sexta-feira, 28 de outubro de 2016

VIAJANTE DO TEMPO




VIAJANTE DO TEMPO


Quem és tu viajante do tempo
Quais os teus verdadeiros sentimentos
Pára nesta estalagem por um momento
Conversa comigo sobre os teus lamentos

Quem és tu viajante do tempo
Que passas a tua vida sempre a viajar
Queres estar em constante movimento
Não reparas como é rápido o tempo a passar

Quem és tu viajante do tempo
Que na tua pressa não dás valor a nada
Por vezes acordas triste e muito rabugento 
Com o desejo de voltares a percorrer a estrada

Pára viajante do tempo não caminhes sem destino 
Olha ao teu redor que vais encontrar a amizade
Mesmo que essa estrada seja um estreito caminho
Abre agora o teu coração e irás descobrir a felicidade

Paulo Gomes

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

QUANDO O TEMPO…


Imagem- Belissime Immagini 


QUANDO O TEMPO…


Que importa o tempo que ainda há pela frente,
Que importa o que ainda há para descobrir,
Se é nuvem, vento, chuva ou `souvenir´,
Quando o tempo te fez ser outra gente!?

Que importa o que há além do horizonte,
Que importa o que há segredado aos céus,
Se é anjo, demónio ou `vida permanente´,
Quando o tempo te fez outra semente!?

Que importa o que ainda há para poder ser,
Que importa o que há além do simples viver,
Quando o tempo tem ao momento o mundo!?

Que importa o que há além de umas estrelas,
O que importa o que há nos meandros delas,
Quando o tempo tem uno universo ao segundo!?

© RÓ MAR


sábado, 15 de outubro de 2016

CANÇÃO DO GAIO




CANÇÃO DO GAIO


Ó gaio, ó verde-gaio, 
Ó gaio da minha aldeia
Se não vens, daqui não saio
Desde a aurora até à ceia.

Ouvi um gaio a cantar
No meio de um giestal
Bati palmas pra assustar
Mas ele não dava sinal.

Voou pra um carvalhal
Com asas de azul galante
Buscava a bolota leal
E eu por ali delirante.

Naquele Outono despido
Quase sem folhas nenhumas
Olhei-o, na toca escondido,
Em ninho feito de plumas.

Pensei que ele era bronco
Sem nada para fazer
Mas vi-o naquele tronco
Muitas bolotas esconder.

E eu concluí para mim,
Com esta discreta lição,
Plantarei no meu jardim
Uma árvore de estimação.

Teria bugalhas à farta
Para ele se alimentar
Faria barquitos de prata
Pra´ s bolotas transportar.

Trouxe o carvalho do monte
Que ia secando por um triz
Reguei-o com água da fonte
Desde a rama até à raiz.

Mas o gaio e mais a gaia
Ninguém os via surgir,
Plantei então uma maia
Com ideia de os atrair. 

Não vieram naquele ano
Que a árvore pouco crescera
Mas o gaio, qual soprano,
Ouvi-o nesta primavera.

Toda a natureza está bela
E aquele gaio, verde-gaio,
Estou a vê-lo da janela
Chegará no mês de Maio.

Ó gaio, ó verde-gaio, 
Ó gaio da minha aldeia
Se não vens, daqui não saio
Desde a aurora até à ceia!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA 

ESTE PARTE, AQUELE PARTE




"ESTE PARTE, AQUELE PARTE"


 Todos partem e vão p'ra não voltar,
Sempre foi e será nosso destino,
Ninguém se pode opor, nem recusar,
não importa ser grande ou pequenino.

Ó!.. Pobre homem mortal, que tudo espera
da terra devassada pelo mal,
quem parte leva esp'rança, reverbera,
tecendo o desejo de imortal.

Aqui existe apenas sofrimento,
por entre um suspiro e um lamento,
tudo vai terminar na terra fria.

Parte este, aquele, o outro e eu também,
todos irão partir para o além,
a vida não é mais que alegoria.

Abílio Ferradeira de Brito

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

C-R-I-A-N-Ç-A




C-R-I-A-N-Ç-A


CRIANÇA
Que tens todos os sonhos do mundo
Guardados nesse coraçãozito imaculado;
Que de nadas constróis as brincadeiras de gente crescida,
Arcadas de reminiscência;
Que engoles todas as fúrias, e, na mais pura inocência
Remetes um sorriso de orelha a orelha;
Consagro-te todos os direitos à vida,
Longe a qualquer trapaça, dissabores e sofrimento.
As palavras que sinto e escrevo que sirvam de enaltecimento,
Ou, reconhecimento ao grande ser que és;
Pequenina mas já com uma visão
Tão grande do mundo!
Indefesa, tão tenra, mas com toda a vitalidade
Para abraçar as venturas e desventuras da vida.
Entre o olho esbugalhado e o rosto puro cetim
Descaí a lágrima, o brilho é tão intenso, o som um vozeirão,
Que a sinto cá bem no fundo do coração.
Tão pequenina e já em tão grande lida;
Apenas uma menina, que acredita em contos de fada!
Ah, criança linda
Que salta e pula airosa
Pelo jardim e se cresce entre as mais flores,
Uma graça! Que se escorrega na areia da praia argilosa
E chapinha a água sem parar
Como se o mar fosse seu berço!
Te consagro princesa, natural da mãe natureza,
Rainha do universo.
Olho-te como se o mundo
Estivesse todo aqui, pequenino
Mas de valor incalculável.
Não consinto demais défices ou injúrias,
A tudo tens direito, não pediste para nascer
Apenas pedes para crescer.
Que o teu viver
Seja um pleno constante renascer;
Que a nossa areia e o mar
Deixem construir todos os castelos de ar,
Os quais te são por direito;
Um azul céu e as estrelas com toda a certeza.
Que nada nem ninguém privem de seres
O teu tempo em todo pleno;
Que o sorriso incansável
Seja sempre presente,
Pois, gosto de sentir essas bochechas de felicidade;
Nada de nariz franzino,
Quero-te bem saudável!
Menina ou menino és
E serás a que vou acompanhar
Para todo o sempre;
Serei teu anjo da guarda
Aos céus e à terra! No esvoaçar pelo teu caminho
Solto as letrinhas de tanto carinho
Que cobrem esse cantinho envergonhado
E na palma da minha mão
Cresce o tesoiro mais puro e tão lindo!
Serás sempre verde oiro, hoje e sempre,
Aqui, ou, em qualquer lugar, és
E serás a mais linda entre as histórias,
Uma enorme centelha;
Cobiçada por todos! Não és de ninguém, pomba da natureza;
Sinto orgulho de poder soletrar
C-R-I-A-N-Ç-A.

© RÓ MAR


A FALA DA MINHA ANDANÇA




“Da minha aldeia pro mundo”


Depois da terra amanhada
Aqui e além bem adubada
Em profícuas sementeiras
Sem receio de safra errada
Revesti palavras guerreiras
E parti para a jornada.

Olhei ao norte e ao sul
Quer debaixo de céu azul
Quer sob nuvens cerradas 
Com palavras que recriei
Por veredas calculadas
Tirei sortes e avancei. 

Mar imenso, estranha gente,
Com a estrela sempre à frente
Poemas mil em minha nau,
Com marés de alternância
Quer sondando quer a vau
Fui gerindo a militância. 

Minhas falas deram brado,
Com empenho redobrado
Joeirei um canto novo
Que me fez encantamento
E, arredando todo o estorvo,
Fiz da vida condimento.

Foquei todas as matérias
Com tarefas muito sérias,
Minhas falas, revestidas
Por palavras cinzeladas,
Foram sempre enriquecidas
De virtudes encantadas.

Cirandei de terra em terra
Semeei paz e fiz a guerra,
Como mestre e aprendiz
Procurei investimento
Nos quatro cantos do país
Com Poesia solta ao vento…

Nunca voltei o rosto à luta 
Nem fingi qualquer conduta
Com máscaras e fantasias,
Como outrora e agora mais
Minhas falas são vadias 
Pra a plebe e pros generais.

Sendas e andanças de mim
Larga tribuna e trampolim
Num horizonte de esperança,
Eis minha fala moída ao vento
Minha eira, minha andança
E versos de contentamento!

Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O MEU OLHAR…


Fotografia- Lisboa, Portugal - Ró Mar 


O MEU OLHAR…


A natureza que sinto é mais que universo,
O meu olhar pela mais que perfeita arte
Vê-te outro outono, um céu anil imenso...
Pela profundeza do ser, quanto basta querer-te.

A gente que veste o luar de setembro
Tem o rosto estampado de um verão de novembro,
O meu olhar pela mais que perfeita estação
Vê-te outro outono, um verde arvoredo de coração.

Pela essência do equinócio abro asas à singeleza,
Vento que difunde em baladas de outro outono,
O meu olhar pela mais que perfeita natureza
Lê o mais que belo momento de um outro ano.

© RÓ MAR

IMPULSOS DA ALMA


Imagem - Bellissime Immagini


IMPULSOS DA ALMA


Num mero estado de ausência da mente,
Sem convergir pensamento e ação,
Planei céus salpicados de evasão...
E fluí em trasladada corrente.

À velocidade do meteorito,
Maleável aos impulsos da alma,
Descobri uma verdade que acalma:
A minha morada é o infinito.

Deixei bem longe o saco das querelas
Como a retirar o homem à guerra…
Para tornar as viagens mais belas.

Poderei sentir-me um mortal que erra,
Mas um colaborador das estrelas
Que daqui verá descer Céu à Terra.

© Jorge Nuno 

AS VINDIMAS DA MINHA TERRA




AS VINDIMAS 

DA MINHA TERRA 


- Torna, torna, torna, torna!
Alguém grita lá do alto
- Aí vai cesta para a dorna!...
E as moças em sobressalto.

- Torna, torna, torna, torna,
Cá vai a cesta carregada!
- Torna, torna, torna, torna,
Quero-a aqui já esvaziada!

Torna, torna, dizia o Quim,
Pra eu ir correr também
Vinha a cesta para mim
E já eram mais de cem …

As vindimas, por instinto,
Quer de graça ou mesmo à jeira,
Vinho verde, branco ou tinto,
Todo o ano uma canseira.

- Torna, torna, sor António
Faça a cesta deslizar,
Quem me dera ser campónio
Pro poder desafiar!

- Trinta e dois degraus acima
Vejo ali mais outro cacho
Espreita lá, ó bela prima,
Já que estás aí em baixo!

- Torna, aqui para a latada
Venha lá mais outro cesto,
E lá diante baixa escada
Pra colher aquele resto!

Era ver as moças novas,
Sempre alegres e a cantar
Vira, vira e outras modas
E às vezes a dançar.

Já lá vem carro de bois,
Que se ouve a chiadeira,
Dornas cheias e ao depois
Há pisada a noite inteira.

Era assim o dia todo,
E com muito ou pouco grau
Saía vinho sempre a rodo
Com arroz de bacalhau. 

- Ó Armindo traz lá o fole,
Ó André, e a concertina?
Ninguém tenha o corpo mole
Nem que seja ao pé da esquina!

E começa a desgarrada
Pernas limpas à partida,
Até à alta madrugada
Pra cumprir a lei da vida.

Fica o vinho no lagar
Dois, três dias, feito mosto
Com uma cana pra atestar
Vê-se logo se tem gosto…

- Ó vindimas colossais
Vamos todos, manhã santa,
Colher uvas mais e mais
Que esta nossa já cá canta!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA