A MORTE DA SOLIDÃO
“O drama do poeta”
Já o escreveu Diderot,
Acerca da Comunicação,
“Com ela ninguém está só
E dela nasce a criação”.
Neste mundo mascarado
Com tanta comunicação
Anda tudo embriagado
Envolvido em solidão.
Palavras voam sem fios
Pelas mil encruzilhadas
São como as águas dos rios
Correndo desencontradas.
Ninguém conhece ninguém
Neste coreto virtual
Cada mensagem que vem
Sai frágil como o cristal.
Vê-se p´ la crista da onda
Rolando cheia de espuma,
Que, mesmo esticando a sonda,
Ninguém acha ideia alguma.
Neste mar encapelado,
Em dia e noite com drama,
Voga o poeta angustiado
Numa jangada sem chama.
É certo que não está só,
O seu palco é sua escrita,
Tritura com branda mó
Esta tragédia infinita.
Sonha por dentro e por fora
Alcançar a criação
E procura a cada hora
A morte da Solidão.
É esta a sua jornada,
É esta a sua viagem,
Mesmo sem valer de nada,
Dá sempre voz à mensagem.
Não se trata de um dilema
Mas de uma alma tenaz
Que se mascara de poema
Ficando consigo em paz.
As palavras são companhia
Nas arribas existenciais
Tem horror à fantasia
Que não pode aguentar mais.
Em cada dia que passa,
Mesmo em solitário trilho,
Cada poema é uma graça
E um abençoado filho.
Se não tiver inspiração
Sente-se nu e despido
Mas tem nas veias a emoção
Que lhe dá vida e sentido.
O poeta, em si, é um drama,
É um drama e uma verdade
Se não o sente não reclama
Dele próprio a identidade.
A solidão tem de morrer,
Ela é o seu mal menor,
Dá-lhe força e faz renascer
A Poesia, seu bem maior!
Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA