sábado, 23 de junho de 2018

UM HINO À CIDADE


UM HINO À CIDADE


Ai esse corpo cidade que a cidade vai abrindo
Esse corpo de ansiedade nas vidas que vão florindo...

Ai esse corpo violado que se esgueira pelas vielas
Esse corpo mal tratado nos corpos deles e delas...

Ai esse corpo almofada sem atavios riqueza
Corpo de pedra lavrada, corpo de vida burguesa...

Ai esse corpo cidade com traineiras na lonjura
Sempre manhã, sempre tarde, nos braços da noite escura...

Ai esse corpo doçura no amor de quem lhe quer
Esse corpo dedilhado, como guitarra-mulher...

Ai esse corpo de espanto desta cidade brumosa
Todo riso, todo pranto, todo amante ansiosa...

Ai cidade marginal no desespero dos dias
Cidade nobre e leal de muitas democracias...

Ai encanto de pintores, de poetas, doutros mais
De jardins cheios de cores, de tertulias ancestrais

És cidade toda Povo de manjerico na mão
E és Porto de igualdade em Noite de S. João!...

Maria Mamede
"DE AMOR E DE TERRA"