DESAFIO POÉTICO: "ABRIL | AMENDOEIRA"
*
AMENDOEIRA EM VERSO
Primavera chuvosa tem outra vida,
Abril regado, Páscoa abençoada
Pela família, alma alva, renascida,
Mimo da natureza, Flor venturosa.
A timidez do Sol declara paixão,
Que promete ser grandioso amor,
Lê-se nas faces rubras dum coração
De sorriso rasgado, libertador!
Os dias crescem no leito, que cochila
Naquele olhar campestre, níveo-rosa
Desfilando em romaria até à Vila!
Vento frutífero, árvore frondosa,
Celestial, devaneio da pupila,
Amendoeira em verso, maré de prosa!
© Ró Mar
*
EM ABRIL É PRIMAVERA
Em Abril é primavera
Jorram águas p’los montes
É espera noutra espera
Valha-nos Deus quem me dera
Ver uns novos horizontes
Com flores de amendoeira
A lembrar gelo passado
Mas quebrou-se a rotineira
De ver tanta pasmaceira
Ai jesus seja louvado.
Quem cava a terra seus chãos
Vai abaixo, vem acima
Tem na ideia um irmão
Que nem sempre tem razão
Semente que não germina
É como flor tão bravia
Que no agreste se entrega
Gestação fraca e tardia
Que seu caminho arrepia
Ousado e muito brega
Contra o tempo é resistente
Suporta uma mascarilha
Leva tudo no batente
Rasteja como serpente
Vai num barco sem ter quilha
Sempre tão bem perfilado
É um homem indefeso
Vai sentir-se apavorado
Quando cair para o lado
Numa teia fica preso
Nunca se dá por vencido
Faz lembrar um gajeiro
Passa ao lado sem sentido
Mesmo sendo preterido
Julga-se ser o primeiro.
© ARIEH NATSAC
*
© Lúcia Ribeiro
*
SE A PAZ SE FOI EMBORA
Já não sabem onde moram, e já perderam o norte
É tão grande o desnorte, que de vergonha até choram
Entregues à sua sorte
Os meses estão a passar, os anos já vão pesando
De tudo se estão a fartar, já perderam o comando
Para se orientarem
No calendário do tempo, se foi o mês de Abril
Só lhes resta o lamento, que lançam a mais de mil
Nas desfolhadas do vento
Capitães lançaram chamas, num mar de tempestade
Apagaram-se com a idade, e em lágrimas se derramam
Como símbolo da saudade
Se a paz se foi embora, saiu pela porta fora
Procurando novos caminhos, sem saber se a encontram
Pisando tantos espinhos
As casas estão fechadas, e as janelas tristonhas
Amendoeiras estão desfolhadas, parecem coisas medonhas
São verduras assombradas
Filhos se desconhecem, foram levados para longe
Pensam que adormeceram, no silêncio amanhecem
E do país se perderam
Ai como tudo é diferente, até perderam o falar
Andam à toa sem verem gente, para um sorriso lhes dar
Vão vegetando tão lentamente
Que se sentem a delirar.
© ARIEH NATSAC
*
A VIDA
A vida tem pressa.
Nessa sofreguidão sucedem-se abris!
A compasso, desponta impaciente a amendoeira.
Pergunto-me porquê a urgência?
O meu abril longínquo ensinou-me que não há que a precipitar;
O futuro se encarregará de a devolver!
© Rosa A. Domingos
*
CALEM-SE…
Calem-se todos. Menos aves e as fontes
Que soprem os ventos nas florestas
Vejamos límpidos horizontes
Façamos na vida muitas festas
Calem-se as vozes dos algozes
Que atiram palavras como metralha
Levantem-se nas marés cascas de nozes
Afundem-se os vapores da escumalha
Calem-se os cães que usam gravata
No canil onde escolhem osso
Indo procurar ao fundo de muita lata
Quando rosnam põem tudo em alvoroço
Calem-se os arautos da pouca sorte
Da seara seca e sem trigo
Num ondular sem verde que é suporte
Sem voltarmos ao tempo antigo
Calem-se os profetas que sabem tudo
Que a hora vai passando lentamente
Onde os minutos são apenas escudo
Um pano quente
Calem-se os amigos do bolso alheio
Vivendo no mundo em comunhão
Montados num cavalo sem freio
E mais tarde ou cedo vão ao chão
Calem-se os de abril sem ver ABRIL,
Que vivem num mundo estrangulado
Continuam construindo o seu canil
Ladrando num atoleiro amotinado
Calem-se os outros que vão ao fundo
Procurando meios hábeis e subtis
Abrindo cicatrizes no seu mundo
Vincadas nas mazelas sem verniz
Calem-se os diabos e os santos
Leem todos na mesma cartilha
Embora AMENDOEIRAS sejam cantos
Esqueçam o missal e a forquilha
Calem-se Adamastores inda presentes
Façam-se ao mar como Bartolomeu Dias
Neste mar com novas correntes
Acalmar novas tormentas, sem orgias
Calem-se os bruxos e os fariseus
Não queiram dar cabo do que louvo
Não escondam vozes livres entre véus
Com rezas que atrofiem mais o povo
Calem-se os medos e as preguiças
De avançar sem ter destino
Descolem-se as coisas pegadiças
Façamos da atitude nosso hino.
© ARIEH NATSAC
*
ABRIL TEM MIL E UMA FLORES
Abril tem mil e uma flores
E um brilho no luar,
Que acorda Lisboa e arredores
Em cravos multicolores
Daquele perfume impar!
Tem amendoeiras com flores
Rosas e brancas no olhar
E um coração de amores,
Que é delicia de escritores
De pena fina p'ra voar!
© Ró Mar
*
DUAS CORES NOVA HISTÓRIA…
Amendoeira flor branca
De pureza sem igual
De um mês foi alavanca
Do abril em Portugal
Mas foram cravos as flores
Que foram flores do povo
Libertou as suas dores
Num despertar que foi novo
Amendoeiras flores da paz
Num abril, criou raiz
Com a força de ser capaz
De mudar e ser feliz
Gente gritou bem alto
Tirou algemas do medo
Foi neste dia o arauto
Nova história outro enredo.
© ARIEH NATSAC
*
NO MEU PAIS PRESENTE…
Fiz um castelo no ar
Com ameias cor de vento
Cantei versos ao luar
Com estrelas de embalamento
Tive princesas errantes
Tendo as mãos cor de rosa
Seus olhos eram brilhantes
Suas bocas eram prosa
Suspiros de fim de tarde
Na ponta do fim do mundo
Na lonjura que ainda arde
Num terreno que fecundo
Tendo os gemidos na voz
Horas vivas com o cio
Caverna de um tempo algoz
Onde desagua um rio
São pedras que não atiro
Nos meus jogos florais
Reserva como retiro
Que me esconde nos seus ais
Seca meu pranto de neve
Amendoeira que aflora
Pesadelo que nos deve
Deixar ir, e sem demora
A noite faz ponto cruz
Dum novelo feito lua
Carne ardente de luz
Toalha que apazigua
No meu castelo incendeio
A corrente que me agarra
Um abraço onde permeio
A escassez em que se amarra
Minha amiga, minha flor
Terraço onde não caio
Soltei pássaros de dor
Com passos de abril e maio.
© ARIEH NATSAC
*
"ABRIL | AMENDOEIRA"
Autores: ARIEH NATSAC, Lúcia Ribeiro,
Ró Mar e Rosa A. Domingos
*
Sonetos do Universo | Abril de 2022