sábado, 15 de outubro de 2016

CANÇÃO DO GAIO




CANÇÃO DO GAIO


Ó gaio, ó verde-gaio, 
Ó gaio da minha aldeia
Se não vens, daqui não saio
Desde a aurora até à ceia.

Ouvi um gaio a cantar
No meio de um giestal
Bati palmas pra assustar
Mas ele não dava sinal.

Voou pra um carvalhal
Com asas de azul galante
Buscava a bolota leal
E eu por ali delirante.

Naquele Outono despido
Quase sem folhas nenhumas
Olhei-o, na toca escondido,
Em ninho feito de plumas.

Pensei que ele era bronco
Sem nada para fazer
Mas vi-o naquele tronco
Muitas bolotas esconder.

E eu concluí para mim,
Com esta discreta lição,
Plantarei no meu jardim
Uma árvore de estimação.

Teria bugalhas à farta
Para ele se alimentar
Faria barquitos de prata
Pra´ s bolotas transportar.

Trouxe o carvalho do monte
Que ia secando por um triz
Reguei-o com água da fonte
Desde a rama até à raiz.

Mas o gaio e mais a gaia
Ninguém os via surgir,
Plantei então uma maia
Com ideia de os atrair. 

Não vieram naquele ano
Que a árvore pouco crescera
Mas o gaio, qual soprano,
Ouvi-o nesta primavera.

Toda a natureza está bela
E aquele gaio, verde-gaio,
Estou a vê-lo da janela
Chegará no mês de Maio.

Ó gaio, ó verde-gaio, 
Ó gaio da minha aldeia
Se não vens, daqui não saio
Desde a aurora até à ceia!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA