Ciclos
Há dias que amanhecem sem canários
cantando nas paineiras já sem flores,
nos arvoredos secos e sem cores,
com galhos retorcidos, tantos, vários.
Os campos vestem hoje véus, sudários
que encobrem os sinais devastadores
do estio. E em todo canto que tu fores
verás que os tons são tristes, cinerários.
Há tempos mais severos, mais mesquinhos,
que deixam nas paineiras só espinhos,
e tudo que era encanto se amortalha.
Mas logo essa tristeza em si se amaina
quando flutua ao vento a leve paina
e cai na relva seca e ali se espalha.