....Vós, Águas, dai a sua plenitude
Ao remédio,
A fim de que seja uma couraça para
O meu corpo,
Que assim eu veja por muito tempo
O sol!
...Vós Águas levai daqui isto,
Este pecado, qualquer que ele seja que eu cometi,
Esta injustiça que fiz, a quem quer que seja,
Este falso juramento que proferi!"
A muitos quilómetros dali, na ribeirinha Portuense o bar Saara, encontra-se cheio aquela hora do dia.
Luana e Nuno Carlos encontraram um cantinho onde se sentaram nas almofadas marroquinas, absorvendo o aroma do Arguile.
A barriga de Luana, proeminente anuncia a vinda da filha que tanto anseiam.
...........
Uma bola de fogo incandescente agigantava-se de forma insofismável.
Instintivamente baixaram-se e Nuno tentou proteger Luana com o seu corpo.
A bola de fogo explodiu, caindo milhões de pedaços fumegantes sobre a humanidade que se encontrava de olhos postos no céu.
A explosão de fogo deu lugar a uma estranha aurora boreal que cobriu todo o espaço visível.
Nuno observou como o metro ficava estático, mesmo a meio da ponte D. Luís.
...............
Luana levantou-se devagarinho, mas a dor que sentiu foi tão forte que a obrigou a voltar à posição anterior.
........…....
Luana retorceu o rosto ao receber outra contracção.
Levou a mão ao fundo da barriga, numa tentativa de aplacar a dor...
...........
Nuno pegou em Luana ao colo e gritou no meio da multidão:
-Deixem passar, tenho uma grávida em trabalho de parto!
............
Tocou à campainha, insistentemente.
Uma idosa senhora veio abrir a porta e olhou boquiaberta para o casal que ali se deparava.
-O Félix está? - Perguntou Nuno sem demora.
-Não... O meu filho está de serviço no hospital... - começou a idosa senhora.
-Deixe-nos passar, por favor!- Interrompeu-a Nuno desesperado.- Somos amigos do Felix, e a minha esposa precisa de... usar a sua banheira!!!! Podemos???? -Perguntou Nuno aflito.
..................
Nuno encheu a banheira de água a uma temperatura de 37°c.
Quando o Saturniano acabou de despir Luana, ajudou-a a entrar na banheira.
Olhou-a sedutoramente, tentando amenizar o ambiente, embora estivesse tenso.
-Não me olhes assim!-Pediu ela sorrindo, ainda que por breves segundos.
-Não te preocupes meu amor, vai correr tudo bem, eu estou aqui! - Murmurou-lhe ao ouvido, beijando-a docemente.
A água tingiu-se de vermelho, ao primeiro contacto com o corpo de Luana.
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De seguida despiu-se e introduziu-se na banheira ao lado da mulher que amava.
Iria ajudá-la a ter aquela criança... A sua filha Neia.
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O rosto da jovem estava branco em desapego total.
O que Nuno vislumbrou a seguir toldou-lhe a visão abominável.
Neia queria nascer numa posição invertida.
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- Não! Luana não deixes de lutar! Olha para mim! - Berrou fora de si.
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Luana deu um grito lancinante.
Neia saiu para a água envolta num banho de sangue.
Roxa era a cor que trazia consigo, mensageira do seu estado.
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O olhar parado de Luana deu a Nuno a certeza de que estava prestes a perdê-la... A sensação de ouvir uma música triste atingiu Nuno como uma força cósmica invisível, formando o absinto acanalhado da situação que se afigurava.
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Nuno abraçou-a e sentiu-a fria como o gelo...
Áurea Justo
In Nirvana