sábado, 19 de julho de 2014

O CANTO DAS ABRÓTEGAS


O CANTO DAS ABRÓTEGAS 


Saiu um dia para a caça a diva Artemis 
Cuja alta beleza Afrodite cobiçava 
E já quando o dourado sol se levantava 
Seu destino cruzou com o charme de Adónis. 

Os apolíneos raios seu corpo enfeitaram 
E o belo Adónis logo ali se apaixonou 
Por quem desde criança sempre o enamorou 
E então os dois um prazer louco iniciaram. 

Mas eis que, de repente, surge um bravo cerdo 
E, enquanto Artemis o seu arco preparou, 
Do esbelto Adónis seu jovem corpo afrontou 
Arrancando-lhe a vida em menos de um credo. 

A loira Artemis os cabelos arrancando 
Intercedeu a Lete que a viesse socorrer 
E que fizesse o seu Adónis reviver 
Ficando a diva para sempre ali chorando. 

As lágrimas do Céu regaram o fresco vale 
De tal jeito que o próprio Adónis reviveu 
E no alvo corpo daquelas flores renasceu 
A abrótega-princesa, em canção de madrigal. 

Até que um dia, noite de breu e de luar, 
Ali passou a rancorosa Prosérpina 
Que em dois tempos incendiou toda a colina 
Que fez do bosque a formusura terminar. 

- Ó insidiosa Prosérpina, o que fizeste? 
Quem tão grande desgraça a ti te permitiu? 
Jurarei a Deméter, que sempre me ouviu, 
Que voltes para o Tártaro, donde vieste. 

E eu, Artemis, em cada ano tentarei 
Que tragam estas flores a vida à Primavera 
P´ la memória de Adónis que me retempera 
Em poética balada que nunca esquecerei! 

Frassino Machado 

In CANÇÃO DA TERRA