A mais recente obra do artista urbano Vhils (aka Alexandre Farto) é de fazer chorar as pedras da calçada. A expressão é do próprio, que, em colaboração com os calceteiros da cidade, criou uma expressiva efígie de Amália em calçada portuguesa que arranca do chão e sobe por uma parede, num largo do bairro de Alfama [na rua de São Tomé, frente ao número 31]. Um local onde o fado é, desde tempos imemoriais, cantiga urbana, vadia, de rua, de tascas, do povo, de Lisboa.
__________________________________________________in Expresso
Lisboa antiga
está atulhada de velhas viúvas
solitárias e com cheiro a mofo...
são elas que fazem chorar
as pedras da calçada
a tal calçada portuguesa
que as faz escorregar
e partir os ossos da bacia...
é por isso que as pedras choram...
e os gatos ficam pasmados
e miam pelas ruelas...
não é a chuva
que lacrimeja nos passeios
são as vidas tristes
das velhas mulheres
com velhos sapatos desirmanados
que se deixam ir
pelas pedras lisas que choram...
porque as noites são escuras
e as camas são frias...
e as cataratas
não as deixam vislumbrar
a luz mortiça dos candeeiros...
r.r. . Rosa Ralo