PESCADORES
DO MEU PAÍS
As ondas batem forte no cais
É o temporal que se levanta
No ar fica o grito do arrais
Partindo para nova campanha
Gaivotas chilreiam bem no ar
Como sinal de luta, de despedida
Parecem também elas implorar
Por quem tem tão dura lida
E as ondas batem forte
Levando tudo que encontram
Com sua fúria de morte
Os que se não amedrontam
Baloiços que são traineiras
Onde a vida é incerteza
De almas aventureiras
Que procuram uma certeza
Trabalho. Que é o seu pão
P’ra matarem fome aos seus
Que com grande devoção
Pedem por eles a Deus,
Chora o Ti Zé a Ti Maria
Pelo pai ou pelo filho
Para que este maldito dia
Não seja o último trilho
Mas o mar não acalma é cruel
E lá longe bem distante
Nas águas verdes cor de fel
Tudo acaba num instante
É o filho que perdeu o pai
A mulher que perdeu o marido
É um mundo que se esvai
Num grito sem ser ouvido
E as ondas batem forte
Torcendo ferro e cimento
Deixando homens sem norte
Não se entregando um momento
A noite é escura e nada vê
O pescador que o mar desafia
Mas em tudo isso ele revê
O seu pão de cada dia
E a noite se prolonga
Os minutos não se passam
Cada onda é mais longa
Mais corações despedaçam
O piloto saiu a barra
Que teria acontecido?
Ter-se-ia partido a amarra
Ou alguém já está em perigo?
Ouvem-se então as lamúrias
Das mulheres e dos mais velhos
Rezando. Lançando injúrias
Ou dando mesmo conselhos
Seus olhos estão vermelhos
Vermelhos de tanto chorarem
Mas são fiéis como espelhos
Nas lágrimas de tanto penarem
Com angústia e ansiedade
Eis que rompe um novo dia
E neste cais de saudade
Chegam lágrimas de alegria
Barcos já estão de volta
Os homens estão cansados
Mas neles não há revolta
Por estes perigos passados
O mar ficou mais sereno
Já deixou de ser feroz
Tornou-se até mais pequeno
Por não impor sua voz
Amanhã é outro dia
Nova luta vão travar
De prazer ou de agonia…
Quem poderá adivinhar?
Pescadores do meu país
Tendes raça de Camões
Tendes força de raiz
Tendes grandes corações.
© ARIEH NATSAC