segunda-feira, 16 de junho de 2014

COMPASSOS DO CORAÇÃO




COMPASSOS DO CORAÇÃO


Linda, no seu vestido estampado e manto esvoaçante, solto à brisa suave, chegara a primavera deslizando num fio de raio de luar. Nesse encantamento a terra tornou-se fértil! Encheu-se de sentimentos de solidariedade e perdão, feliz a absorver a energia das folhas, que entregaram seus encantos! Folhas de quimeras esquecidas no sussurro do vento pelo cinzento outo...no e gélido inverno, este, mestre em congelar sorrisos e esfriar abraços. A chegada de Perséfone exaltou o colorido das rosas, salpicou de perfume os lírios e ofereceu magia a todas as flores! O sol, a espera do verão para incendiar os corações, conteve-se em gestos primaveris a dourar levemente, carinhosamente os longos cabelos da cachoeira e num gesto de amor ofereceu um sorriso morno ao dia. A mãe natureza encantada com a chegada da filha Perséfone, prepara os lençóis da alegria, cobre a casa com tapetes de emoção e enfeita a noite com salpicos de brilho das estrelas e decora tudo com a prata da lua. Foram oníricos dias da gentil e doce primavera até que chegara o verão. Este surge abrasador e pronto para despir desilusões. E assim, seguindo sua predestinada obra, aqueceu os sonhos, bronzeou de carinho o viver e amou com fascinação, até a partida de Perséfone para a casa do esposo. Casada, assumira eterno compromisso, mesmo tendo sido raptada de seu convívio familiar, à colher flores para enfeitar esperanças, pelo Rei do submundo. Submissa, Perséfone fora enfeitiçada pelo vermelho quente e o dourado da doce romã; tentação disfarçada de riqueza e poder, sendo esta, a fruta do mergulho afrodisíaco da deusa Afrodite. Mesmo com tantos atributos a doce delícia amarrou os laços e as profundezas enfureceram-se... Então, o breu inundou e o caos aflorou. As folhas em ato de generosidade deixaram seus aconchegos para proteger o solo da mãe, e livrá-lo do gelo dos desígnios delineados no desamor! Os troncos não se curvaram à tristeza de Deméter, mesmo sofrendo a ação das intempéries! Não murcharam ao perderem as folhas e altivos esperaram o outono despedir-se, o inverno secar as paisagens, gelar os projetos, espalhar os cacos e dar lugar a novos brinquedos, novas auroras em roupagem de esperança, de poesia aflorada e de canções a encher o ar, com melodias angelicais. Em grito de poesia vibram as estações uma após a outra, como o decorrer dos tempos e dos sentimentos, num olhar de dor para o morrer, ou de deslumbre para o renascer, como o pulsar do sangue em compassos do coração!

Elair Cabral