Que o dinheiro, de mim. Só quer distância…
A SORTE
Se a sorte me ocorresse qualquer dia,
Muito pouco provável, aliás,
Pois que só me acontecem coisas más…
Fico a imaginar como seria,
Saber que me saiu a lotaria,
Ou ainda melhor, o euro milhões !
Arrastando consigo as soluções,
Para os sonhos que a gente idealiza
E nunca, a vida toda, concretiza,
A trabalhar prós outros, os patrões!
Fecho os olhos e faço esta viagem,
Embarcando no sonho da riqueza!
Pensando eliminar toda a pobreza,
Já que tinha o dinheiro e a coragem,
Essa intenção não era mais miragem!
Criava ocupação para a infância,
Com desportos de inteira relevância,
Bibliotecas e espaços de lazer,
Para ocupar o tempo e aprender,
Que a ociosidade é ignorância…
Vou mandar construir por todo o lado,
Lares com o conforto e a dignidade,
Que tragam alegria e felicidade,
A quem merece ser recompensado,
Por ter a vida inteira trabalhado,
A contar dia-a-dia os tostões
E a engolir as reles agressões,
Duma sociedade mal formada,
Onde era a liberdade sonegada,
Ficando atravessadas as razões…
Mas agora que a mente me desperta,
Tudo se desmorona à minha volta!
Toda a raiva e tristeza em mim se solta,
Numa constatação que desconcerta
E me faz acordar, ficar alerta,
Quando estava a sentir uma fragância,
Saída da suposta importância!...
Com boas intenções enfim me fico,
A sorte só bafeja quem é rico…
Que o dinheiro, de mim, só quer distância!...
José Manuel Cabrita Neves