sábado, 30 de junho de 2018

FIM DE TARDE DE VERÃO NO ALENTEJO


Pintura de Carlos de Bragança (Rei D. Carlos I)


FIM DE TARDE DE VERÃO NO ALENTEJO


O crepúsculo tem a cor das rosas brancas já cansadas. No céu, espreguiçam-se as nuvens cor de leite. Os montados, ao longe, parecem tão carinhosos, tão brandos! Os sobreiros esperam serenos, com os nervos bem atentos. Seus corpos, vestidos de luz suave, fazem a guarda ao Silêncio, que está prestes a passar. A terra arfa ainda. As cabecitas das flores, aqui e além, já sabem. Olham com atenção, não ousam suspirar. Estala um ramo. O que foi? As aves, nas suas torres, estremecem angustiadas. Cuidado, cuidado! Tudo espera, tudo escuta. A sombra vem descendo devagar. O ar desdobra-se num hálito terno. Começa a escurecer. O Silêncio não tarda. É tempo de afinar as cordas. Vão tocar os violinos, à espera. As flores já sabem. Olhos ardentes luzem na treva. Os montados esperam a sonata encantada, na qual palpita o nosso mistério… 

Alfredo Costa Pereira

domingo, 24 de junho de 2018

EM ARRAIAL DOS SANTOS POPULARES




EM ARRAIAL 

DOS SANTOS POPULARES


Ai, São João dá cá um saltinho
Pra ver como andam nossas modas!
Então não é que, a sardinha do povinho
Anda armada em carapau p´las rodas!

Em arraial dos Santos populares
Iça bandeiras d´outros capoeiros! 
O que ela mais quer é bordaleiros
Pra concorrer como galo de milhares!

Ai, São João dá cá um martelinho
Pra ver se endireitam as modas!
Então não é que, a sardinha do povinho
Anda às postas p´las bocas todas!

Em arraial dos Santos populares
Gritam os tripeiros e outros, ó Santo!
O que ela tem é de se fazer aos mares
Pra conquistar o título ao nosso canto!

Ai, São João dá cá um balão aviadinho
Pra que as marchas desfilem direitinho!
É que numa sardinhada, que mais parece
Pescadinha de rabo na boca, há estresse!

Em arraial dos Santos populares
Quer-se maneirinha ao euro de Portugal!
É que ó melhor vinho vêm prazeres
P´lo turista que penica o nosso beiral.

Ai, São João ouve a nossa prece de coração
E vem cá dar o pezinho p´la fogueira
Pra pularmos de mão-cheia o verão
A todas as estações em pouca choradeira!

© Ró Mar

sábado, 23 de junho de 2018

UM HINO À CIDADE


UM HINO À CIDADE


Ai esse corpo cidade que a cidade vai abrindo
Esse corpo de ansiedade nas vidas que vão florindo...

Ai esse corpo violado que se esgueira pelas vielas
Esse corpo mal tratado nos corpos deles e delas...

Ai esse corpo almofada sem atavios riqueza
Corpo de pedra lavrada, corpo de vida burguesa...

Ai esse corpo cidade com traineiras na lonjura
Sempre manhã, sempre tarde, nos braços da noite escura...

Ai esse corpo doçura no amor de quem lhe quer
Esse corpo dedilhado, como guitarra-mulher...

Ai esse corpo de espanto desta cidade brumosa
Todo riso, todo pranto, todo amante ansiosa...

Ai cidade marginal no desespero dos dias
Cidade nobre e leal de muitas democracias...

Ai encanto de pintores, de poetas, doutros mais
De jardins cheios de cores, de tertulias ancestrais

És cidade toda Povo de manjerico na mão
E és Porto de igualdade em Noite de S. João!...

Maria Mamede
"DE AMOR E DE TERRA"

O QUE VIU E NÃO VIU... O MEU NAVIO!!!...




O QUE VIU E NÃO VIU...
O MEU NAVIO!!!...


Meu navio tem navegado;
P´los oceanos do mundo...
Por vezes tem naufragado;
No mar revolto e profundo!...
Tem vencido furacões;
Vagas alterosas... tremendas...
Tempestades e monções;
Monstros descritos em lendas!...
Visitou belas ilhas e Países;
Viu raças de muitas cores...
Povos vivendo felizes;
E outros... sofrendo horrores!...
Ouviu troar os canhões;
Viu a fome... a dor... a morte...
Assassinos... terror... ladrões;
Crianças sem pais... sem sorte!...
Viu mãos erguidas aos Céus;
Olhos chorando de dor...
Até sonhou que viu Deus;
Dar ao mundo... Paz e Amor!...

António J. A. Claudio

ADMIRANDO A NATUREZA


Pintura de Emil Nolde


ADMIRANDO A NATUREZA


Do rio vinham frescas aragens,
A brisa branda do amanhecer,
E fala doce com as ramagens!
Às árvores, convida-as a erguer.

O brilho que as estrelas tinham,
Apaga-se um a um, lentamente.
E os faróis que no rio se reviam
Vão-se extinguindo, tristemente.

A lua recolhe as tranças de luar
Mirando-se por último na água,
Indo para novas terras, poetizar.

E atrás das serras misteriosas,
O alvor tingia o céu com frágua,
Colorindo montanhas formosas!

Alfredo Costa Pereira

quinta-feira, 14 de junho de 2018

MÊS DE JUNHO




Mês de Junho 


É Junho, um mês de encantar
São os Santos Populares, muita alegria
Há manjericos e música a tocar
Há flores e os campos cheiram a poesia.

No coração sinto lindas emoções
Sorrio para o dia que está a nascer
Gosto de saborear novas sensações
E bons momentos poder escolher.

Neste mês tudo parece brilhar
Mil sabores e paisagens para admirar
É tempo de alegrias e ternura partilhar
Sentimos vontade de sorrir e namorar.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

P'LA CONFRARIA DOS SANTOS POPULARES


Imagem: Festas de Lisboa  


P'LA CONFRARIA DOS SANTOS POPULARES


Com ou sem manjerico o Santo é, igual
P'ra todos e por todos os tempos, António
De Lisboa e do resto de Portugal!
Haja sardinha a pingar p'lo património!

Cá ó arraial, e é p'ra mais que um ano,
P'la confraria dos Santos Populares
Vai a capital de vento em popa ó engano!
Olha o Zé a dançar de calcanhares!

Cá ó vira ou revira, e é sempre a andar,
Até há quem diga que o S. Pedro anda a inovar,
Este verão deu-lhe para isto! Ai se a moda 
Pega vai ser chuva a cântaros e de parra nada!

Olha o St°António encolheu, só se vê a careca,
Até há quem diga que é p'ra ver o balão
Com a boa-nova ó calor de São João!
Olha o Zé a festejar em loira caneca!

© Ró Mar

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Luís Vaz de Camões | Uno Poeta


Foto © Ró Mar - Camões | Portugal


Luís Vaz de Camões | Uno Poeta


O meu maior beijo vai para a língua portuguesa 
Que assenta muito bem p'lo céu duma alma genial! 
P'lo mar dos descobrimentos encontro com certeza
O grã génio das letras - Luís Vaz de Camões | Poeta

Que se fez p'lo caminho à história de Portugal:
Mergulhando a fina pena em mares não navegados, 
Conquistando a nova-esperança, testemunha os heróis 
P'la epopeia, que em meus olhos acende tal dois faróis:

Um em Terra, outro além-mar - uno abraço ao Mestre 
Que canta Vida - "Os Lusíadas": p'los dez cantos
Leio a sapiência duma só alma e tamanha pátria
Exaltada pelo soneto que enxerga pura poesia.

Singela homenagem que componho, em orla terrestre,
Crendo que vale a pena sonhar Vida, num tempo real
E em sentido inverso [do mar prá terra], Salve Portugal!
O meu maior beijo vai para além-mar [céu] | Uno Poeta.

© Ró Mar

domingo, 10 de junho de 2018

C A M Õ E S 2018




C A M Õ E S  2018 


“No Dia de Portugal 2018”


De espada na mão
Seguiste lutando
Como bom guerreiro
De orgulho leal.

De pena na mão
Seguiste cantando
Os feitos grandiosos
Do teu Portugal.

Camões, ó eterno luso,
Caído em desuso
Por esse país,
Não há aí quem chegue
Nem nunca consegue
À tua raiz!

Tuas rimas de oiro
Souberam levar
A todos os homens
Mensagens de amor.

Tuas rimas de oiro
Vão continuar
A ser ainda hoje
O que há de melhor.

Camões, ó eterno luso,
Caído em desuso
Por esse país,
Não há aí quem chegue
Nem nunca consegue
À tua raiz! 

Frassino Machado
In MENSAGEIRO CANTANTE

VIAGEM PELO ALVERNE




VIAGEM PELO ALVERNE 


Os cinco sentidos da Vida
Que toda a alma compreende
São uma fonte renascida...
Das cinco chagas do Alverne.

Toda a vida tem seu Alverne
Por cada etapa percorrida
E ao longo do dia s´ entende
Os cinco sentidos da Vida.

Na mão direita há um estigma
Na esquerda outro se fende
E em cada hora se confirma
Que toda a alma compreende.

Nos dois pés há um apelo
De uma vontade acrescida
Passos e passos em desvelo
São uma fonte renascida.

Vai o Poverelo com teimosia
Nas horas que o dia estende
Escorrer sangue na alegria 
Das cinco chagas do Alverne.

…………………… 

É noite p´ la madrugada
Há uivos de lobo raivoso
E pelo mundo, cada estrada
É estreita, de chão espinhoso. 

Mui antes do sol nascer,
Com laudes ao Criador,
Cante-se mesmo a sofrer
Para ser amado o Amor. 

E em cada dia que passa,
Com lágrimas ou com suor,
Toda a oração tem sua graça
Num alto voo de condor.

Nas horas mais aziagas,
Com vésperas de devoção,
Mesmo vendo as próprias chagas
Faz-se uma luz no coração.

Alverne, é assim o Alverne,
Subir nele, com grã coragem,
Dá-lhe uma fé que concerne
Entre todas, a melhor Viagem! 

Frassino Machado
In NOVO MONTE ALVERNE

sábado, 9 de junho de 2018

O PRIMEIRO AMOR




O PRIMEIRO AMOR


Foi numa rodinha de amores
Que tanta graça te encontrei,
Que até matei minhas dores
E enfim, por ti me apaixonei!

Quando na verdade se ama
Mesmo com todo o coração
O amor vira-se como chama
Igual às fogueiras de S. João.

Tanta felicidade de repente!
Mas sei e cuido certamente
Que não é demais a alegria;

Oh, amor, vivo só de te ver;
Já tenho medo de te perder:
Se morresses também morria!

Alfredo Costa Pereira

quarta-feira, 6 de junho de 2018

PALAVRAS PARA O MÊS DE JUNHO




PALAVRAS PARA O MÊS DE JUNHO 


As palavras ansiosas, feitas borboletas
Enigmáticas, voando pela atmosfera,
Vão deixando saudades desta primavera,
Abrindo frescas ondas, ainda que incertas… 

Palavras novas sempre, sempre incompletas
Com imperfeitos sonhos e sombras de quimera
Que passam ao de leve sem ficar à espera
Das ilusões perdidas, quem sabe indiscretas… 

Palavras curtas para este mês de Junho, 
Sempre escassas mas revestidas de emoções,
Palavras agitadas incendiando corações
Que dos Santos populares são o testemunho. 

Mês de Junho, de Portugal e de Camões
Mês pequeno, como as sementes de abrunho,
Mas que é enorme na força que traz no punho,
Que rola e dança em maré viva de paixões.

- Canta, ó soberbo mês, nas marchas da avenida
E rasga as falsas máscaras desta triste vida!

Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA 

NA ILUSÃO




NA ILUSÃO


Na ilusão, do sonho imaginado,
Há madrugadas vendo o sol raiar!
Há puros pensamentos a voar!
Há flores que se abrem num valado…

Na ilusão, há céus vistos no mar…
Há Sorrisos no olhar arregalado! 
Há o frio da noite agasalhado… 
Há rouxinóis felizes a cantar!

Na ilusão, há luzes coloridas,
Iluminando praças e avenidas,
Onde o povo se junta em arraiais!

Na ilusão, é bom não acordar,
Da esperança vivida no sonhar,
Onde só há amor e nada mais!...

J. M. Cabrita Neves

terça-feira, 5 de junho de 2018

A MAIS BELA MELODIA




A MAIS BELA MELODIA


O Sol raiava no horizonte
Nesta manhã de Primavera
Nascendo por detrás do monte
Como uma brilhante esfera

As rosas desabrochavam no jardim
Decoradas com gotas de orvalho 
No ar uma aroma intenso a jasmim
Um Esquilo subindo o imponente carvalho

As andorinhas esvoaçando os beirais 
Um gato siamês perseguindo um furão 
Um barco apitava com a chegada ao cais
Um mendigo pedia sentado no chão 

Assim nasce mais um novo dia
Cheio de vida e cor pura magia
Inspirando esta minha poesia
Para dar vida à mais bela melodia

© Paulo Gomes