O SILÊNCIO DA LAPINHA
Um dia, após o nascimento do Salvador,
Caiu sobre a Lapinha um silêncio e um temor.
José sonhou que o mais tirano dos tiranos
Mataria as crianças menores de dois anos.
Espalharam o boato em toda a redondeza
Que viria o Herodes co´ a sua malvadeza.
Secaram as palavras nos progenitores
E o mesmo aconteceu na alma dos pastores.
Apenas um rugir dos carentes animais
E lá fora, na noite, o uivo dos chacais.
Houve troca de olhares em almas sem rebuços
Deixando revelar somente alguns soluços.
- “Que faremos sem paz, sem água e alimento?”
Segredaram os dois bloqueados em sofrimento.
- “Vamos fazer as trouxas, vamo-nos salvar
E partir muito antes de a aurora raiar”.
- “Temos cá um jumento e uma velha carroça
E venceremos a distância que é bem grossa".
E foi assim que se salvou, sem mais quezília,
Aquela que Deus fez como Sagrada Família.
Desta forma em silêncio foi José, aflito,
Levar Maria e o Menino até ao Egipto.
E por toda a Judeia o que é que aconteceu?
Chispou a fúria do Tirano debaixo do céu:
Milhares de criancinhas quebraram o silêncio
Bradando aos quatro ventos o seu grito imenso.
O silêncio salvou, o silêncio matou
E a Tirania, essa, aos poucos soçobrou.
Mas tudo o que é silêncio ademais denuncia
Que a distância entre o Mal e o Bem é fantasia…
O silêncio de agora é, porém, mais profundo
Pois que o Mal, em si mesmo, é que reina no mundo.
E não há uma palavra apenas que o trave
Neste mar de procela cada vez mais grave.
O ruído do mundo, volteando em Babel,
Assumira na Lapinha um silêncio de fel…
O silêncio eficaz que sempre se alcança,
Resulta duma fé, resulta duma esperança.
A luz desta Lapinha irradiou, num só verso,
O salvífico sonho de todo o Universo!
© Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA