quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

PASSOS DADOS EM LISBOA…


Fotografia de Ró Mar 


PASSOS DADOS EM LISBOA…


Calmamente passeio por Lisboa
Entretenho-me a ver montras, lazer,
À luz da claridade que abençoa
A gente que ali passa a condizer

Um carro que acelera e vai roncando
Vai gastando os pneus só para ganhar
A vida que é bem dura e vai levando
A esp’rança na bagagem sem falar

A pressa contamina a demora
E o tempo passa mesmo ali ao lado
No relógio que certo, marca a hora
De encontro mal marcado no Chiado

Pensamento refila sem razão
Que as ruas estão cheias de gente
Que vão fazendo ao longo um corrimão
Olhando em desvario tão somente

Vai passando morena sedutora
Leva um sorriso e ar reconfortado
Braço dado com passo de ir embora
Com curvas de um sentido assinalado

São as ruas da minha tolerância
Com o cheiro a suor e mais fragrância
Marco passo apressado desde infância
No desfile ritmado em concordância

De pombo sem pombal que nos dejeta
Humildemente e já nem sequer liga
No alto de uma estátua sempre alerta
Mas seu arrulho vai numa cantiga

Juntos com as gaivotas cruzam ares
Enfeitando os telhados da cidade
Fazendo um ritual com seus dançares
Desfilam demonstrando liberdade

E quem apanha chuva vai passando
Molhado vai beber loira cerveja
Enquanto gente lesta vai saltando
Procurando um alpendre que a proteja

Chapéus de chuva, pingos os esgrimem
Com passos dados bem determinados
Passam lagos ou poças sem fugirem
Ficam sapatos finos encharcados

Foram passos em dias que passei
Ao longo de uma vida que passou
Enormes as barreiras que saltei
Nesse tempo tão rico que me honrou

À noite refinava-se um contar
A lembrança de um tenso vai e vem
‘scutado sobre acordes do seu mar
Quer impor seus galões como ninguém

Cansado vou voando nos meus versos
Em rima de saudade e sintonia
Sempre simples ousados mesmo adversos
Expostos com loucura em cada dia

Mas nada é composto sem empenho
Nada vale o valor sem cabimento
Muitas ruas, passeios, inda tenho
E o cheiro que transpiro é do sustento

Tantos passos perdidos que deixei
Tantas pedras polidas na calçada
Foram anos costumes que apanhei
Fortes laços de vida assinalada.

© ARIEH NATSAC