quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

AS CABRAS SAPADORAS




AS CABRAS SAPADORAS 


“A farsa do pinhal”

Espantadas estão as cabras
Por este triste sacrilégio
De terem que pagar as favas
Do histórico pinhal régio.

Dizem que no pinhal do rei,
Por entre sortes macabras,
Estando a ser violada a lei
Espantadas estão as cabras.

Se soubesse o rei Lavrador
Que lá já não há sortilégio
Tomar-se-ia de grão furor
Por este triste sacrilégio.

O fogo de estranha origem,
Com ou sem abracadabras,
Põe nas cabras a vertigem
De terem que pagar as favas.

Foi muito estranha tal ideia,
Com este projecto egrégio,
Quem sabe, dalguma alcateia
Do histórico pinhal régio. 

Ó, coitados dos animais,
Assim tão desamparados
Com estes mandatos fatais
Ficarão bem estorricados.

Estas “cabras sapadoras”
Assumirão um sacrifício
De trabalhar horas e horas
Pra não haver desperdício.

Tais empregos são bacanos,
Até dá gosto trabalhar,
Se os houver todos os anos
Há economia pra durar.

O pior é os outros rebanhos
Que não poderão crescer
Depois das cabras, os anhos
Mais que muitos vai haver.

Pinhais, sempre os haverá,
E não faltará a madeira
Só caravela é que não há
Nem almirante que a queira.

- Filhos dos homens, que quereis?
Não vale a pena os lamentos,
Muito mais que isto tereis:
Novas artes, novos tormentos…

Trovas e cantares de amigo
Plantai farsas e dançai
As cabras trarão o trigo
E vós, outros, despertai!

Frassino Machado
In ODIRONIAS