domingo, 29 de abril de 2018

O QUE FAZ FALTA




O QUE FAZ FALTA 


“O advento do Quinto Império”


Neste Portugal, que dorme por entre brumas,
Falta ainda cumprir-se o alto Quinto Império,
Mas estas lusas mentes voam como plumas 
Sempre expostas ao vento e cheias de mistério!

São muitas as quezílias e incompreensões
E as lições da colectiva história nenhumas,
Apenas um oceano imenso de desilusões
Neste Portugal, que dorme por entre brumas. 

Descobriu-se, todavia, o que era pra descobrir
Circum-navegando-se de-lés-a-lés o planisfério 
E já se varreu da alma o Alcácer Quibir,
Falta ainda cumprir-se o alto Quinto Império. 

Aos quatro ventos desfraldou-se uma aventura
Mas dela só e apenas restaram as espumas,
Teceram-se projectos mil de sã cultura,
Mas estas lusas mentes voam como plumas.

Muitos foram os heróis e grandes as batalhas
Deram-se exemplos d´abnegação e refrigério,
Abateram-se feitios rudes e muralhas
Sempre expostas ao vento e cheias de mistério…

Depois desta Odisseia o que é que nos falta?
Só nos falta fazer o que ainda não foi feito:
Lançar na terra as sementes da ribalta
Que criem as raízes dentro de cada peito.

Grite-se a cada hora a crença na Vontade,
Agitem-se os valores da alta persistência,
E, pela espada invencível da Liberdade
Implante-se na Alma a justa Eloquência!

Do Quinto Império, eis traçado o seu Advento
Que pode iluminar todo um amplo horizonte.
É este o brioso Sonho que dá sustentamento
À pura água que jorra clara em cada Fonte!

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA

sexta-feira, 27 de abril de 2018

ESPERANÇA DE ABRIL




ESPERANÇA DE ABRIL


Os teus olhos vivos cor de ciúme,
Beijam ávidos a nova primavera.
Que destila no soneto o perfume,
Fragrâncias, divinas de outra era.

Agora! És a mulher, sábia e bela!
Lembrança desse jardim proibido.
És, pintura delicada de aguarela,
Resgatada no éden já esquecido.

És a volúpia, transparente, subtil,
Escondida no teu invólucro mortal,
És beleza radiante do mês de abril.

A cor rubra dos cravos de Portugal.
O reduto de esperança que vi em ti,
Cada ser, mais humano, mais igual.

Joaquim Jorge de Oliveira

quarta-feira, 25 de abril de 2018

AI ABRIL, ABRIL...



Ai Abril, Abril...


Foi um cravo em vez de uma baioneta
e um canhão armado de um sorriso,
a revolução que rumava à meta: 
era urgente a paz, mudar foi preciso!

E no compasso da Vila Morena,
sonhando sempre a justa direção,
a madrugada fez-se manhã plena,
embandeirada em cor e emoção.

O povo respirou fraternidade,
gritou anseios e voz da liberdade,
deposto o poder caduco e senil.

Décadas depois ainda clama a voz
presa em grilhetes, realidade algoz...
... mas será que já se cumpriu Abril?

© Nita Ferreira

domingo, 22 de abril de 2018

A VOZ DA POESIA



A VOZ DA POESIA 


No mundo de hoje, tão tresmalhado e autista
E demasiadamente louco pelo trivial,
A Voz da Poesia só por si é crucial
P´la pena dos poetas de veia alquimista.

Seus olhos, sua mão e sua própria vista,
Com uma sensibilidade e alma de cristal,
Despem daquele pobre louco todo o mal
Revelando-lhe a Paz em jeito de conquista.

O sonho do Poeta, por sua obra e versos,
Vai pairando através do orbe qual navio
Tornado luz, em lenitivos tão diversos… 

(E é por esta voz cantante da Poesia
Instalada no fundo da alma como num rio
Que mais depressa se atingirá a harmonia.) 

O mal que o Mundo tem é, porém, bem atroz
E é ademais tão insensível e tão frio
Que da Poesia quase não lhe escuta a Voz!

Frassino Machado

In ODISSEIA DA ALMA

INTERMITÊNCIAS...


Arte: ARABE§QUES


Intermitências…


Há intermitências na vida
Na vida de cada um de nós
Se a alma não for sentida...
Todos perdem a sua voz

Mas não podemos bloquear
Quando isso nos acontece
Os conflitos são de se ultrapassar
Da verdade é o que transparece

Há pois que saber reagir
A esse tipo de intermitência
Para as lágrimas não sentir
E pela vida haver apetência

Aceite-se a incerteza da mudança
Como a coisa mais natural
Tudo se altere com esperança
Para que o mundo seja especial

Vivamos pois o mais serenamente
Que a vida nos possa permitir
Tal e qual como se sente
Essa luz que irá em nós surgir

Há determinados momentos
Em que vibra o coração
Aproveitemos esses tempos
Para viver essa paixão

Há que por o cerebro a raciocinar
Há que saber o que queremos dele
Para podermos assim amar
Sem que trema a nossa pele

Armindo Loureiro

quinta-feira, 5 de abril de 2018

A GRANDE OPÇÃO




A GRANDE OPÇÃO 


“Jumento vs. cavalo”


Jumento versus cavalo, eis a grande opção
Em que apostou Jesus Nazareno, Senhor,
Na semana que foi, e é, Semana Maior 
Que tem como ritual o trilho da Salvação… 

Sobre a cidade Santa, repleta de dor,
Em que o povo ansiava sua libertação,
Chorou por ela pra conseguir redenção
Esperando chegar a Sua hora de amor.

– Vem, ó Forte Rabi, num cavalo com asas
Que é esta a hora de lutar e de vencer,
Quebra-nos os grilhões do estranho poder
Destruindo uma a uma as maléficas casas.

– Não, não vou de cavalo mas sim de jumento
Pois é essa a Missão que me trouxe por Bem,
Vós que sois pobres ter-me-eis Pobre também
E sereis livres, assim, por meu mandamento… 

E Jesus Nazareno chegou a esta Cidade,
Não cavalgando ao jeito de ricos ou nobres,
Mas trotando ao de leve como fazem os pobres 
Dando-lhes Paz e Luz, e também Liberdade! 

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA 

LIBELO FINAL



LIBELO FINAL 


- À sombra da Cruz - 


“Eu tenho sede, eu tenho sede de justiça
Eu tenho sede duma Humanidade insubmissa
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, e sede de fraternidade
Eu tenho sede, tenho sede de liberdade
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, eu tenho sede d´ agasalho
Eu tenho sede, eu tenho sede de trabalho
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, eu tenho sede de partilha
Eu tenho sede, sede de água maravilha
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, eu tenho sede de educação
Eu tenho sede, eu tenho sede de Redenção
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, tenho sede de alimento
Eu tenho sede, tenho sede d´ acolhimento
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, eu tenho sede de direitos
Eu tenho sede, tenho sede de meus preitos
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, tenho sede de valores
Eu tenho sede, eu tenho sede de louvores
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, tenho sede de Cultura
Eu tenho sede, eu tenho sede de aventura
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, tenho sede de ser criança
Eu tenho sede, tenho sede de esperança
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, tenho sede do meu Sonho
Eu tenho sede, de ver o mundo mais risonho
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, de ver gente mais feliz
Eu tenho sede, de não poder ser aprendiz
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, de assumir cidadania
Eu tenho sede, de não haver democracia
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, de não poder-te dar as mãos
Eu tenho sede, de não podermos ser irmãos
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Eu tenho sede, eu tenho sede em toda a terra
Eu tenho sede, de que a paz não vença a guerra
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

………………………

Eu tenho sede, de acabar minha Viagem:
Perdoai-lhes, ó Pai, que não sabem o que fazem
Mas, porém, tudo está, tudo está consumado!

Porque me abandonaste, ó Grande Pai amado? 
Ó Cruz Santa, ó Santa Cruz minha amargura,
Faça-se a Tua vontade e cumpra-se a Escritura!”...

..................................

E ouviu-se um pavoroso «OH», que até a Luz
Se escureceu co´ a triste morte de Jesus! 

Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA