sábado, 30 de agosto de 2014

JOSÉ - O SEM ABRIGO


JOSÉ - O SEM ABRIGO


Tu José vagueias por entre uma multidão.
Sei que nas ruas sentes o peso da solidão
Perdido tu vagueias envolto em desgraça
Implorando esmola... a quem por ti passa.

Até a tua própria identidade a perdeste.
Se perguntar teu sobrenome...esqueceste.
Teus dados se foram perdendo lentamente
Agora.. chamas-te Jose, José simplesmente.

Finalmente hoje vai ser um dia diferente.
Toda a praça irá ficar repleta de gente.
Hoje... é o dia dos sem abrigo em Portugal.
Para todos vai ser um dia muito especial.

Hoje... a caridade é rainha por uma hora.
Muitos sem abrigo se juntarão sem demora.
Já se vê muita agitação. A festa vai começar.
Todos querem chegar às mesas em 1º lugar.

Pisam-se... e atropelam-se sem cuidados.
Não admira... eles estão todos esfomeados.
José está feliz. Até esqueceu sua condição.
Hoje... não vai ser preciso estender a mão.

A noite chegou. Esfriou, e a festa acabou.
Muito comeram muito beberam, nada sobrou.
Embevecido José não quer do sonho acordar.
Procura então a chave da porta para entrar.

Mas não existe.. só paredes para se encostar.
Mais uma noite ao relento... fica a meditar. 
Olha o firmamento vê as estrelas a cintilar.
Nunca prestara atenção, nem as sabia apreciar.

Está feliz, de noite tem o céu para contemplar
De dia... tem os passeios da rua para passear.
E diz : - sem amarras, que homem livre eu sou
Dentro de mim há uma alma que ainda não secou.

Aurora M. F. C. Martins Afonso