das saudades vive-se a alma da paixão
Na vontade que é um nada.

E, se cresce uma arte soberba e vigorosa,
A luz dos traços do pensamento
Difunde-se e ganha forma de rosa,
A face desbotada renasce formosa.

Faz-se, música, poesia, arte
Pela mão do nada,
Que na angústia da sorte
Revolve momentos em cor sublimada.

© RÓ MAR

BORBOLETA





BORBOLETA


Saiu do seu casulo amedrontada
Olhou p’ra si com ânsia, com vontade
De abrir as suas asas e, animada,
Voar, voar em plena liberdade

E foi pousar na rosa, no jasmim,
Beijar papoilas alta madrugada,
Acarinhar o lírio, o alecrim
E tudo no jardim rejubilava

E nesse seu bailado singular
A frágil borboleta ousou 'spalhar
Carinho e afeição à sua frente

Como era bom que dum casulo escuro
Nascesse um coração imenso e puro
Que desse amor e paz a toda a gente

José Sepúlveda

terça-feira, 13 de outubro de 2015

LUTAR CONTRA A MARÉ


Imagem - Google


LUTAR CONTRA A MARÉ


Talvez seja utopia ou talvez não!
Talvez ingenuidade de criança…
Uma réstia de sol, de luz, de esperança,
O despertar de um sonho, uma visão!

Talvez o coração que assim balança,
Entre ter sentimento ou ter razão,
Tenha feito do amor a justa opção,
De cuja insana luta não se cansa…

São puros ideais, íntimas crenças…
São preocupações, várias, imensas,
Que me bailam na mente a cada instante!

São profundos anseios de mudança,
Para marés serenas de bonança,
Neste mar tenebroso e dominante!...

José Manuel Cabrita Neves

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A VIDA É EFÉMERA


Arte de Albert Marquet


“A VIDA É EFÉMERA”


A gente ainda não sabia,
E já estamos entendendo:
Que aos poucos se morria
Enquanto vamos vivendo!

Por isso vamos sozinhos,
Por uns felizes invejados,
Gozar os mútuos carinhos
De nossos dias passados!

E parece que a Natureza
Em admiração de tristeza,
Aparenta fazer esquecer

Que os nossos corações
Ainda dão a outros lições,
Por estarem ainda a arder!

Alfredo Costa Pereira

DEPOIS DE MIM




" DEPOIS DE MIM "


Depois de mim o Sol há - de brilhar,
A água há - de cantar pelas ribeiras,
No campo hão - de crescer as sementeiras
E os barcos hão - de ir e hão - de voltar.

Depois de mim a vida continua,
A mão do criador sempre guiando
o que vai pela terra acontecendo
E as estrelas no céu beijando a Lua.

Depois de mim mil vozes se hão - de erguer,
Contra a fome, a miséria e o sofrer
E os ricos qu'rendo mais em seu proveito.

Há - de haver pouca paz e muita guerra,
Antes que o homem destrua toda a terra
E por fim, surja um homem mais perfeito!

Abílio Ferradeira de Brito

C-R-I-A-N-Ç-A


Imagem- Open Art- Victoria Stoyanova


C-R-I-A-N-Ç-A


CRIANÇA
Que tens todos os sonhos do mundo
Guardados nesse coraçãozito imaculado;...
Que de nadas constróis as brincadeiras de gente crescida,
Arcadas de reminiscência;
Que engoles todas as fúrias, e, na mais pura inocência
Remetes um sorriso de orelha a orelha;
Consagro-te todos os direitos à vida,
Longe a qualquer trapaça, dissabores e sofrimento.
As palavras que sinto e escrevo que sirvam de enaltecimento,
Ou, reconhecimento ao grande ser que és;
Pequenina mas já com uma visão
Tão grande do mundo!
Indefesa, tão tenra, mas com toda a vitalidade
Para abraçar as venturas e desventuras da vida.
Entre o olho esbugalhado e o rosto puro cetim
Descaí a lágrima, o brilho é tão intenso, o som um vozeirão,
Que a sinto cá bem no fundo do coração.
Tão pequenina e já em tão grande lida;
Apenas uma menina, que acredita em contos de fada!
Ah, criança linda
Que salta e pula airosa
Pelo jardim e se cresce entre as mais flores,
Uma graça! Que se escorrega na areia da praia argilosa
E chapinha a água sem parar
Como se o mar fosse seu berço!
Te consagro princesa, natural da mãe natureza,
Rainha do universo.
Olho-te como se o mundo
Estivesse todo aqui, pequenino
Mas de valor incalculável.
Não consinto demais défices ou injúrias,
A tudo tens direito, não pediste para nascer
Apenas pedes para crescer.
Que o teu viver
Seja um pleno constante renascer;
Que a nossa areia e o mar
Deixem construir todos os castelos de ar,
Os quais te são por direito;
Um azul céu e as estrelas com toda a certeza.
Que nada nem ninguém privem de seres
O teu tempo em todo pleno;
Que o sorriso incansável
Seja sempre presente,
Pois, gosto de sentir essas bochechas de felicidade;
Nada de nariz franzino,
Quero-te bem saudável!
Menina ou menino és
E serás a que vou acompanhar
Para todo o sempre;
Serei teu anjo da guarda
Aos céus e à terra! No esvoaçar pelo teu caminho
Solto as letrinhas de tanto carinho
Que cobrem esse cantinho envergonhado
E na palma da minha mão
Cresce o tesoiro mais puro e tão lindo!
Serás sempre verde oiro, hoje e sempre,
Aqui, ou, em qualquer lugar, és
E serás a mais linda entre as histórias,
Uma enorme centelha;
Cobiçada por todos! Não és de ninguém, pomba da natureza;
Sinto orgulho de poder soletrar
C-R-I-A-N-Ç-A.

© RÓ MAR

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A MINHA ESTRELA


Imagem - Google


" A MINHA ESTRELA "


Há uma boa estrela que me guia,
Que está sempre presente em minha vida,
Estrela benfazeja, tão querida,
Que define meu rumo em cada dia.
 
Sem ela a escuridão era fobia,
Jamais encontraria uma saida,
É a luz que me protege e dá guarida
Que acende minha fé e me recria.
 
Esta estrela que no alto resplandece,
Cujo brilho é constante e que me aquece,
É força que por Deus me foi doada.
 
É ela que, tão cheia de esplendor,
Irradiando lufadas de calor,
Vai expurgindo o que é mau na minha estrada.
 
Abílio Ferradeira de Brito

A CHUVA


A CHUVA 


A água que sobrou da chuva que caiu,
Foi a água que regou
O meu canteiro de poemas
Que assim floriu.

Água da chuva abençoada da minha terra,
Que desaba com força 
Sobre as florestas e as vastas savanas,
Sedentando plantas e animais.

Nasci com a chuva, com a chuva vivo,
Faz parte da minha existência,
Resisto à sua turbulência,
Ela cai sem piedade, enquanto resisto. 

Sem chuva, a vida na terra seria impossível 
Apenas um deserto sem nada,
Com areia, vento e tempestades secas,
A Terra seria um astro sem graça.

Ruy Serrano 

CORTEJO DE OFERENDAS

Imagem - Cortejo de Oferendas (anos 50) 


Cortejo de Oferendas


O povo lá da aldeia está em festa
Com a nova igreja... E rezam as calendas
Que pra findar o pouco que ainda resta
Precisos são Cortejos de Oferendas.

E a freguesia logo fica cheia 
De gente a desfilar com galhardia 
Mostrando a sua fé em cada aldeia
Co'as prendas que juntou naquela dia.

Cerqueira, Salgueirinhos e Portela
Trouxeram tanta coisa doce e bela
Urdida com trabalho, com labor.

Depois, Delães de Baixo e Paraíso
Num mar de gente, dão o que é preciso
E assim nasceu a Casa do Senhor!

José Sepulveda

terça-feira, 6 de outubro de 2015

SE NÃO MUDAR


QUEM SOU?


Imagem - Google


Quem sou?


Não sou aquilo que gostariam
Mas sou aquilo que gosto de ser
Eu sei que alguns se sentiriam
Mais leves se não soubesse escrever

Não quero ser por eles adorado
Apenas que me respeitem no querer
Porque não sou um homem conformado
Digo tudo aquilo que me dá prazer

Entro em todo o lado com satisfação
Porque o meu eu se sente realizado
Não embarco em atitudes de ilusão
Sei reconhecer o caminho já efectuado

Reconheço os meus atributos
Reconheço o que ninguém quer ver
A idade são para mim os estatutos
Duma vida bela sempre a acontecer

Não sou doutor porque não quis
E porque nisso não me realizava
Mais vale simplesmente ser feliz
E viver a vida de forma ousada

Vivo assim neste paraíso
Ou assim parecido com ele
Às vezes perco-me no siso
Em que o saber fica na pele

Armindo Loureiro

NOVENA

 

Novena


Na torre da igreja toca o sino
A anunciar a hora da novena
E dentro do meu peito de menino
A ânsia do perdão que Deus me acena.

E eis-me a caminhar, qual peregrino,
Ouvindo o sino, ao fim da tarde amena,
Tentando nesse rito o são ensino
Que há-de por minha alma em paz serena.

Os moços e as moçoilas lá da aldeia 
Sentem no olhar a alma que incendeia
Ao ver a flor passar de mão em mão.

E ao tom das ladaínhas, lá na igreja
Elevo o meu louvor. Louvado seja
O Deus que habita em nosso coração!

José Sepulveda

ATÉ AO FIM DOS MEUS DIAS


ATÉ AO FIM DOS MEUS DIAS


Até ao fim dos meus dias, ainda tenho um caminho a percorrer,
Muitas surpresas, afrontas e humilhações,
Permanentes provocações,
Até morrer.

Até ao fim dos meus dias, será tudo cada vez mais diferente,
A classe média com a crise, a empobrecer,
Os pobres não poderem nada fazer.
Vida repelente.

Até ao fim dos meus dias, haverá cada vez mais desemprego,
Os jovens terão de emigrar para bem longe,
Sem saberem bem para onde,
Em desespero.

Até ao fim dos meus dias, cada vez haverá menos consensos,
Crescerão as mais diversas manifestações
Que se transformarão em rebeliões,
Maus momentos.

Até ao fim dos meus dias, haverá mais fome, mais ódios e desilusões,
Será maior a confusão e a desesperança,
Perder-se-á a pouca confiança,
Haverá sublevações. 

Até ao fim dos meus dias, pelas redes sociais, assistirei aos espectáculos
Tristes que se desenrolarão no palco da vida,
Com a assistência da plateia desiludida,
Por maus Actos.

Até ao fim dos meus dias acabarão as pensões para todos os cidadãos,
Que trabalharam toda a vida para o Estado,
Sustentando o regime bem instalado,
E sem bênçãos.

Até ao fim dos meus dias, deixarei de assistir a mais tristes episódios,
Porque já não pertencerei ao reino dos vivos,
Sorte a minha acabarem os maus avisos,
Abandonarei os demónios.

Ruy Serrano

MASOQUISMO POPULAR

 

MASOQUISMO POPULAR


Estou triste como a noite escura e fria!
Estou desolado, incrédulo, doente,
Por ter acreditado piamente,
Que o meu povo sabia o que fazia…

Pensei que fosse mais inteligente!
Vivendo no sufoco em que vivia,
Quisesse acreditar num novo dia,
Pensar poder viver condignamente…

Há coisas que não são pra entender!
Malhar em ferro frio é pra esquecer!
Seguem sempre os caminhos do abismo…

Quer seja ignorância ou desinteresse,
É falta de pensar em quem padece,
Para quem já sofria, é masoquismo!...

José Manuel Cabrita Neves

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

RAIO DE LUZ




RAIO DE LUZ 


A mesa estava posta na tresmalhada toalha de hipocrisia,
Tudo perfeito, o salto a condizer com a gargantilha;
As vozes exaltadas em falsos diamantes
Enalteciam sorrisos deslavados
E o Báton rouge tomava forma nos presentes.

Falavam fluente demagogia e politica 
Como se fosse o prato do dia;
Os talheres estavam alinhados na enometria
Dos copos e os guardanapos exalavam a gargalhadas de folia;

Ali, havia lagosta suada, caviar 
E muito marisco com assimetria,
Assim como, pele de cobra
De unhas alongadas no verniz à cor 
Dos pensamentos,
O cardápio ao pormenor!

E, as vestes tão carnavalescas,
Mais pareciam máscaras de quadrilha
De gentes burlescas!

Mas, no meio do cenário encontrei alguém
Que me pareceu bem, talvez pela sua imagética,
Parecia um lavrador, 
As suas mãos calejadas revelavam no gesticular artes
E o seu olhar era de gente que alcança mais além.

Homem um pouco só, talvez pelo traje, não era a rigor!
Nos traços e rugas acentuados, 
Pareceu-me ser um pintor,
Talvez fosse artesão,
Tinha ar de ter grande coração.

A fanfarra durou até altas horas, vinho da melhor 
Colheita adormecia as vozes dos dementes 
E na madrugada ouvia-se o ‘rouxinol’ cantar:
_ Descansai em paz, ó gentes…!

Tudo não passou d’uma farsa, não obstante a obra
Acontece e remanesce momentos
De luz, raio fecundado na grandiosidade d’um ‘lavrador’
E transcrito na voz de ‘rouxinol’ de amor.

® RÓ MAR
 
 Poema vencedor do desafio Alen Criativos -"Raio de Luz" /2013

domingo, 4 de outubro de 2015

COMO O TEMPO PASSA


 COMO O TEMPO PASSA
 

As horas que se vencem, formam dias,
Depois semanas, meses, até quando?
E a nossa vida assim se vai gastando,
O espólio são tristezas e alegrias.

É feita de querer e de fobias.
Vontades e ilusões que vão sobrando,
Mas todavia todos vão sonhando
Em ter da vida faustas regalias.

É lesto e fugidio, ninguém pára,
Quantas vezes a gente nem repara
Que o tempo não tem conta nem medida.

Lutamos pra viver e ser feliz,
Mas sempre que se perde essa matriz,
Perdemos o melhor da nossa vida.

Abílio Ferradeira de Brito

DELÃES


Delães - Portugal


Delães


Envolta entre aldeias lá do Minho,
Delães, a promissora freguesia,
Trilhava passo a passo o seu caminho
Na senda do progresso e da harmonia.

A sua vasta indústria trazia 
Ao povo segurança em seu caminho
E no labor, com raça e galhardia
Passo após passo erguia seu cantinho.

As fábricas de sedas, fiação,
Garantes de trabalho, eram então
A fonte de um viver feliz, fecundo.

Bem cedo, laboriosa, toda a gente
Saia do seu lar feliz, contente,
Em força e paz para abraçar o mundo!

José Sepúlveda 

BALADA DE SÃO FRANCISCO


Imagem - São Francisco de Assis


4 DE OUTUBRO - 

DIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS


PATRONO DA NATUREZA, 

DA ECOLOGIA UNIVERSAL 

E DOS ANIMAIS


BALADA DE SÃO FRANCISCO


Amanhã 
O irmão-sol vai de novo nascer,
A irmã-água vai de novo correr,
O irmão-fogo uma vez mais vai arder.
E cada homem teu irmão
Continua a sofrer,
Esperando por ti
Num abraço de paz,
Numa palavra de amor.
São Francisco!
São Francisco!
Irmão de tudo
Quanto Deus nos deu:
Da pedra da montanha,
Do espinho e da flor,
Da avezinha do céu,
Do frio e do calor.
São Francisco!
São Francisco!
Amanhã
A irmã-lua vai de novo voltar,
A irmã-estrela vai de novo brilhar,
A irmã-noite uma vez mais vai reinar!
E cada homem teu irmão
Continua a sofrer,
Esperando por ti
Num abraço de paz,
Numa palavra de amor.
São Francisco!
São Francisco!
Irmão de tudo
Quanto Deus nos deu:
Da pedra da montanha,
Do espinho e da flor,
Da avezinha do céu,
Do frio e do calor.
São Francisco!
São Francisco!

Frassino Machado

In MENSAGEIRO CANTANTE

FLOR DA PAZ



© RÓ MAR

sábado, 3 de outubro de 2015

MOINHOS DE VENTO

 
 Moinhos de vento da serra da Atalhada 


“MOINHOS DE VENTO”


Brancos moinhos, parados, sonolentos,
Sem mágoas, sem lamentos,
Em repouso, de dormência embebidos
Ao alto erguendo os braços ressequidos!

No Verão tudo é silêncio. O sol é rubro e forte.
E, sob a ténue brisa do Norte,
As grandes velas, quais lenços de saudade,
Parecem gemer de ansiedade...

Chega o Outono e o vento nas charnecas
Faz redopiar no chão as folhas secas
E grita e uiva, pelas serranias!

Chega a alegria aos moinhos! Despertam do sono,
E tremem de anseio, que já aí vem o Outono! 
E de velas enfunadas, viram ao vento, desfraldadas!

Alfredo Costa Pereira
 

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O TANQUE


 

O tanque


Havia ali atrás do casario
Um tanque enorme aonde se juntava 
A gente lá do bairro, ao sol, ao frio,
E a roupa lá de casa se lavava

Às vezes, p'la tardinha, no estio,
A mulherada vinha e se banhava
Sujeita a um olhar, um assobio, 
De algum mirone ousado que passava 

E aquela grande roda que ao girar
Impulsionava a bomba a trabalhar,
Fazia sair água em turbilhão

E a pequenada ali se divertia
A ver sair a água pura e fria
E a banhar-se em pura diversão!

José Sepúlveda

O NOSSO OUTONO


Imagem - Divergent


O NOSSO OUTONO 

VESTE AS ALMAS PELAS RAÍZES


O nosso outono despe os galhos às árvores;
Com o soprar do vento magnetiza olores
Frutados, que inebriam os corpos em elos de mãos cheias,
Quais passeiam pelas pedrinhas da calçada as ideias;
Roupagem natural de uma estação de mudança
Que fertiliza os laços de união em taças de paixão.

O nosso outono não tem uma idade para amar;
Com o soprar de anos a casta é mais nobre;
Os olhares mel, que inebriam os corpos em elos de peles,
Quais desenham pelos troncos jardins de nomes cobre,
À imagem da beleza de uma estação neles;
O memorando de sonhos em talha de renovação.

O nosso outono veste as almas pelas raízes;
Com o soprar criativo de uma folha somos felizes;
Lábios ao vento, inebriam os corpos em palavras de luz,
Quais escrevinham pelos corações vidas em poema;
O Multifacetado da estação traduz
O ar superlativo dos céus em noites de temperado clima.

® Maria Pessoa
(pseudónimo)

GUARDO LISBOA NO CORAÇÃO


 

GUARDO LISBOA NO CORAÇÃO 


Muitos lágrimas amargas derramei,
Quando contra vontade te deixei,
E segui os mares das descobertas 
Para me reencontrar com as terras 
Que meu pai semeou e eu floresci
Para a vida muito feliz, que eu vivi.

Fiquei contigo sempre no coração,
Nunca mais te esqueci, presente 
Te tenho em todo o meu instante,
Penso em ti, com muita devoção,
Minha esperança de ainda voltar,
Para de braço dado poder andar.

Tuas colinas, miradouros e vielas 
A luz intensa que ilumina a vida 
Da cidade, o fado e seus fadistas
Os retiros com seus guitarristas, 
O castelo, Mouraria e Bairro Alto,
E o Tejo beijando suas margens.

Permanecem as lágrimas amargas
No meu rosto que não sei disfarçar,
Fazem parte do meu belo passado,
Que jamais será por mim olvidado.

Ruy Serrano 

NÃO À FOME. NÃO À DESIGUALDADE.


Imagem - Divergent 


NÃO À FOME. NÃO À DESIGUALDADE.

NÃO À CARIDADEZINHA.


A fome é um bichinho 
Que corrói o ser humano
Tanto a nível físico como psicológico;
Tendo em conta que há pobreza
De gente no mundo, falta de caráter !
Quais tratam gentes
Como objetos ou seres distantes
Do seu mundo negando-lhe a vida!
Um pedaço de pão;
O carinho de suas mãos;
Um gesto de amizade;
Um minuto de cumplicidade.
Tratam-os como os coitadinhos
Que para nada servem,
Se lhes dão pão é de farinha de segunda 
E alguma fora de validade;
Que morram é indiferente,
Não têm nada para dar à sociedade!
A fome não é o mal só dos que dela padecem
Mas sim dos que dela têm conhecimento
E olham indiferentes, ou até
Solidários na caridadezinha!
Todos os cidadãos têm por direito
A integridade física e mental
E devem ser respeitados de igual forma.
Para combater a fome não é ter que pedir esmola,
Humilharem-se para sobreviver!
Ela é um mal geral da sociedade
Irradiado em todos os seres
Quer por necessidade, quer por negligência;
Pobres de espirito
Que veem as gentes
Como os famintos de pé descalço
E os enterram até à cova!
Deem-lhes o que não precisam para viver
Mas com grande coração
Para que não sejam os pobres de alma
A fazer a caridadezinha.
Sim porque a fome é apenas a miséria 
Causada pelas gentes 
Que esvaziam o estomago de outras gentes
Até que a morte lhes abra as portas da eternidade;
É o reverso de pobreza de espirito!
Todos os que sentem a fome na pele
São sem dúvida grandes almas;
Dignas d´um pedaço de pão
Oferecido de vontade, não o lixo da cidade,
Ou os dejetos do campo.
Estendam as mãos d’alma e coração
Aos mais desprotegidos;
Não fomentem a caridadezinha!
Todos os seres humanos têm direito à igualdade!
Fomente sim a solidariedade 
Em doses de frutos sãos 
De prosperidade e amizade.
Irradiar a fome é a maior riqueza,
Gentes que nos são uteis à sociedade
Que merecem viver com dignidade.
Que o mundo faça algo pela igualdade,
Que as gentes olhem outras gentes
Como seres iguais e de valor!
A fome é um bichinho que destabiliza
A balança de um mundo que queremos sadio;
Há guerras, misérias desmedidas,
Haja paz e pão nas mesas com fartura!
Cabe a todos o dever de respeitar os direitos
Consagrados ao ser humano,
Quais estão a ser desrespeitados
Sem dó nem piedade e quem 
Lucra com a situação são os famintos de alma,
Os marginalizados de um pedestal exótico 
Que têm os dias contados em sociedades
Que comportam grande percentagem de pobreza. 
Não é com caridadezinha que educam um país, 
Que crescem homens de valor e mãos de trabalho!
Deem-lhes um salário digno de gente,
Deem-lhes a oportunidade de viver com dignidade,
Deem-lhes o que lhes é por direito.
Não obriguem as gentes de necessidades a mendigar
O pão de cada dia para sobreviver.
A fome é um bichinho
Que corrói o mundo
Tanto a nível de taxa populacional,
Como a nível de progresso nacional;
Assim como violência gera violência
E todos queremos um mundo de paz!
NÃO À FOME. NÃO À DESIGUALDADE. 
NÃO À CARIDADEZINHA.

® RÓ MAR

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

ROMAGEM DA MINHA SAUDADE


Imagem - Ermida de Nossa Senhora do Monte


ROMAGEM DA MINHA SAUDADE


“Trovas às Senhoras do Monte”


P´ lo cantar da cotovia
Nas ondas do horizonte
Subi às Senhoras do Monte
Com a alma em harmonia.

Saí da Casa da Beira
Em solarenga manhã
Pra ermida que n´ alto está,
Ex-libris de Nespereira.

Já lá fui de tenra idade
Vezes e vezes sem conta
E agora, por pouca monta,
Sou romeiro da Saudade.

Naquela íngreme encosta
Onde antes eram fazendas
Vêm-se agora vivendas
Duma aparência bem-posta.

Do cimo da Belacosa
Por socalcos e vinhedos
Avista-se sem enredos
Uma paisagem frondosa.

Foi grande a coincidência,
Da minha maior estima,
Estavam lançando a vindima,
Deste Minho providência.

Manhã repleta de calor
De colheita sem camisa
Toda a gente colhe e pisa
Os frutos do bom sabor.

Fresca encosta verdejante,
Antes carvalhos, pinhais,
Hoje, apenas, eucaliptais
De uma cor extravagante.

Aqui e além moram fragas,
Por entre elas há veredas
Que s´ estendem sós e ledas
Pelas musgosas quebradas.

Estão à vista as capelas,
De S. João e das Senhoras,
Quem lá vai esquece as horas
E o silêncio à volta delas.

Vêm-se rochas memoriais
Com parques pra merendeiros
Há décadas que os romeiros
Por ali deixam os seus sinais.

Na mais santa das Montanhas
Rente às sagradas ermidas
Elevam-se empedernidas
Duas sumidades-estranhas.

Uma é o cruzeiro da Fé
Restaurado do trovone 
Outra é a torre da Vodafone
Que ninguém sabe pro qu´ é.

Ali mesmo um memorial
Escrito com engenho e arte
Cita o primo padre Duarte
Dos romeiros primordial.

Estava eu nisto pensando
Quando passa um pelotão
Duma BTT em diversão
Que ia por ali passando.

É assim aos fins-de-semana
Habitual giro em bolina
Naquela santa colina
De uma ou outra caravana.

Desfraldei uma oração 
Antes de me despedir
Das Senhoras que a sorrir
Me benzeram o coração.

- Ó Senhora da Lapinha,
E do Monte e da Guia,
Canto pra Vós com magia
À luz de acesa estrelinha.

Quão belo o azul do céu,
Ao longe a linha do mar,
Foi muito bom aqui estar
Levo na alma um troféu.

Olhei o fausto do horizonte
De todo o concelho primaz,
Sentindo-me feliz e em paz
Desci das Senhoras do Monte.

Um dia aqui voltarei
Pra alimentar a Saudade
Nas asas da liberdade
Que desde a infância gerei!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA