segunda-feira, 14 de agosto de 2017

NOSSA SENHORA DA BEIRA




NOSSA SENHORA DA BEIRA

“Trovas à Casa da Beira”


Neste meu sonho embalado
Tantas vivências sem fim
Sinto mais perto o passado,
Com as lembranças de mim.

A meio da encosta erguida
Qual paraíso encantado
Minha Casa renascida
Neste meu sonho embalado. 

Mui esbelta e ensolarada,
Com aroma de jasmim,
Numa aventura passada
Tantas vivências sem fim.

Ali mora a minha história,
Livro escrito inacabado,
Nesta odisseia notória
Sinto mais perto o passado.

Onda de vento altaneira, 
Meu quintal e meu jardim,
Estou vivo na Casa da Beira
Com as lembranças de mim.

De uma recôndita mina
Cavada no seio do monte
Desce a água cristalina
Que dá vida à minha fonte.

Não há regueiras selvagens
De indisciplina corrente 
Nem salsa nas suas margens 
Que dê tempero pra gente. 

Acabaram-se as latadas
Cortaram-se os laranjais
E o melro p´ las madrugadas
Cantar, já não canta mais.

Na eira não há crianças
Jogando à macaca e à bola
Estão secas as esperanças
De uns trinados de viola.

Relógio de sala festivo
Com cuco madrugador
Era, porém, o lenitivo
Para a solidão e a dor. 

Não há canto nem piano
Com lareira e mesa cheia
Mas há um fado todo o ano,
Minha Casa, minha aldeia.

Meus vizinhos, lado a lado,
Estórias para esquecer,
Eram testemunho e enfado
De problemas a haver.

Na escadaria da Igreja
Medindo-se a valentia
Saia currículo de inveja
Em escola de fantasia.

Nas noites de trovoada,
Raminhos de oliveira,
Com ladainha rezada
Nossa Senhora da Beira.

Saudade com sabor a céu,
Santa Beirinha prendada,
À sombra de um mausoléu
Está minha Casa plantada! 

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS