LARGAVAM O CAIS
Gotas da alma pigmentaram o magoado soalho
um pouco enrugado e calejado da abundância de trabalho
enquanto as frígidas calhas novas outrora
já não sustentavam tamanha demora.
A flor encarnada não gerava nenhuma semente
perdera o vigor que a distinguia na mocidade
mas a gente assegurava que estava somente doente
e seria de novo coberta por centelhas de felicidade.
Os ramos vergados foram ficando mais desnudados
diante dos troncos que se exibiam firmes e alinhados
mostrando ao mundo que os anos não mais contavam.
Os sorrisos rasgados depressa foram implantados
os campos de trigo e os jardins de rosas multiplicados
enquanto os barcos parados o cais largavam.
© Agostinho Silva | 02/2022