CANÇÃO DO GAIO
Ó gaio, ó verde-gaio,
Ó gaio da minha aldeia
Se não vens, daqui não saio
Desde a aurora até à ceia.
Ouvi um gaio a cantar
No meio de um giestal
Bati palmas pra assustar
Mas ele não dava sinal.
Voou pra um carvalhal
Com asas de azul galante
Buscava a bolota leal
E eu por ali delirante.
Naquele Outono despido
Quase sem folhas nenhumas
Olhei-o, na toca escondido,
Em ninho feito de plumas.
Pensei que ele era bronco
Sem nada para fazer
Mas vi-o naquele tronco
Muitas bolotas esconder.
E eu concluí para mim,
Com esta discreta lição,
Plantarei no meu jardim
Uma árvore de estimação.
Teria bugalhas à farta
Para ele se alimentar
Faria barquitos de prata
Pra´ s bolotas transportar.
Trouxe o carvalho do monte
Que ia secando por um triz
Reguei-o com água da fonte
Desde a rama até à raiz.
Mas o gaio e mais a gaia
Ninguém os via surgir,
Plantei então uma maia
Com ideia de os atrair.
Não vieram naquele ano
Que a árvore pouco crescera
Mas o gaio, qual soprano,
Ouvi-o nesta primavera.
Toda a natureza está bela
E aquele gaio, verde-gaio,
Estou a vê-lo da janela
Chegará no mês de Maio.
Ó gaio, ó verde-gaio,
Ó gaio da minha aldeia
Se não vens, daqui não saio
Desde a aurora até à ceia!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA