sexta-feira, 7 de outubro de 2016

AS VINDIMAS DA MINHA TERRA




AS VINDIMAS 

DA MINHA TERRA 


- Torna, torna, torna, torna!
Alguém grita lá do alto
- Aí vai cesta para a dorna!...
E as moças em sobressalto.

- Torna, torna, torna, torna,
Cá vai a cesta carregada!
- Torna, torna, torna, torna,
Quero-a aqui já esvaziada!

Torna, torna, dizia o Quim,
Pra eu ir correr também
Vinha a cesta para mim
E já eram mais de cem …

As vindimas, por instinto,
Quer de graça ou mesmo à jeira,
Vinho verde, branco ou tinto,
Todo o ano uma canseira.

- Torna, torna, sor António
Faça a cesta deslizar,
Quem me dera ser campónio
Pro poder desafiar!

- Trinta e dois degraus acima
Vejo ali mais outro cacho
Espreita lá, ó bela prima,
Já que estás aí em baixo!

- Torna, aqui para a latada
Venha lá mais outro cesto,
E lá diante baixa escada
Pra colher aquele resto!

Era ver as moças novas,
Sempre alegres e a cantar
Vira, vira e outras modas
E às vezes a dançar.

Já lá vem carro de bois,
Que se ouve a chiadeira,
Dornas cheias e ao depois
Há pisada a noite inteira.

Era assim o dia todo,
E com muito ou pouco grau
Saía vinho sempre a rodo
Com arroz de bacalhau. 

- Ó Armindo traz lá o fole,
Ó André, e a concertina?
Ninguém tenha o corpo mole
Nem que seja ao pé da esquina!

E começa a desgarrada
Pernas limpas à partida,
Até à alta madrugada
Pra cumprir a lei da vida.

Fica o vinho no lagar
Dois, três dias, feito mosto
Com uma cana pra atestar
Vê-se logo se tem gosto…

- Ó vindimas colossais
Vamos todos, manhã santa,
Colher uvas mais e mais
Que esta nossa já cá canta!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA