I
Vindimou-se o fruto pelo verão,
Sabe bem p'lo frio a sua pinguinha.
Acompanha a bela da castanhinha
Pois não se serve o vinho com o pão!
P'la boquinha dum espinhoso ouriço
Três lindas sementinhas espreitam
Ainda não sabem nem o suspeitam
A exigência a uma vida de submisso!
Não escapam ao fogo do fogão,
Nem do fogareiro do vendedor
E como o gosto de o ver vermelhão!
Assa-as que é verdadeiro primor;
Quentinhas como manda a tradição,
Ou não fosse ele um exímio assador!
© RAADOMINGOS
*
II
"Ou não fosse ele um exímio assador"
Do fruto cobiçado "Quentes e boas"!
Ah, quentinhas é que elas nos dão amor
E pelo desfolhar do outono loas!
Neste ano atípico, se houver prodígio
É um milagre dalgum cavaleiro
Perdido no tempo dalgum prestigio,
Algures chove e que chova o ano inteiro!
Refastelados de pinga e com elas
dublam santos p'lo inverno de incertezas,
Que s' espreita e esquecemos as mazelas!
Ah, o bem que fazia às couves portuguesas
O presunto e o chouriço às rodelas,
Se não fosse a castanha a fazer mesas!
© Ró Mar
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III
"Se não fosse a castanha a fazer mesas"
E vendas, muitos não se lembrariam
Que São Martinho anda p'las redondezas
E é dia p'ra que festejem e riam!
Haja alegria, brindemos com boa pinga,
Vinho novo, água pé ou jeropiga,
À lenda milagrosa, que respinga
E traz à memória tradição amiga!
Se chover estamos cá p'ra agradecer,
Mas, como os outros anos, é verão,
Aproveite-se o Sol antes de anoitecer!
Sempre com companhia e com afeição!
Haja saúde, fé e amor por todo o ser,
Que tudo acabará na perfeição!
© Ró Mar
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Autores:
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Sonetos do Universo | 11/ 11/2021