quarta-feira, 13 de setembro de 2017

A DONZELA DA PENHA




A DONZELA DA PENHA


«Trovas da santa Pastora»


Minha pastorinha prendada
De olhos azuis cintilantes
Cabeça rebelde e dourada
E de talentos brilhantes.

Nos ares da Penha apurados,
Numa choupana arranjada,
À luz de sóbrios cuidados
Guardavas rebanho prendado.

De túnica parda vestida,
Capa comprida castanha,
P´ lo fiel cãozinho seguida
Corrias toda a montanha.

Teu canto ao longe se ouvia,
Baladas de tradição,
Todo o viandante sentia
Essa estranha profissão.

O teu gosto p´ la natureza
Nascido desde pequena
Juntava à tua beleza
Alma singela e serena.

Vimaranes, vila-cidade
Pela planície estendida,
Era para ti de verdade
Uma paixão acrescida.

As tuas cabras e ovelhas
Como se fossem família,
Umas novas, outras velhas,
Nunca te davam quezília.

Chamavas-te Catarina
Todo o povo te conhecia,
E a tua fama cristalina
De ano para ano crescia.

Um certo dia ocorreu
Notícia, que não foi engano,
Bárbaro bando apareceu
Tendo, por chefe, um tirano.

Queriam pilhar a cidade
Daquilo que o povo tivesse
Ficou o medo e a maldade
E o muito mais que viesse.

Na negra noite brilhavam
Misteriosas luzernas
Que a larga vila cercavam
Disfarçadas de lanternas.

Tu, ó donzela, que eras
Uma previdente vigia
Não te ficaste de esperas
E preparaste a magia:

Nos chifres de todo o teu vivo
Prendeste milhares de velas
E num silêncio passivo
Desceste a montanha com elas.

Aquela faminta cambada
Pensando que era o maligno
Deu logo em debandada
Perante um gesto tão digno.

O teu estratagema valeu
Na honra do povo da vila
E toda a gente agradeceu
Ficando na paz tranquila.

O teu prestígio floriu
E no sítio da velha choupana
O bom povo ermida erigiu
Numa partilha soberana.

Foi tão bela a homenagem
Que dela nasceu no horizonte
A lição da aprendizagem
Da heróica Maria da Fonte.

Ficou de ti na lembrança
A história dum fado sublime
Pois és Protectora e fiança
Que na bela Urbe se exprime.

Foste pastora, hoje és Senhora,
E és também Virgem Maria
Todos Te cantam hora a hora
E Te exaltam em Romaria.

Não há no mundo cidade
Que tal honra assim não tenha
Qualquer que seja a idade
Todos vão à Senhora da Penha.

E esta Montanha sagrada
Será, em tua memória,
Santa Catarina chamada
Com festa, proveito e glória.

São estas as minhas Trovas,
É esta a notícia de espanto,
Em tradições velhas ou novas
Há sempre uma lenda de encanto!

Frassino Machado
CANÇÃO DA TERRA E DO MEU PAÍS