terça-feira, 23 de novembro de 2021

OS INDESEJADOS




OS INDESEJADOS


Sem ser desejados um dia nasceram
E além de uns trapinhos cobrindo a nudez,
Abraços, carinhos de ninguém tiveram,
Sorrisos alegres jamais conheceram,
Mas antes maus tratos de vil malvadez!

Sempre de olhar triste esperando o pior,
Na sua inocência, sem compreender,
Donde vinha a raiva que causava a dor
E sem conhecerem a palavra amor,
Talvez pensariam ser normal sofrer!

Cresciam sem berço, sem qualquer ternura,
Aos tombos aos gritos de tudo culpados,
Ficavam confusos na sua candura,
Em que os pensamentos eram de amargura,
Sem saber que haviam outros bem amados!

Magros e franzinos agora na escola,
Não se misturavam com outros colegas,
Que alegres jogavam no recreio à bola,
Ficando nos cantos como quem se isola,
No seu mundo adverso de tristezas megas!

Já com raciocínio sentiam agora,
Ao ver os carinhos de outros pais e mães,
Que na sua casa e a toda a hora,
Se discute e bate em acção castradora,
Como se eles fossem uns vadios cães…

Sentindo a revolta de injustas tareias,
Que se avolumavam num silêncio atroz,
No choro abafado, nas razões alheias,
Nas marcas deixadas por cintos, correias,
Nas súplicas várias de embargada voz!

Assim se moldou a personalidade,
De homens e mulheres e dos seus destinos,
Engrossando a bruta criminalidade,
De abusos, violências e toda a maldade,
Porque maltratados quando eram meninos…

Sem ser desejados com carinho e amor,
Nascem condenados ao total desprezo,
Por irresponsáveis, sem qualquer pudor,
Em deixar que nasça mais um sofredor,
Um indesejado mártir indefeso…

Os pais que assim agem, quem sabe sofreram,
Na pele os maus tratos porque indesejados,
Sentindo a revolta contra os que lhe deram,
A vida e a porrada desde que nasceram,
Vingando-se agora nos pobres coitados!

Os filhos são bênçãos, são raios de luz,
Que os lares inundam de imensa alegria,
Não devem ser fardos, muito menos cruz,
Se há um ser humano que se reproduz,
Deve ser em festa que tal se anuncia!

É um bebé que chega, frágil, inocente,
Precisa leitinho, papas e ternura,
Precisa cuidados, amor permanente,
Do pai e da mãe e de toda a gente,
Mas nunca ser alvo de qualquer tortura!...

É portanto urgente melhorar o mundo,
Educar o povo inda mal formado,
Dando à violência sempre um não rotundo,
Ensinar o amor do coração oriundo,
Mostrando o calor de um abraço apertado!...

© J. M. Cabrita Neves | 11/ 2021