domingo, 24 de agosto de 2014

HUMANAS ÁRVORES


HUMANAS ÁRVORES


Deixe que me apresente! Meu nome é Lalá! Sou estudiosa, geniosa, inteligente, amiga e amo brincar! Tenho um amigo... amigo de verdade que me defende, cuida de mim e faz-me feliz! Esse amigo se chama Pedrinho. Ele gosta muito de jogar Vídeo game e tem muitos amiguinhos! Um dia desses encilhamos os cavalos e saímos a cavalgar pelo sítio do meu pai, galopando pelas estradas, recebendo o carinho do vento e respirando cheiro de mato até chegarmos ao pé de uma enorme colina coberta pela mão prendada de Dona Flora! Apeamos e nos dirigimos para a sombra de uma gigantesca árvore. Era uma árvore centenária e, apesar das intempéries, muito verde e viçosa! Ficava ali ao pé da colina... Um arco de pedra que fora construído pela sabedoria do construtor do universo enfeitava aquela magnífica árvore. Aquele arco era, sem dúvidas, uma obra prima da mãe Natureza! Não era uma caverna, apenas um arco de pedras ornando aquela enorme maravilha. Via-se o tronco ao fundo. Pedrinho e eu encontramos esse tesouro e nos encantamos. Hipnotizados pela admiração, sentamos na grama verde, à sombra daquela lindeza e ficamos a observar e sonhar! Foram poucos segundos, pois criança não fica muito tempo quieta. Vi Pedrinho dirigindo-se para o arco de pedras e estendendo a mão em direção ao tronco da árvore que se abriu e o engoliu num relance! Apavorada joguei as tranças numa corrida louca atrás do amigo e vi-me num lugar inexplicável ao entendimento humano. Pedrinho estava ali com olhos esbugalhados e os meus quase saltaram das órbitas também! Nunca, por mais que eu viva, esquecerei aquele momento! Palavras não definirão, por isso, caro leitor, peço-te que sua imaginação aflore em fantástica criação, para o inexplicável, o jamais imaginado, enfim, a própria fantasia em cena! Vimo-nos entre o apoteótico e a incredulidade diante de um rio... Um rio que nascia da árvore, corria por alguns metros e subia em forma de véu! Uma estonteante e brilhante cachoeira toda salpicada de gotas de diamantes e fios de sol que, ao invés de cair, subia e não parava de subir... Perdia-se de vista no infinito e pudemos ver os anjos brincando na água lá em cima. Entendemos que a cachoeira levava o néctar da vida da mãe terra para o pai céu e seus divinos! Não conseguíamos acreditar e acreditando... ríamos... Um riso desconcertante e colorido pelos pincéis da emoção! Os olhares estenderam-se para os lados da cachoeira e nos deparamos com um espelho enorme de cara feia que nos chamava para si. Chegamos receosos, bem devagarinho, olhando-nos com medo, mas ao chegar pertinho do espelho tudo mudou. Nossa imagem se refletiu nele, enorme. Gigantes, sim, éramos gigantes e passamos pelo espelho como quem passa por uma porta qualquer! Dentro dele vimos a maravilha das maravilhas... As pessoas eram gigantes como nós e eram árvores. Não está acreditando, não é? Pois é isso mesmo! Eram árvores e as árvores eram pessoas... E nós... Viramos árvores também. O pior que lá vinha uma “Pessoa Árvore” para nos cortar e fazer lenha... Como correr? Não dava porque ficamos plantados sem sair do lugar sentindo a morte chegando no fio daquela moto serra destruidora! Pessoas árvores estavam devolvendo aos humanos tudo o que de mal fizeram a elas... Foi um sufoco, mas pensamos rápido e pedimos um alto falante para falarmos a todas as árvores que naquele momento eram as pessoas! Pedrinho falou de maneira emocionada e seu grito fez-se ouvir até nas Terras do Sem Fim - Humanos... Até quando no seio desta terra gestará a intimidade com a beleza, suportando em suas entranhas a mão do homem remexendo com fúria, sem respeito à natureza? Até quando reinará essa imobilidade, essa economia de ação, sem olhar o infinito, essa inércia diante do belo, essa gagueira em exprimir a preservação do que é infinitamente bonito? Até quando permanecerá essa comunhão com os sons de uma fauna em extinção? Em quanto tempo nos depararemos, diante da angústia de uma flora devastada em sua natural composição? O até quando é agora e para não nos refletirmos em olhares sem curiosidade e sem memória, busquemos o equilíbrio com as armas da coragem para vivermos o intrínseco momento com alma e mente sã e possamos dizer que nossos filhos terão amanhã... – Foi um discurso emocionado e muitas pessoas sentiram os olhos marejados... Na verdade, não conseguiam nem secar as próprias lágrimas pela condição em que se encontravam. Os aplausos soaram e a alegria voltou, mas nos fizeram prometer que não mais se cortaria uma árvore sequer, reflorestaríamos sempre e a fumaça, juntamente com a poluição de qualquer forma, seria eliminada do planeta! Foi aí que o fantástico aconteceu! Em meio àquele mundo encantado e assombroso ao mesmo tempo, uma nuvem branca desceu levemente, envolveu todo aquele lugar e ao som do coro dos anjos subiu levando tudo, deixando-nos incrédulos e extasiados ao lado de nossos cavalos que nos levaram para casa! Chegamos em silêncio, tentando absorver o surreal, real!

Elair Cabral