OS SANTOS INOCENTES
“As trovas dos Valinhos”
Duas crianças, inocentes,
Dos caminhos deste mundo
Já estão na alma dos crentes
Em culto de fé jucundo.
Nasceram desconhecidas
De famílias estigmatizadas
E deram as suas vidas
Num rosário de pegadas.
Cada dia, ao sol nascer,
À frente do seu rebanho
Por sendas, a subir e descer,
Ganhavam seu pão estranho.
P´ las veredas dos Valinhos
Com frio, com chuva e ao vento,
Com dores e sem carinhos,
Sem direitos e sem lamento.
Sempre vestidas de fome,
De côdeas secas, sem lume,
Sem privilégio dum nome
Dormindo às vezes no estrume.
Passavam à porta da escola
Com as ovelhas a balir
E um vazio na sacola
Sem vontade de sorrir.
Desde manhã até à noite
Apanhavam bolotas a rodos
Com medo de algum açoite
Que apanhariam de todos.
Ninguém estranhe as visões
Que juraram ter vivido…
Vida negra e alucinações
Teriam ou não ocorrido.
Num ano de fim-de-guerra
Sem tempo pra fantasias
Por todo o lado, na terra,
Mendicância e epidemias…
Morreram cedo, é natural,
Agarradas ao seu rosário,
Ficou delas um roseiral
Com espinhos de fadário.
Mar de histórias comoventes
Das crianças dos Valinhos
E agora, «os santos inocentes»
Num altar de pergaminhos.
É justo um lugar cimeiro,
É merecido todo o louvor,
E seria justo e pioneiro
Haver milagres sem dor.
Há Valinhos por todo lado,
Há crianças estigmatizadas,
Que mereciam um outro fado
Do que serem exploradas.
Aos bons santos e Maiorais
Propõe-se a “canonização”
Dessas crianças sem pais,
Com verbas de angariação.
Mãe de Fátima e santo Padre
Poder-se-ão bem entender;
Que admirável seria o milagre
Se isso viesse a acontecer.
Minhas Trovas dos Valinhos
Eu venho aqui ofertar
Aos resistentes Peregrinos
Que a Fátima irão chegar!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA