NO JARDIM de “ERA UMA VEZ”
MOTE
No jardim de “Era uma vez,”
Entre um cravo e uma rosa,
Uma paixão fervorosa,
Mista de amor/ timidez,
Se dá às duas por três!
Convencida da razão,
A rosa arrancou do chão,
Para o cravo a não ver mais,
Habitam jardins virtuais,
Por seu destino ou condão!...
GLOSAS
Era um país engraçado,
Onde tinham voz as flores,
Pra falar dos seus amores,
Como o cravo enamorado,
Pela rosa apaixonado,
Eivados de candidez,
Como sã embriaguez,
Felizes como ninguém,
Olhos postos no além,
No jardim de “Era uma vez”!
Foi num sonhado jardim,
Que esta história se passou,
Ou será que alguém sonhou,
Dar à história um outro fim?
Talvez não! Se fosse assim,
Em vez de história amorosa,
Sensível deliciosa,
Seria um caso vulgar,
Sem história para contar,
Entre um cravo e uma rosa!
Mas por ter sido dif’rente,
Diga-se com certo enredo,
Vou dizer: Não é segredo!
Mas não digo a toda a gente,
Podem-me chamar demente,
Ou achar fantasiosa,
Esta história “fabulosa”,
Versando grandes amores,
Entre duas simples flores,
Uma paixão fervorosa!
Com a frescura da idade,
Pétalas vivas, viçosas,
Tinham sonhos cor de rosas,
Sem pensar na tempestade,
Que às vezes o sonho invade,
Com tal força e avidez,
Sem ter razões ou porquês,
Era a paixão inocente!
Era a idade adolescente,
Mista de amor/ timidez…
Nas mil facetas do amor,
O inexplicável se explica,
Num gesto, um olhar que fica,
Num coração sofredor,
Que é das paixões o motor,
Por vezes sem lucidez,
E até com insensatez,
Pois em verdade se diga,
Ao amor ninguém se obriga,
Se dá às duas por três!...
Mas um dia a jardineira,
Vá-se lá saber porquê,
Dali não arredou pé,
Olhando a courela inteira,
E sem pensar, à primeira,
Diga-se sem coração,
Acabou com a paixão,
Da rosa que ainda chora,
Porque a pôs dali pra fora,
Convencida da razão!
O cravo não reparou,
Que a rosa já lá não estava,
Pois nunca o abandonava!
Sem saber que se passou,
Passado tempos pensou,
Qual terá sido a razão,
De quebrar nossa união?
Sem saber que a jardineira,
Essa cruel traiçoeira,
A rosa arrancou do chão!
O cravo sempre risonho,
Quando tinha a rosa ao lado,
Estava agora abandonado,
Com ar pesado e tristonho,
Pensando inda ser um sonho,
Sem pensar noutros sinais,
Ou razões emocionais,
Mas a dona do jardim,
À rosa lhe deu um fim,
Para o cravo a não ver mais!
Para sempre separados,
Conheceram outras flores,
Fazendo novos amores,
Viram-se assim resignados!
Mas muitos anos passados,
Guardam saudades reais,
Dos tempos sensacionais,
Dessa primeira paixão,
Pois agora e desde então,
Habitam jardins virtuais!
Já foram frescas, mimosas,
Nas primaveras floridas,
Hoje murchas, ressequidas,
Das intempéries danosas,
E outras coisas silenciosas,
Que nunca se saberão,
Reza a história pois então,
Que passaram a virtuais,
A rosa e cravo reais,
Por seu destino ou condão!...
© J. M. Cabrita Neves | 01/2022