TROVAS À SENHORA DO PRANTO
“Em tempo de virulência”
Senhora do Pranto bendita
Neste País sempre louvada
Em tão dura e triste jornada
Oh, livrai-nos desta desdita.
Não há terra de norte a sul
Que não esteja desesperada
Dai-nos a protecção sagrada
Debaixo deste céu azul.
As mães e os pais de Portugal
Multiplicam a sua novena;
Nossos filhos em quarentena
Sentem-se em desnorte total.
Qu´ o vosso Pranto derramado
Faça o vírus de cá sair
E não nos deixeis sucumbir
No nosso sofrer agravado.
Não queremos estar em segredo,
E que o saibam os governantes,
Que este povo, agora como dantes,
Não se deixa vencer p´ lo medo.
É difícil conter esta dor
Mas nosso povo não é louco:
Se os recursos souberem a pouco
Gritará co´ uma força maior.
Tocai-lhes, Senhora, o coração,
Vós que sois a Mãe dos encantos,
Que tirem de nós estes prantos
E que a ninguém falte bom pão.
Senhora do Pranto e da água
Dai à nossa vida tempero,
Tirai-nos da alma o desespero
E matai-nos a sede e a mágoa.
E se não é pedir demais
Fazei que não falte a justiça
Que anda por cá enfermiça
E carece de bons maiorais.
Que protecção haja pra todos
E que ninguém tenha receios
D´ haver a cada hora mais meios
Com mais eficácia e bons modos.
Não falo já em cidadania,
Que sabeis o qu´ a casa gasta,
Perdoai-nos esta falta nefasta
E curai-nos desta anemia.
Não deixeis secar a corrente
Deste Vosso Pranto bondoso
E que ele arraste o “malicioso”
Para muito longe da gente.
Senhora do Pranto jucundo,
Sede farol e guia de luz,
Em nosso nome, pedi a Jesus
Que salve do Mal este mundo.
Cumpriremos a penitência,
P´ lo teu gesto acompanhados,
Oxalá fiquemos aliviados
Deste tempo de virulência.
Que esta pandemia tramada
Se afaste para sempre de nós;
Ouvi, por bem, a nossa voz
Mesmo que ela fique cansada…
No seio do Vosso regaço
Acolhei-nos, Senhora do Pranto,
Sede nossa âncora e acalanto
E acarinhai-nos num abraço!
© Frassino Machado
In ODISSEIA DA ALMA