SAPATOS ALHEIOS
Tentei calçar os teus sapatos, convidando os teus pés para viajarem comigo pelos sonhos que tinha desenhado à medida exacta do meu coração.
Andei por ali, rondando o chão que pisavas. Ofereci-me para curar as feridas que tinhas nos pés. Quis arrancar todos espinhos que a vida te tinha plantado nos pés, julgando-me a enfermeira certa para as tuas dores já envelhecidas e com rugas feitas pelo tempo.
Quis roubar-te do teu mundo para te plantar no meu jardim. Talvez, quem sabe, perfumar-me com o cheiro das tuas rosas e deixar que a cor das minhas ilusões se espalhasse pelo teu corpo sedento de um caloroso amor.
Quis ser o teu amor, sem que tenha entendido que quem caminha neste chão que piso são só os meus pés e que os sonhos que idealizo são frutos das minhas ilusões.
Tentar calçar sapatos alheios é procurar dores em jardins proibidos. É viajar por estradas sem rumo e tentar encontrar a saída para um beco que não nos irá levar a lado nenhum.
Quis-te fazer meu, e acabei com feridas que ninguém poderá curar. Adormeci nos braços desse sonho e despertei no meio de um pesadelo.
Os sonhos tinham sido costurados à medida do meu corpo e tu eras um fato sem medida, que não queria ficar perdido no meio do meu armário.
Plantei dores nessa estrada estreita e vi murcharem todas as flores que aí fui semeando.
Aprendi que não se ama quem escolhemos, mas sim quem nos tocam com tudo o que queremos.
Aprendi que não se calçam sapatos alheios e que o melhor da vida é caminhar descalço no nosso próprio caminho.
© Angela Caboz