quarta-feira, 7 de novembro de 2018

FRAGMENTOS DE SÃO MARTINHO




Quadras sobre provérbios tradicionais

- “A cada bacorinho vem o seu São Martinho”.


Anda, anda bacorinho
Vai comer da fresca relva
Aproveita o São Martinho
Para fugir da tua selva. 

- “Em dia de São Martinho atesta e abatoca o teu vinho”.

Apura bem o teu vinho
Não o deixes minguar 
Se o provas no São Martinho
Bebe-o sem embebedar. 

- “São Martinho bebe o vinho, deixa a água para o moinho”.

Para o pão ficar limpinho
Do moinho as águas movem
Mas chegando o São Martinho
Só bom vinho bebe o homem.

- “No dia de São Martinho, fura o teu pipinho”. 

Nem todos sabem furar
Na adega o seu pipinho
E se o vinho não se poupar
Não dará pro São Martinho.

- “No dia de São Martinho, come-se castanhas e bebe-se vinho”. 

Às vezes comem-se nozes
E outras coisas estranhas,
No São Martinho dizem as vozes
Não há nada com´ as castanhas.

- “No dia de São Martinho, lume, castanhas e vinho”. 

Sentemo-nos aqui ao lume
Castanhas e vinho à maneira
Com São Martinho já´ é costume
Estarmos juntos à lareira. 

- “No dia de São Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho”. 

Por alturas de São Martinho
Na minha aldeia há matança 
E há castanhas e bom vinho
Com petiscos de confiança. 

- “No dia de São Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho”.

Matar o porco não chega
No Verão de São Martinho,
É preciso trazer da adega
Uma boa infusa de vinho.

- “No dia de São Martinho, vai-se à adega e prova-se o vinho”.

Toda a gente vai à adega 
No dia de São Martinho
Fêveras, castanhas à pega,
Regadas por belo vinho.

- “Pelo São Martinho abatoca bem o teu pipinho".

Se não sabes a abatocar 
O pipinho lá de casa
É São Martinho a avisar
Que já tens um grão na asa.

- “Pelo São Martinho castanhas assadas, pão e vinho”.

Sejam cozidas ou assadas
Venham elas e mais venham
São Martinho serve-as dadas
Àqueles que as não tenham.

- “Pelo São Martinho mata o teu porquinho e semeia o cebolinho”.

Nem só o vinho é São Martinho,
Ele próprio o determina,
Há que semear o cebolinho
P´ la orvalhada da matina. 

- “Pelo São Martinho prova o teu vinho; ao cabo de um ano já não te faz dano”.

Faz tua prova de vinho
Com uma branca caneca
Se não for no São Martinho
És totó levado da breca. 

- “O Sete-Estrelo pelo São Martinho, vai de bordo a bordinho; à meia-noite está a pino”.

Venha de lá o Sete-Estrelo
Com o São Martinho a bordo
Já o careca tem cabelo
E o abade está mais gordo.

- “Se o Inverno não erra o caminho, tê-lo-ei pelo São Martinho”.

São Martinho é conta certa
Chega sempre o seu Verão
Vou-me já à descoberta
De uma outra diversão. 

- "Se queres pasmar o teu vizinho, lavra, sacha e esterca pelo São Martinho".

Não quero pasmar o vizinho 
Com mais uma trabalheira
Mas pedirei ao São Martinho
Que não mingue a esterqueira.

- “Verão de São Martinho são três dias e mais um bocadinho”.

Vindimar a tempo o vinho
É saber, sem complicar,
Pois que pelo São Martinho
Até o Verão tende a acabar.

- “Vindima em Outubro que o São Martinho mais te dará”.

Vindimar tarde demais 
É prejudicial para o vinho
Comem os bagos os pardais
Pra desespero de São Martinho. 

- “Não há bacorinho sem o seu São Martinho”.

S´ é fartura ter bacorinho,
E haver castanhas à farta
Pra alegria de São Martinho
Que entre nós ele a reparta. 

- “Quem parte e reparte e não escolhe a melhor parte… ou é tolo ou não tem arte”

Ele há cortes e recortes
Em toda a economia séria,
São Martinho entre os fortes
Foi remédio pra miséria…

Aprenda-se com São Martinho
Este gesto-maravilha:
A quem pede dar carinho
E, já agora, uma partilha. 

Quem no mundo tem poder
Olhe para o São Martinho
Do que não precisa de ter
Dê a todos um poucochinho. 

Se os poderosos o não fazem,
Como o não faz quem é tolo,
Por entre misérias trazem
Para Humanidade dolo.

O São Martinho escolheu
Para si a melhor parte:
Se ele ao mendigo aqueceu,
Vejam lá se não teve arte! 

© Frassino Machado

FRAGMENTOS POÉTICOS 
[Quadras sobre provérbios tradicionais]


Bibliografia [provérbios]: Machado, José Pedro – O Grande Livro dos Provérbios, Ed. Notícias, 1996