VAI EMBORA ANO VELHO
Vai-te embora ano velho
Não me deixaste saudades
Só devastação e morte
Do teu dorso obtivemos.
Vai-te embora ano velho
Ainda tenho sonhos guardados
Bem no fundo do coração,
Sonhos jamais renovados.
Vou dizer-te adeus ano velho
Sem de ti sentir saudades,
Vai num adeus sem retorno
Vai para não voltares.
Na minh' alma ficará tatuado
Lembranças que vou guardar
E outras pequenas coisas recordar,
Que ficarão como legado.
A dor que senti no teu regaço,
Será mais uma condição
P'ra te banir do meu coração
Depois de tanta devastação.
Se sentirei saudades, conheço a razão.
De todas as conversas e risos deitados ao vento,
De alguns momentos que passamos
Durante uma bela estação.
Guardo o sabor do beijo na memória.
No Inverno cinza, a despedida, último adeus,
Como se te foras sem deixar-me uma esperança
De reviver o carinho dos lábios seus.
Vai embora ano velho
Relembrarei com avidez
O som ensurdecedor da dor
Tudo registei com lucidez.
Contigo chorei, dancei, sofri a despedida,
Na vespertina de cada noite...
Tudo senti, traços de alegria, sementes de dor,
No sol frágil do teu inverno, pintei a minha vida.
Vai sem demora, está a chegar lentamente,
O toque da tua derradeira hora,
Vai sem olhar para traz,
P'ra que o novo nos traga uma aurora de paz.
© Naná Gonçalves Ferreira