sexta-feira, 19 de abril de 2019

LENDA DO PÃO-DE-LÓ




LENDAS POÉTICAS DA PÁSCOA  


“O4 – LENDA DO PÃO-DE-LÓ”


- Coitadinho daquele Maneta,
Derreado que mete dó!
Exclamou dona Leonoreta,
A ilustre senhora do pão-de-ló.

Depois de vencido em Vizela
O Loison, temendo o Moreira,
Andou fugido de terra em terra
Um pouco sem eira nem beira.

Acompanhado de dois magalas
Foi dormir encostado à ermida,
E ao São Bento deu duas falas
Para que lhe salvasse a vida.

O bom Santo o aconselhou,
Naquela santa sexta-feira,
A perdoar a quem não perdoou
Em primeiro lugar ao Moreira.

- Vai-te prestes daqui embora,
Vai, põe-te a caminho lampeiro
E daqui a cerca duma hora
Estarás à porta do Mosteiro!

E assim lá escapou o Maneta
Não voltando a fazer mais guerra.
Com os seus pôs-se na alheta
Para sossego dos da terra. 

E chegou Loison a Pombeiro
Os frades abriram-lhe o portão
Mas exigiram-lhe, ali, primeiro
Que pedissem ao povo perdão.

- Hoje é Sexta-Feira-Santa
E vais carregar um madeiro
E, antes que alguém pinte a manta,
Darás uma volta a Pombeiro.

O Loison partiu cheio de dor
Com lágrimas e a falar só
E à porta da tia Leonor
Rogou uma fatia de pão-de-ló.

Leonor do Maneta teve pena
Perdoou-lhe o mal com bom modo
E pro consolar da quarentena
Deu-lhe a fatia e o bolo todo.

- Mas… é com uma condição,
E esta é a minha esperança,
Vais fazer a divulgação
Por todas as terras de França!

- Dirás, cada dia, por todo o lado
Que, em qualquer que seja a lide,
O melhor é comer um bocado
De pão-de-ló de Margaride! 

E assim foi, e assim se fez,
De uma forma tão natural,
P´ la fama que lhe deu o francês
Em cada Páscoa há festival.

Foi-se o Maneta, que era demónio,
E ficou pra sempre, tradicional,
O maior doce-património
Que tem marca de Portugal.

Nos dias de hoje ainda se diz
Do pão-de-ló, e não é treta,
Quem o come, desabafa feliz:
- E vai todo para o Maneta!

Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS