terça-feira, 25 de janeiro de 2022

"PASSAMOS PELAS COISAS SEM AS VER"

 

Passamos Pelas Coisas Sem As Ver


Passamos pelas coisas sem as ver,
gastos, como animais envelhecidos:
se alguém chama por nós não respondemos,
se alguém nos pede amor não estremecemos,
como frutos de sombra sem sabor, 
vamos caindo ao chão, apodrecidos.

© Eugénio de Andrade

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"PASSAMOS PELAS COISAS SEM AS VER"


Autores: Ró Mar e RAADOMINGOS 





I

Tão absortos, tão intelectivos!
Andamos milhas sem ver e reter
os fluidos externos, tão concentrados
na nossa vida e tão desacertados
do que podíamos ser observando!
"Passamos pelas coisas sem as ver."

II

Na verdade há um certo cansaço
quotidiano, tantos desvalidos,
Que nos deixa perplexos como nulos!
Então fechamo-nos mais nos casulos
tornando-nos quase irreconhecíveis,
"gastos, como animais envelhecidos."

III

Lá vamos tecendo o próprio viver,
com pezinhos de lã sempre podemos
tentar sobreviver à 'tempestade'!
Perante esta surreal sociabilidade
e movidos p'la voz de desconfiança,
"se alguém chama por nós não respondemos."

IV

Somos 'bichos do mato' ou 'flores de estufa'!
Não estranhamos porque endoidecemos
com o evidente caos, que invadiu
o habitat, surripiou, influiu
os sentidos de tal maneira que
"se alguém nos pede amor não estremecemos."

V

Pois, tornou-se viral certa distância
e ainda mais com tanta escassez de amor!
Tornámo-nos espiritualistas,
egocêntricos, frios, calculistas!
Acostumámo-nos a este viver
"como frutos de sombra sem sabor."

VI

Crentes de poder vir a desfrutar
dum Planeta são e desprovidos
de certos meios vamos encalhando
num suposto estar amealhando
tempo! Esquecidos, pouco a pouco
"vamos caindo ao chão, apodrecidos."

© Ró Mar 


I

Céleres neste ir que se quer a volta
passamos pelas coisas a correr;
age-se como se o hoje roubasse a hora
como se em debandada fosse embora
e nesta contenda com o relógio
"Passamos pelas coisas sem as ver."

II

Neste tom que não se desacelera
acaba-se por se ficar vencidos
e é pois imperativo um travão
comandado pla respectiva mão
para que a existência não nos rotule
"gastos, como animais envelhecidos."

III

Na roda que rapidamente gira,
parece que parco ou nada aprendemos
o mal do mundo é culpa dos loucos,
o bem interessa a muito poucos...
é como convém a ideia; e por tal
"se alguém chama por nós não respondemos."

IV

Não é boa assim uma relação,
é preciso que nos entendemos;
nada se faz aprumado em obstáculos
a união sem amor e sustentáculos
enrijece e como pedra que fica
"se alguém nos pede amor não estremecemos."

V

Habituados à sua redoma
Tratam emoções por baixo valor;
Não se interessam se há nuvens ou sol,
Se originam ou morrem no arrebol;
Alheios sem causa; sensaborões
"como frutos de sombra sem sabor."

VI

Egocentristas em prol da barriga;
principais em egos enaltecidos
discordam dos demais e só desdizem
enraizando eloquentes o que dizem
atordoam e semi inconscientes
"vamos caindo ao chão, apodrecidos."

© RAADOMINGOS
 

Sonetos do Universo | 01/ 2022