quarta-feira, 1 de junho de 2022

A CRIANÇA QUE FUI




A criança que fui


Eu sou aquela que já foi criança
De cabelos ao vento, numa trança
Aquela que de sonhos se enfeitava
Menina doce, terna, que sonhava.

E visto-me de estrelas diamante
Vivo o momento breve do instante
Que a felicidade pode escurecer.
Saio para a rua. Vou viver!

Mas quando me procura o sentimento
Sou saudade, sou dor e lamento
Sou talvez barquinho a navegar.

E em cada dia, em qualquer momento
Eu paro e regresso atrás no tempo
Para ver aquela criança passar.

© Madalena Santos

MENINO PASTOR

 


MENINO PASTOR


Menino do alto da serra,
Pastoreia rebanho com muitos nomes
Mas, porém, todos conhece…
Como se da sua família fosse

Joga com ele a sua meninice
Azougada com balidos saltitantes
Entre ervas daninhas que bailam ao vento
Num sustento que dá vida à vida

Menino que cresce sem escola
Mas é o primeiro a chegar ao seu ensino
Sem livros cadernos sem bola
Mas ele tudo aprende para ser mestre

Olhos atentos ao que se passa em redor
Ajudado pelos pássaros que o desafiam
E o ajudam nos perigos
Que não vêm nos livros
Nem são precisos artigos
Que aprende na escola da vida

Menino que vai crescendo
Faz-se homem por vezes rude
Mas com coração meigo e doce

Que abraça um cordeiro nascido
E o transporta como se fosse um filho
Pelo seu amor parido

Menino homem cheio de rugas
De cajado feito bengala
Curvado pelos anos da vida
Mas atento aos seus meninos
Que em balidos o embala

Compreendem a sua linguagem
E o rodeiam meigamente
Para que não se sinta sozinho
No seu caminho… traçado cruelmente.

© ARIEH NATSAC

SONETOS DO MENINO




SONETOS DO MENINO


Soneto I

O menino não sabe
que em torno do jardim
existia uma só sebe
toda feita em alecrim

aonde um rosal havia
com rosas de todas as cores
e a alfazema competia
com o cheiro dos amores.

O menino não sabe
que para haver a sebe
foi preciso trabalhar

os canteiros floridos
aonde todos os sorrisos
são a terra por lavrar

*

Soneto II

O menino não sabe
da terra outrora quinta
tão macia e tão leve
em memória que a sinta

uma imagem que seja
sempre que os olhos fechar
no colo que o aconchega
ao sair e ao chegar

o menino não sabe
que o campo estava verde
quando as entranhas lhe abriram

para nele construir a casa aonde mora
as ruas e avenidas e o mais que há lá fora.
Só os canteiros floriram.

*

Soneto III

O menino adormeceu
a um canto que ali estava
só porque o sono lhe deu
e o cão já não ladrava.

A seu lado se deitou
com um só olho aberto
a mãozinha lhe lambeu
não fosse ele estar desperto.

O menino acordou
quando na fralda mijou
e o cão ao rabo a dar

ladrando por sua mãe
que a correr logo vem
e o menino vai mudar.

*

Soneto IV

É o dia do meu menino,
comemora aniversário,
continua tão pequenino,
... no meu colo solidário,

cheio de amor e alegria
em cada afago recebido,
o aconchego de cada dia,
em cada olhar, em cada sorriso.

Com uma alegria imensa
e de forma tão intensa
feita vida; feita sonho;

feita de feitos concretizados;
os dissabores ultrapassados;
feitos frutos do medronho.

© António Fernandes

FORÇA, MENINO!