PÁSSAROS DE FOGO
“À Guida Machado”
Saí à luz clara do dia
Ouvindo o cantar dos pássaros
Cantou melro e cotovia
Na vontade de uns abraços.
Ouvi o cantar das rolas
Senti o soprar da brisa
Alegres as passarolas
No seu voo que deslisa.
P´ las ruas da emoção
Assobiou o clarinero
Pautei a minha solidão
Co´ este novo companheiro.
Nos aromas da manhã
Com cheirinhos de alecrim
Saboreei uma maçã
Co´ a partitura de mim.
Ontem um sol de verão
E hoje nuvens esguias
Faz-me esquecer a estação
Enredando-me as fantasias.
Sob horizonte sombrio
Fiz a minha caminhada
Não estava calor nem frio,
Assim foi melhor que nada.
Ouvi os piscos e os pardais,
Os canários e os rouxinóis,
Pintarroxos e outros que tais
Com sustenidos e bemóis.
Ouvi Mahler e Stravinski,
Entre sons intermitentes,
E até reli o Ferlinghetti
Com letras incandescentes.
Ao parque por fim cheguei,
Margaridas e violetas,
Por todo o lado encontrei
Partituras incompletas.
Não passa rio e não há lago,
Pouca água para a estória
E eu, co meu tempo vago,
Tento avivar a memória.
Pássaros de fogo e da vida
São aves e são firmeza
São a esperança revivida
Na balança da Natureza.
Ouvi “pássaros de fogo”,
Ó que fogo extraordinário,
E lembrei-me neste jogo
De um feliz aniversário:
Com asas que Deus lhe deu,
Um anjo com brancas asas,
Lá do alto um dia desceu
Margarida, por entre brasas.
Em sons que vêem de dentro,
De ritmo e música austera,
Espera ela a todo o momento
Que renasça a Primavera!
Frassino Machado
In OS FILHOS DA ESPERANÇA