terça-feira, 30 de junho de 2020

SÃO PEDRO DO TOURAL


SÃO PEDRO DO TOURAL 


Santuário da minha meninice,
Viagem conjugada com meus pais,
Cidade-berço ornada de latinice
E ao ritual dos sons dominicais.
Horário nobre, em nobre fantasia,
Ouvindo as homilias inacabadas
No despertar do coro e da magia
De belas melodias requentadas.

As doze badaladas do Toural
Dando notícia ao «ite missa est»
Abriam apetite conjuntural
Pr´ à ida ao bom café e ao jornal.
E a acompanhar o lídimo arcipreste
Cavalheiros e madamas, o habitual.

Só depois os pequenos, aos apelos
Dos vendedores de rua ocasionais,
Trocavam seus gostosos caramelos…

E, em festejos, e apostas informais,
São Pedro, regateando com desvelos,
Aviva em nós memórias ancestrais!

© Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS

segunda-feira, 29 de junho de 2020

ORAÇÃO A SÃO PEDRO


ORAÇÃO A SÃO PEDRO 


Mote: de Abel Cunha


“São Pedro, na hora incerta,
Uma só coisa preciso:
Ter a tua porta aberta
Para entrar no Paraíso.”

Glosa


Nesta vida, conturbada
Pela maldade completa,
Quem ouve oração rezada?
São Pedro, na hora incerta.

Eu não sou rico nem pobre
Estou de perfeito juízo,
Ó meu São Pedro, tão nobre,
Uma só coisa preciso:

Tu tens poder e bondade
Ouve minha voz, em alerta,
´Spero na hora da verdade
Ter a tua porta aberta.

Quero minha vida viver
Sem ter dela prejuízo
E, boas obras eu fazer,
Para entrar no Paraíso.

Anda moléstia no mundo
Por culpa da insensatez
Seu horror é bem profundo
E aumenta de mês a mês.

Foste o escolhido por Deus
Para missão destemida
Confiou-te a chave dos céus
Pra abrir as portas da vida.

Ó bom São Pedro divino,
Meu oráculo e devoção,
Ampara-me no desatino,
E escuta a minha oração.

© Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

REENCONTRO



REENCONTRO


Num só beijo
e num só abraço
matei toda a saudade
ancorada há muito
no meu peito.

Vivi a emoção
da sua presença
sem ressentimento
mas alegria no coração
a mesma de outros tempos
em cada chegada a casa
depois de certa ausência!

Agora em cada despedida
será sempre um até já
porque o tempo passa
sem benevolência
para as mágoas
desse distanciamento
sem esperas
nem beijos nas chegadas!

domingo, 28 de junho de 2020

O HOMEM DAS SETE CHAVES


O HOMEM DAS SETE CHAVES 


«Em honra de São Pedro 2020»


Sto. António não ligou nenhuma,
O São João fez orelhas moucas,
Resta agora o São Pedro, em suma,
Com as suas tarefas loucas…

Há sempre alguém que não tem medo
Mesmo qu´ esteja em confinação,
Esse, alguém, chama-se São Pedro
Que tem sete chaves na mão.

“Eu dar-te-ei a Chave do Reino”,
Disse-te Ele, sem nenhum segredo,
Não te exigindo nenhum treino,
Ou não fosses tu o Simão Pedro.

Tu, aproveitando a ocasião,
Não te ficaste por medida,
“Quero sete chaves para a mão
Porque bem difícil está a vida”.

“O Reino não tem sete portas,
Toma mais duas e já te chega…
Dá para entrar nas horas mortas
Mesmo depois duma cegarrega!”

“Eu preciso das sete chaves,
Para usar durante a semana,
E eu, sabendo que Tu o sabes,
Tua incumbência não me engana!”

“Sim, anda tudo tresmalhado
Já quase nada tem concerto:
O pobre mundo está confinado,
Só com sete chaves é que dá certo!”

“Pedro, foi o nome que me deste,
Embora eu achasse fantasia,
De pedra angular, Tu me fizeste
Para resolver esta pandemia…”.

“E eu aceitei o Teu desafio
Coloco apenas esta condição:
Quero, e não acho desvario,
Sete chaves na minha mão!”

“Toma lá, para a segunda, esta”…
“E dá cá outra para a terça,
Para a quarta, a quinta e a sexta…
(Sábado e domingo, descanso a cabeça!”).

“Ah, queres, ao fim-de-semana, relaxar!”...
“Estou farto de estar confinado
Neste medonho Céu d´ espantar
E a sete chaves bem fechado!”

“Ó, não queres chaves. Queres chavões?!”
“Quero, pois, para resolver este impasse:
Uma delas tem que ser a dos milhões
E, já agora, sem máscaras nem disfarce!”

“Toma lá, Pedro, mais esta gracinha:
Para as Chaves, estes sete chaveiros
Para fazeres uma boa figurinha
Diante dos teus belos parceiros…”

O bom do Pedro fez chegar a notícia
Ao amigo Paulo, de longa data,
Fazendo-lhe ver toda a delícia
Que lhe dava esta Concordata.

Paulo de Tarso, co´ a sabedoria
Da sua alta pregação,
Pode ser uma mordomia
E uma excelente solução…

E assim o nosso Homem conseguiu
Sacar do bom Deus, as Sete Chaves:
Tomou-as, caminhou e sorriu,
Pra resolver, cá, assuntos graves.

O pior deles, com certeza, é o Covid
Que parece não querer sair.
Vamos ver se São Pedro decide
Para que possamos em breve sorrir!

«Meu Santo, meu Santo adorado,
Das tuas Chaves, dá-me a sagrada
Que cure este mal amaldiçoado
E deixe a minha alma resgatada!»

© Frassino Machado
In ODIRONIAS

sábado, 27 de junho de 2020

INSPIRAÇÃO SAGRADA


INSPIRAÇÃO SAGRADA


No casulo de seda fina dourada
Escondo o meu ser e pensamento
Aguardo palavras surgidas do nada
Caiam sobre, mim trazidas plo vento
Abro a mente à inspiração sagrada
Que me brinda a todo o momento
Na tinta azul que jorra abençoada
Dos rios divinos do firmamento
Onde termina a nossa odisseia
Corolário do enigma do tempo
Que nos prende à eterna teia
Bordada de seda sublime e fina
Que une a terra e o céu
Numa renda de origem divina
Que protege todo o meu, eu.

Só desejo que um dia!
Quando alguém ler este poema
Sinta-se levitar por magia
Como pomba branca eterna
Símbolo imaculado da poesia
E da sensibilidade terrena
Que dentro de mim irradia
Por ordem divina e suprema
Seja o bálsamo que alivia
Um perfume de alfazema
Como a tua alma queria
Agora, aqui neste lugar
Lê! Fecha os olhos e medita
E deixa-te encantar
Na pomba branca que levita
Sobre os rios divinos e o mar
E, não hesites, acredita!
Que a poesia te pode salvar
Em cada palavra escrita
Só tens de acreditar!

© Joaquim Jorge de Oliveira

Évora, 06-06-2015

REFRESCA A MINH' ALMA


Imagem: SAi$ONS


REFRESCA A MINH' ALMA


Ah, lima limão refresca a minh' alma,
Leva-me o labor dum tempo rígido,
Liberta o verão numa só voz calma,
Sussurra o amor dum tempo cálido!

Ah, que triste condão, não há vivalma!
E quem quer o sabor dum tempo sisudo?
Seca o coração, o destino é palma
Sucumbida de dor e estio perdido!

Ah, lima limão refresca a minh' alma,
Leva o dissabor prós confins do mundo,
Liberta a estação em canção calma!

Ah, tempo de fervor como és querido!
Recordo a paixão e minha paz d' alma
É a hortelã flor dum verão amado!

quarta-feira, 24 de junho de 2020

SÃO JOÃO CONFINADO


SÃO JOÃO CONFINADO 

“Auto de Contestação 2020”


Eu quero, meu povo, lavrar
Meu Auto de Contestação
Pra tripeiramente declarar
Esta falta de consideração!

Vi todo o País desconfinado
A preparar-se pra festejar
Um grito de alma revoltado
Eu quero, meu povo, lavrar.

Por decidirem pra Capital
Final da Europa do Campeão
Quero lavrar, de forma cabal,
Meu Auto de Contestação.

A culpa é de quem ´stá no poleiro
E que lá fora sabe incensar,
Venho aqui, e de corpo inteiro,
Pra tripeiramente declarar.

Eu me honro da minha Festa,
Com variantes de sensação,
Lamento por razão manifesta
Esta falta de consideração.

Diziam que Lisboa era segura
E que já nem Covide tinha
E, agora, metem-se em aventura
Puxando a brasa à sua sardinha.

Parece que a Fera regressou
Andando por aí em todo o lado,
Desta feita o caldo s´ entornou
Voltando tudo ao confinado…

Foi no que deu o quixotismo
Abrindo os braços à Europa
Epidemia mais facilitismo
Não dá pra brincar co´ a tropa.

Eu, como me acho bonzinho
E ´stou quase desconfinado,
Vou-lhes fazer belo jeitinho
Mandando-lhes este recado:

Temos cá o nosso Dragão,
Temos cá a nossa Pantera,
Mudem pra cá a Competição
Que a Ordem a gente assevera.

Fica assim resolvida a desfeita
E mais amigos do que dantes,
Quem à aventura se ajeita
Acaba o caminho a penantes.

Quanto às Festas… logo se vê,
Sardinhadas não faltarão
O resto, na Internet e na Tv,
Há sempre espaço pro São João.

Nem que seja à porta fechada
Ou mesmo dentro dum quintal
Haverá Festa até de madrugada,
E, quem sabe, algum arraial…

Com alhos-porros ou sem eles,
Sem martelinhos prós desafios,
Mas co´ a adrenalina nas peles
Estão mil balões a ver navios.

A gente nunca se atrapalha
Nem a nossa alma fica aflita,
Quem tem esta garra não falha
Porque somos a Cidade Invicta!

Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA

O SÃO JOÃO


O SÃO JOÃO


Olha o São João
Que este ano está confinado
De máscara na mão
Espalhando gel todo o lado

Da Sé à Ribeira
Uma autêntica desolação
Com a PSP na barreira
É assim a noite de São João

És o segundo a festejar
Sem marchas populares
Com os polícias aos pares
E o povo em casa a chorar

Meu Santo de eleição
Vou festejar sem emoção
Espero por Ti no próximo verão
Sem covid a noite de São João

© Paulo Gomes | 2020

domingo, 21 de junho de 2020

A VONTADE DO CORAÇÃO



“Glosando Almada Negreiros”

MOTE - “TODA A NOSSA FELICIDADE
ADQUIRIDA PELA NOSSA CABEÇA
DEPENDE DO NOSSO CORAÇÃO.
UM HOMEM NUNCA É O QUE QUER
MAS O QUE QUER SER SEU CORAÇÃO."

Almada Negreiros

*

A VONTADE DO CORAÇÃO 


A maior aventura do mundo
Que todo o ser humano engendra,
E que parece não ter emenda,
É a que nasce lá bem no fundo
E que faz com propriedade
Sonhar ter, como oferenda,
Toda a nossa felicidade.

Prémio justo e compensador,
Por tudo quanto custa viver
Durante a vida que se tiver,
E não há alternativa ao redor
Que a todo o humano engrandeça,
Do que a vontade que se requer
Adquirida pela nossa cabeça.

Esta energia vital tremenda
Emergente das profundezas
É uma das maiores riquezas
Que a própria razão recomenda
E, pela vontade da emoção –
Como catarse para as certezas –
Depende do nosso coração.

Há corações largos e estreitos
E corações coesos e partidos
Aos quatro ventos dos sentidos
Mas nenhuns deles perfeitos.
E, quer em homem ou mulher,
Pelos meandros consentidos
Um homem nunca é o que quer.

Toda a vontade e solicitude,
Vinda de dentro do ser humano
Sem subterfúgio ou desengano,
É luz segura e é uma virtude
Que, sendo de si feliz condição,
Não tolera um cariz soberano
Mas o que quer ser seu coração!

© Frassino Machado

In OS FILHOS DA ESPERANÇA

sábado, 20 de junho de 2020

O VERÃO!


O VERÃO!


Eis que o verão vem pra a vida desenhar
Em traços d' esquentar a frieza que tem
A natureza só, a dor de não estar,
Época de ninguém, só e triste também!

Entre as linhas de cor pálida da estação
Que parte o coração, só e desconsolada,
Sobrevoa o amor! Dói tanta solidão
E primavera é flor para ser amada!

Eis que o verão vem dar mais cor à vida,
Em cada um pintar a terra de alguém,
Numa mão calejada dum' alma inspirada!

Entre ele e nós está a vera tela dos sós,
Que no silêncio serve a arte que tem
E volve o estio que dá corpo à voz!

sexta-feira, 12 de junho de 2020

"CINCO QUINAS"


Amália Rodrigues | Foto de Ró Mar


"CINCO QUINAS"


Esta terra soa a fado atraiçoado,
Quis o destino trinar noutro condado,
Lá vai a guitarra de mão-em-mão,
Dedilhando o cansaço duma nação!

Esta terra de tão nobre tradição
Não deixa de ser a boa portuguesa...,
Freguesa farta (pão/ vinho), coração
De filigrana com toda a certeza!

Esta terra é saudade em todo o canto,
Amália d' ouro voz e negro manto
O fado a "Cinco Quinas" condecorou!

Esta terra é original/ imortal,
Não há traição que vença Portugal,
Nem o fado que o povo tanto amou!

quarta-feira, 10 de junho de 2020

AO ANJO DE PORTUGAL




AO ANJO DE PORTUGAL 


“No Dia 10 de Junho”


No mesmo Dia de Portugal e de Camões
Outra auspiciosa Festa há que celebrar –
A do «Anjo de Portugal» e a ele suplicar
Que livre o nosso País das suas aflições.

- Ó Anjo de Portugal, nosso amigo e Protector,
Sabemos que te chamas S. Miguel também
E que tens protegido nosso País, e bem,
Desde o rei Dom Afonso, nosso Fundador.

- Entre todos os Anjos tu és o Invencível,
Defende-nos, portanto, contra os impostores
E contra Satanás, o rei dos malfeitores,
E concede-nos de Deus a bênção imperecível.

- Tu foste, na Batalha, a espada imorredoura
Que deu à nossa força a energia pertinaz,
Consegue para nós os benefícios da paz
Pra que, nela, tenhamos bens a toda a hora.

- Protege, ó Anjo Bom, o teu estimado povo
E faz que Portugal se torne um País Novo!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA

Nota: BATALHA, referência à batalha de Ourique,
em Julho de 1139.

AO MESTRE CAMÕES


Foto de Ró Mar


AO MESTRE CAMÕES

[oitava rima camoniana]


Ao mestre da língua portuguesa
Venho louvar as comemorações
Do dez de Junho, honrar a firmeza
Do povo português [Dia de Camões,
De Portugal e da Com. Portuguesa].
Por mar bravio mergulhou brasões,
Epopeia "Os Lusíadas"- dez cantos,
A conquista a Oriente e contos!

© Ró Mar | 2020/06/10

https://ro-mar-poesia.blogspot.com/

terça-feira, 9 de junho de 2020

CABO DAS TORMENTAS 02




CABO DAS TORMENTAS 02 


«2020 Descobrir Portugal, no Dia de Portugal»


Num horizonte humano, tão amplo e global
Como este em que vivemos comunitariamente
Com rostos mascarados, quase completamente,
Impõe-se uma tarefa anímica essencial:

Pôr de lado qualquer sentimento virtual
Fazendo unir o corpo em arejada mente,
Para que desse gesto resulte cabalmente,
Descobrir Portugal, no Dia de Portugal!

Mas sabemos, porém, que já não há heróis,
E aqueles qu´ houve recriaram novos mundos,
Donde saíram tesouros e males profundos,
Faltando agora outras gerações e outros sóis!

E Portugal? Oh, está hoje reduzido a pó,
Porque já nem existem as cinzas ciumentas
Ficando, todavia, o Cabo das Tormentas
Num triste túmulo de Camões, falando só…

P´ ra Descobrir Portugal – hoje, aqui e agora,
Quer o queiram ou não os “velhos do Restelo” –
Basta fazer da Alma um intrépido castelo
Onde a bandeira da Fé reerga nova Aurora!

© Frassino Machado

In JANELAS DA ALMA

domingo, 7 de junho de 2020

"VIVA AOS SANTOS POPULARES!"


Foto de Ró Mar


"Viva aos Santos Populares!"


"Viva aos Santos Populares!"
O verão a chegar...
Gel pra te resguardares
Dum Junho por acabar!

"Viva aos Santos Populares
Que vão desconfinar!
Se ao arraial faltares
És bem-vindo pra casar!

"Viva aos Santos Populares!"
Santos de todos os lugares
Livrai-nos os maus olhares,
Boas quadras populares!

"Viva aos Santos Populares!"
Ao padroeiro de Lisboa
Boas quadras populares
Fez o poeta Pessoa!

© Ró Mar  

NA NOITE