terça-feira, 20 de dezembro de 2016

AH, ONDE ESTÁ O NATAL!?


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AH, ONDE ESTÁ O NATAL!?


Ah, onde está o Natal!?
Apregoado aos quatro ventos
Num bilhete de lotaria, a sorte de alguns!
Num prato de comida, uma vez ao ano,
Com direito a destaque na coluna social!
Num abraço antes mendigado
As boas festas e um sorriso forjado!
Nos tapetes de cartão espalhados pelas ruas,
As noites de frio e medo, o desespero de alguns!
Na prateleira de todas as recordações
O retrato de família desbotado.
No arquivo dos bem-aventurados
O país das maravilhas idolatrado!

Ah, onde está o Natal!?
Profetado pelos homens ao universo
Como sendo bem maior e fundamental!
Num canto qualquer do mundo,
À beira do abismo, resignado ao conformismo!
Entreaberto nas páginas de um livro
Que nunca chegará a ser lido!
Entre o aconchego de um lar
Que um dia nem mais será preciso!
Na pedra cinzenta de todos os dias
O cardápio dos bons dias!
Nas palavras de tantos lamentos
Que envolvem grandes investimentos!

Ah, onde está o Natal!?
Nas guerras desmedidas,
Nas demais crianças desprotegidas!
Na visível desigualdade, nos preconceitos,
Na clemência pelo direito ao respeito!
Na árvore de todos os dias
Que se conta pelos dedos as bolas coloridas!
Nos meandros das revoltas
Coleccionando notícias bombásticas!
Na bitola de uma sociedade
Em que o espaço é contado ao milímetro!
Nos bancos dos jardins
Ou nas mesas dos botequins!

Ah, onde está o Natal!?
Nas campanhas de sensibilização,
Na imprensa e também na televisão!
Nas redes sociais, nas instituições solidárias,
Em tantos lados que não têm conto!
Nas margens de vidas que não vêem volta,
No peso da assistência nula ou precária!
No país das maravilhas que constrói muros
Em vez de pontes que dêem futuros!
Na soberba e ganância construindo impérios
À custa do trabalho de muitas gentes!
Meu Deus, como vai o mundo,
O caos instalado e a culpa que é da crise!

Ah, onde está o Natal!?
No menino Jesus de todas as ruas;
Nas árvores plantadas por todo o mundo;
No espirito dos que ainda acreditam
Que o perdão é o melhor reverso da medalha;
Na réstia de esperança que move os dias;
No abençoado sol que nasce em qualquer lugar;
Na riqueza da natureza e sua beleza;
No paradigma ainda por inventar;
No caminho em direcção à estrela maior;
Nos demais testemunhos que há para contar;
Na proximidade das gentes em torno do salvador;
Na palavra e gestos sentidos de um país das maravilhas.

© RÓ MAR