sexta-feira, 6 de março de 2020

O CÂNTICO DE S. FRANCISCO




O CÂNTICO DE S. FRANCISCO  


Deus – Maestro sublime do Universo,
Criador Omnipotente da Natureza
Em cujo seio carece, num só verso,
Um engenho capaz de tal grandeza!

Trovadores e jograis experimentaram,
Com as liras, cantares e destreza,
O mundo em Paraíso transformar
E não mais conseguiram que deixar
Após si as misérias que aumentaram!

Mas eis que surge na hora mais suprema
Na pátria de Virgílio que, enevoado,
Se transformou perante tal bravura,
O mor dos cavaleiros que por lema
Rasgou na terra, em sulco bem vincado,
Santa Alegria em toda a criatura.

Foi ele São Francisco – o Poverelo –
O maior dos maiores trovadores,
O maior dos maiores tangedores
Na harpa da Natureza e do Belo!

O Arauto de Deus, o suave cantor
Que com as avezinhas, suas irmãs,
Se enamorou dos bosques e das fontes
Cantando em testemunho do vero Amor

Da sua alma, todas as manhãs,
Se emanava, em novos horizontes,
Um hino de pureza ao Criador:
Com as belas andorinhas ele cantava,
Ao lobo, seu irmão, ele segredava
Um hino de doçura em melodia.

Rezava a cantar, cantava orando...
Ele exultava, cantava e ria,
Quando nas ruas sofria caminhando.

O Seráfico Pai não era mestre
E nem compositor de alta fama
Mas o seu coração lhe ardia em chama
E lhe ditava um Cântico celeste...

Às vezes inebriado, ao pôr-do-sol,
Ia escutar o ténue ribeirinho,
Que serpenteava a cantar mansinho,
Desafiando o nocturno rouxinol.
Notando que, ele próprio, lacrimante,
Murmurava uma prece a cada passo...
Então o Assisiense Menestrel
Retribuía um hino apaixonante
Àquele que o encerrara em seu burel.

Ele cantava com o próprio vento,
Ele aspirava a brisa docemente,
Ele amava cantando para os seus...
E os seus esqueciam seu tormento
Adormecendo a cantar eternamente
Um hino novo na mansão de Deus!

© Frassino Machado
In NOVO MONTE ALVERNE