Pintura de Carlos de Bragança (Rei D. Carlos I)
FIM DE TARDE DE VERÃO NO ALENTEJO
O crepúsculo tem a cor das rosas brancas já cansadas. No céu, espreguiçam-se as nuvens cor de leite. Os montados, ao longe, parecem tão carinhosos, tão brandos! Os sobreiros esperam serenos, com os nervos bem atentos. Seus corpos, vestidos de luz suave, fazem a guarda ao Silêncio, que está prestes a passar. A terra arfa ainda. As cabecitas das flores, aqui e além, já sabem. Olham com atenção, não ousam suspirar. Estala um ramo. O que foi? As aves, nas suas torres, estremecem angustiadas. Cuidado, cuidado! Tudo espera, tudo escuta. A sombra vem descendo devagar. O ar desdobra-se num hálito terno. Começa a escurecer. O Silêncio não tarda. É tempo de afinar as cordas. Vão tocar os violinos, à espera. As flores já sabem. Olhos ardentes luzem na treva. Os montados esperam a sonata encantada, na qual palpita o nosso mistério…
Alfredo Costa Pereira