terça-feira, 14 de abril de 2015

O GRITO HUMANO




O GRITO HUMANO
Ou
“A matança dos inocentes”


Longe de mim lembrar de novo o real Nabuco
Que um povo inteiro em seus escravos transformou
E nem sequer Herodes que foi Grande e louco
Que aos filhos de Belém um dia horrorizou…

Nem me passam p´ la mente as tétricas arenas
Para onde eram lançadas vítimas indefesas
Por entre as feras e as Cesárias cantilenas
E os meninos a arder em suas vestes presas.

Longe de mim lembrar a imagem inocente
Da Cruzada infantil p´ la agreste Ásia Menor,
Sem esquecer de Átila a vil sanha ardente
Que inspirou de Hernandes a sangrenta dor…

Quero recordar, sim, o grito bem realista
De milhares e milhares de humanos feitos “besta”
E o traficante impávido, torpe e vigarista,
Cantando loas a uma burguesia em festa.

Quero relembrar, sim, já tão perto de nós,
Os tirânicos autistas – génios mundiais –
Que ergueram seus Impérios, abafando a voz
Dos povos subjugados por lucros abissais.

E não posso esquecer aqueles genocídios
De um holocausto trágico qual selva aziaga,
Que não fez pejo em planear infanticídios
À filosófica luz de uma ciência amarga.

E não posso esquecer as taras e manias
Que à sombra libertária de cegueira afável
Conduzem aos coqueteiles vitais de fantasia
E que resultam num falhanço incontornável.

E não posso esquecer os crimes e atitudes
De iluminados por teoremas controversos
Que ousam fazer passar por salutares virtudes
A solução final de lideres tão perversos.

Quero, acima de tudo, memoriar as vidas,
Aquelas Vidas de engrenagem enviuzada, 
No seio triste das famílias desunidas
Por uma violência atroz e desalmada.

Fala-se tanto que não há emprego nem pão,
E casa sem ter pão, sem ter luz, é enfadonha
Fazendo acrescentar a negra inquietação
Paredes-meias com a morte ou a vergonha.

Eu sei que os Maiorais estão-se borrifando,
Fazendo orelhas moucas a esta gente mansa,
E esperam, afinal, que o tempo vá passando
Até que não se fale mais desta matança…

Ó grito claro dos nascidos para sofrer,
Ó crianças de colo, ó jovens sem aurora
Sem esperança nem horizontes p´ra crescer 
Que aura memorial quereis aqui e agora?

Ó grito lancinante de desesperação-
Amordaçada voz travestida de consenso-
Quem ouvirá o brado e traçará co´ a mão
Um xeque-mate a todo este inferno imenso?

Frassino Machado

In MUSA VIAJANTE